Cansado do quê? Como trabalhos que exigem concentração afetam seu cérebro

Quem já ouviu a expressão “mas você está cansado do quê?” após ter trabalhado o dia todo, mesmo que sentado, agora terá na ciência uma forma de comprovar seu esgotamento. É comum alguns acreditarem que trabalhos onde a parte física não é envolvida na atividade, como pessoas que trabalham sentadas em frente ao computador, não causam exaustão, porém, um estudo realizado pelo Paris Brain Institute (ICM) descobriu que dias de trabalho intenso e que exigem alta concentração formam uma reação química no cérebro que justifica a chamada fadiga mental e comprova que seus efeitos são reais. 

Divulgada pela Science Alert, a pesquisa escaneou o cérebro de 40 pessoas durante um dia de trabalho e considerou funções cognitivas como foco, memória, a capacidade da multitarefa e resolução de problemas. Dois grupos foram formados e eles trabalharam por seis horas e meia; um precisou lidar com tarefas difíceis que exigiam sua memória de trabalho e atenção constante. 

O resultado identificou atividades anormais em alguns pontos específicos no cérebro daqueles que desenvolveram atividades mais difíceis, principalmente no fim do dia, e constatou que a concentração intensa e constante pode levar ao acúmulo de um produto químico potencialmente tóxico chamado glutamato. A substância é responsável por enviar sinais às células nervosas, no entanto, em excesso altera o desempenho de uma região do cérebro envolvida no planejamento e na tomada de decisões, o córtex pré-frontal lateral (lPFC). 

Fizkes/Shutterstock

A análise significa que decisões podem ser influenciadas por esse tipo de reação – no caso de juízes, por exemplo, a fadiga mental que se forma pode levá-lo a tomar uma decisão judicial impulsiva e menos segura devido ao cansaço. O estudo averiguou também que, no caso de médicos, pesquisas já mostraram que eles são mais propensos a prescrever antibióticos desnecessários ao final de uma sessão clínica cansativa. 

O grupo de cientistas explicou que o grupo exposto a um trabalho de alta demanda não apenas demonstrou ser menos exigente no fim do dia, como suas pupilas eram menos dilatadas, significando uma menor excitação. Eles também se mostraram menos pacientes. 

Para a equipe, a pesquisa levanta questões sobre a jornada ideal de trabalho. O estudo concluiu ser preciso dividir tarefas de alta demanda que exigem controle cognitivo e que é necessário considerar que o desempenho também é menor no final do dia. Algumas profissões podem necessitar de uma estruturação muito diferente considerando esses resultados. Profissões como as de pilotos de avião, motoristas e controladores de tráfego foram citadas como segmentos que podem se beneficiar de um tempo para descanso. 

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Há ressalvas

Por outro lado, o levantamento ressaltou que nossos cérebros têm muitas áreas diferentes que estão ativas durante várias tarefas, como falar, ouvir e planejar. Por isso, nem todas as nossas decisões podem ser explicadas pelos resultados do estudo de Paris. Um estudo de 2006 apontou que novas informações podem ser melhor processadas em um estado de fome, no entanto, a fome também pode dificultar a ação de armazenar informações recém-aprendidas. Aqui, a saciedade foi relacionada ao armazenamento de memória de longo prazo. 

Neste estudo, a saciedade foi benéfica para juízes que precisam tomar decisões (parte cognitiva), mas prejudicial para médicos prestes a realizar uma cirurgia (função motora que gasta mais energia). Isso ocorre por a saciedade ser um momento em que o corpo precisa descansar para processar os alimentos, assim, habilidades motoras complexas não estão no seu melhor estado. 

Segundo os cientistas, a respeito das decisões no fim do dia, o ideal é que as pessoas descansem primeiro (durmam), para depois dar um veredito, já que estarão mais inclinadas ao baixo esforço, impulsividade, falta de paciência e não conseguirão medir as recompensas, ou seja, escolherão benefícios de curto prazo. 

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