Outro vírus de macacos pode estar prestes a se espalhar entre humanos

De acordo com uma nova pesquisa da Universidade do Colorado em Boulder, uma família obscura de vírus, que já é endêmica em primatas selvagens africanos, conhecida por causar sintomas fatais semelhantes ao Ebola em alguns macacos, está “prestes a se espalhar” para humanos.

O estudo foi publicado nesta sexta-feira (30) na revista Cell. Embora esses arterivírus já sejam considerados uma ameaça crítica para macacos, nenhuma infecção humana foi relatada até o momento. E, por enquanto, é incerto que impacto o vírus teria nas pessoas caso saltasse espécies.

No entanto, os autores do artigo estão pedindo vigilância, evocando paralelos com o vírus HIV (cujo precursor se originou em macacos africanos). Segundo os pesquisadores, ao observar arterivírus agora, tanto em animais quanto em humanos, a comunidade global de saúde poderia evitar outra pandemia.

Ao redor do mundo, existem milhares de vírus diferentes circulando entre animais, com a maioria deles não causando sintoma algum. Mas, nas últimas décadas, cada vez mais deles conseguiu completar o salto para seres humanos.

Como nossos sistemas imunológicos não possuem experiência em combatê-los, estes vírus causam estragos, causando condições como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) em 2012, o coronavírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV) em 2003 e SARS-CoV-2 (o vírus que causa a COVID-19) em 2020.

“Este vírus animal descobriu como obter acesso a células humanas, multiplicar-se e escapar de alguns dos importantes mecanismos imunológicos que esperaríamos para nos proteger de um vírus animal. Isso é muito raro”, disse a autora sênior Sara Sawyer, professora de Biologia Molecular, Celular e do Desenvolvimento da Universidade do Colorado. “Devemos estar atentos a isso.”

Há 15 anos, o laboratório de Sawyer usa técnicas de laboratório e amostras de tecidos de animais selvagens de todo o mundo para explorar quais vírus animais podem ser propensos a passar para humanos.

Neste estudo recente, publicado esta semana, ela e o primeiro autor Cody Warren, então pós-doutorando no BioFrontiers Institute, se concentraram nos arterivírus, que são comuns entre porcos e cavalos, mas pouco estudados entre primatas não humanos. Eles analisaram especificamente o vírus da febre hemorrágica símia (SHFV), que causa uma doença letal semelhante à doença do vírus Ebola e causou surtos mortais em colônias de macacos em cativeiro que remontam à década de 1960.

O estudo demonstra que uma molécula, ou receptor, chamada CD163, desempenha um papel fundamental na biologia dos arterivírus símios, permitindo que o vírus invada e cause infecção de células-alvo. Por meio de uma série de experimentos de laboratório, os pesquisadores descobriram, para sua surpresa, que o vírus também era notavelmente hábil em se apegar à versão humana do CD163, entrando nas células humanas e fazendo cópias de si mesmo rapidamente.

Do mesmo modo que o vírus da imunodeficiência humana (HIV) e seu precursor, o vírus da imunodeficiência símia (SIV), os arterivírus símios também parecem atacar as células imunes, desativando os principais mecanismos de defesa e mantendo-se no corpo a longo prazo.

“As semelhanças são profundas entre este vírus e os vírus símios que deram origem à pandemia de HIV”, disse Warren, agora professor assistente na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Estadual de Ohio.

Os autores destacam que outra pandemia mundial não é iminente, e que as pessoas não precisam ficar alarmadas com a descoberta. No entanto, eles sugerem que a comunidade global de saúde priorize um estudo mais aprofundado de arterivírus símios, desenvolva testes de anticorpos no sangue para eles e considere a vigilância de populações humanas com contato próximo com portadores de animais.

Uma grande quantia de macacos africanos já carrega altas doses virais de diversos arterivirus, muitas vezes sem apresentar sintomas. Isto inclui algumas espécies que interagem com humanos com frequência, e são conhecidos por morder e arranhar as pessoas.

“Só porque ainda não diagnosticamos uma infecção por arterivírus humano não significa que nenhum humano tenha sido exposto. Não estamos procurando”, disse Warren. Ele e Sawyer também alertaram que, até os anos 1970, ninguém havia ouvido falar sobre HIV.

Os pesquisadores agora sabem que o HIV provavelmente se originou de SIVs infectando primatas não humanos na África, provavelmente saltando para humanos em algum momento no início de 1900. Quando o vírus começou a matar pessoas nos Estados Unidos dos anos 1980, não havia teste de sorologia nem tratamentos em desenvolvimento.

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“O COVID é apenas o mais recente de uma longa série de eventos de repercussão de animais para humanos, alguns dos quais explodiram em catástrofes globais”, disse Sawyer. “Nossa esperança é que, ao aumentar a conscientização sobre os vírus pelos quais devemos estar atentos, possamos nos antecipar a isso para que, se infecções humanas começarem a ocorrer, possamos lidar com isso rapidamente”.

Sawyer disse que não há garantia de que esses vírus pulem de macacos para os humanos. Mas destaca que uma coisa é certa: mais vírus saltarão para os humanos e causarão doenças.

Via Medical Xpress

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