Arquivo diário: janeiro 8, 2023

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‘Sou psicopata’: mulheres contam como é viver com o distúrbio

Psicopatia é uma condição que especialistas tratam como mal compreendida. A psicopatia é geralmente é associada aos homens, particularmente aos criminosos, e é muito pouco estudada nas mulheres
SOMSARA RIELLY
A psicopatia é uma condição que condena e fascina muitas pessoas, mas o estigma profundamente arraigado em volta dela indica que o distúrbio ainda é mal compreendido — especialmente quando afeta as mulheres.
Victoria sabia que seu namorado tinha uma esposa, mas, depois de alguns anos, ela começou a suspeitar que ele tivesse outras amantes.
Ela não tinha provas, mas a linguagem corporal do namorado o denunciava, segundo ela. Suas histórias não faziam sentido. Seu rosto parecia diferente quando ele mentia.
“Acontece que tenho excelente memória quando se trata de conversas”, ela conta. “Ele não sabia mentir bem. Não sei como a esposa dele nunca o desmascarou.”
Diversas formas de punição surgiam na mente de Victoria, até que ela se decidiu por uma delas. Levaria algum tempo e ela precisaria agir como se não soubesse de nada. Foi assim que, por vários meses, Victoria continuou a vê-lo, mas enviava fotos do seu namorado nu para a esposa dele.
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Perturbado, ele procurou Victoria, se perguntando quem poderia estar enviando essas fotos. Sua esposa estava arrasada. Ele confessou a Victoria que, de fato, estava dormindo com outras mulheres. E não suspeitou que era Victoria quem estava enviando as fotos.
Quando Victoria se cansou de tudo e quis terminar o relacionamento, ela enviou à esposa do namorado uma coleção final de fotografias. Na última imagem, a própria Victoria aparecia junto ao homem. Com essa revelação explosiva, Victoria saiu da vida deles para sempre.
Quando Victoria contava esta história para as pessoas, sua petulância as espantava.
“Elas me perguntavam ‘por que você fez isso com a esposa dele? O que a esposa dele fez para merecer isso? O que ela fez para magoar você?'”, ela conta. “E eu pensava, ‘bem, a vida é injusta’.”
Ela faz uma pausa.
“Acho que este é um bom exemplo de uma característica psicopata extrema que eu costumava ter. Indiferença.”
Mulheres com psicopatia costumam exibir menor tendência à violência que os homens e mais manipulação interpessoal
SOMSARA RIELLY
A definição da psicopatia
A psicopatia não é um diagnóstico oficial de saúde mental e não está presente na mais recente edição do Manual Estatístico e de Diagnóstico de Distúrbios Mentais. Ela está agrupada sob a classificação mais ampla de distúrbio da personalidade antissocial, embora a psicopatia seja amplamente usada em ambientes clínicos em todo o mundo.
Ela é entendida como sendo um distúrbio neuropsiquiátrico, em que uma pessoa exibe níveis anormalmente baixos de empatia ou remorso, muitas vezes resultando em comportamento antissocial e, às vezes, criminoso.
O termo foi usado por médicos europeus e americanos no início dos anos 1900 e tornou-se comum em 1941, após a publicação do livro The Mask of Sanity (“A máscara da sanidade”, em tradução livre), do psiquiatra norte-americano Hervey M. Cleckley.
“Os principais acadêmicos do mundo vêm debatendo a definição da psicopatia”, segundo a psicóloga e neurocientista Abigail Marsh, da Universidade de Georgetown em Washington D.C., nos Estados Unidos. “Você terá explicações muito diferentes da psicopatia, se falar com um psicólogo forense ou criminologista.”
Marsh afirma que os psicólogos criminalistas tendem a classificar as pessoas como psicopatas somente se exibirem comportamento extremo e violento. Mas, para ela, a condição se apresenta na forma de espectro com outros comportamentos menos dramáticos, que podem variar de uma pessoa para outra.
Os psicólogos e psiquiatras, de forma geral, concordam que uma ou duas a cada 100 pessoas, na população em geral, atendem ao critério de psicopatia. Mas Marsh afirma que até 30% das pessoas exibem algum grau de características psicopatas na população em geral.
Para as pessoas com psicopatia, isso pode significar que elas têm dificuldades para manter amizades próximas e se colocam em situações de risco, mas a condição também é prejudicial para as pessoas à sua volta.
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“Muitas vezes, ter por perto uma pessoa insensível ou manipuladora é devastador e cansativo para as pessoas que vivem com alguém com psicopatia extrema”, afirma Marsh.
Ela afirma que a maioria dos estudos referentes às pessoas com psicopatia tem sido conduzida com criminosos. Alguns desses estudos indicam que os psicopatas — ou as pessoas que exibem características psicopatas— representam um número desproporcional de pessoas na prisão, embora existam controvérsias sobre sua real incidência.
De forma geral, as pesquisas indicam que a incidência de psicopatia é maior entre os criminosos homens (representando talvez 15 a 25% dos prisioneiros) do que entre as mulheres (10 a 12%).
Mas este ainda é um campo pouco estudado na população em geral e ainda menos pesquisas são realizadas com mulheres.
As mulheres com psicopatia
Embora diversos estudos indiquem que a incidência da psicopatia é maior entre os homens do que entre as mulheres, Marsh argumenta que isso pode se dever, em primeiro lugar, à forma em que os exames foram idealizados.
“As escalas iniciais de psicopatia foram principalmente desenvolvidas e testadas na população prisional de homens na Columbia Britânica [no Canadá] por Bob Hare”, afirma ela.
O psicólogo canadense Robert Hare desenvolveu a Lista de Controle da Psicopatia (agora chamada PCL-R) nos anos 1970 e uma versão revisada é frequentemente considerada o padrão-ouro global para o teste de características psicopatas. Ela é agora a ferramenta de diagnóstico validada e mais frequentemente empregada para determinar a psicopatia.
A PCL-R mede a escala de desconexão emocional que alguém pode ter, tal como sua disposição de manipular alguém até um resultado desejado, independentemente das consequências, bem como seu comportamento antissocial, como escolhas agressivas ou impulsivas que podem ser violentas ou envolver o abandono abrupto das responsabilidades.
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“Adaptações dessa escala são utilizadas hoje em dia em amostras não institucionalizadas, incluindo mulheres e crianças em diversos países, mas permanece aberta a questão de se você usaria essas mesmas questões para começar se fosse lidar com mulheres não criminosas”, afirma Marsh.
Uma análise dos pesquisadores em 2005 também comparou características centrais de mulheres e homens com psicopatia. Eles indicaram que as mulheres, muitas vezes, exibiam características como impulsividade debilitadora (como falta de planejamento), falsidade nos relacionamentos interpessoais e agressões verbais.
Por outro lado, os pesquisadores concordaram que a psicopatia nos homens tende a se manifestar com violência e agressões físicas. Mas, na época, elas indicaram que não haviam sido realizadas pesquisas suficientes sobre o motivo para isso. E, 17 anos depois, não houve grandes mudanças.
A estudante de PhD de psicologia da Universidade de Madri, na Espanha, Ana Sanz García e seus colegas realizaram uma análise mais recente, em 2021, de estudos de pesquisa publicados, que avaliaram mais de 11 mil adultos para determinar psicopatia. Ela concorda que são necessários mais estudos concentrados nas mulheres e em pessoas não criminosas com psicopatia.
Sanz García afirmou à BBC que os estudos até hoje demonstram que as mulheres com psicopatia exibem menos propensão à violência e ao crime do que os homens, mas existem mais exemplos de manipulação interpessoal.
“Seria interessante estudar os fatores que explicam por que, entre as mulheres com alto grau de psicopatia, existe menor probabilidade de cometer atos criminosos e antissociais do que entre os homens”, afirma ela. “Se esses fatores forem descobertos, será possível criar um programa para evitar que homens e mulheres com alto grau de psicopatia cometam esses atos antissociais e criminosos.”
Acredita-se que a genética e o ambiente de criação de uma pessoa influenciem a psicopatia.
SOMSARA RIELLY
Também neste caso, não há pesquisas suficientes para determinar os motivos, mas um estudo recente na França indica uma possível resposta: a frieza e a falta de emoção parecem desempenhar um papel mais central na psicopatia feminina do que entre os homens. E as mulheres também exibem menos comportamentos violentos e antagonistas que na psicopatia masculina.
Manipulação como entretenimento
Victoria afirma que o seu comportamento manipulador começou a surgir como forma de entretenimento próprio.
Ela nasceu na Malásia, em uma família de classe média. O alcoolismo do seu pai e a falta de responsabilidade pessoal pelas consequências da bebida tornaram seu lar infeliz.
Ela teve sucesso nos estudos, mas se sentia frequentemente aborrecida. Para se divertir, ela gostava de passar adiante informações confidenciais que recebia das pessoas, segredos que ela havia jurado guardar. Quem odiava quem. Quem gostava de quem.
As tensões entre os alunos no ensino médio, muitas vezes, eram causadas por ela. Victoria sabia manipular os outros para que assumissem a responsabilidade pelos erros que ela cometeu e sabia o que dizer para se livrar de problemas. Ela chegou a convencer uma professora de que tinha atirado um giz nela apenas por pressão dos colegas.
“Era o que ela queria ouvir”, ela conta. “Ela queria acreditar que aquela menina inteligente não era ruim, apenas facilmente influenciável.”
Mais recentemente, Victoria estava obtendo ajuda para controlar seus impulsos. Mas ela também encontrou apoio, embora possa parecer estranho, de pessoas como ela.
Pergunto a ela sobre diversos vídeos recentes conhecidos como “o desafio do psicopata”, que viralizaram no TikTok, somando mais de 20 milhões de visualizações. Eles discutem como os espectadores podem “identificar um psicopata”.
A hashtag “psicopata” é uma das mais populares naquela rede social, com mais de dois bilhões de visualizações. Ela é usada para marcar diversos assuntos, incluindo imagens de pessoas com psicopatia em julgamentos, e também é usada como insulto para maus comportamentos.
O que fica claro é que pessoas acham o tema da psicopatia e seus portadores, ao mesmo tempo, fascinantes e repulsivos.
Victoria não acha esses vídeos ofensivos.
“Parte de ser psicopata é não se importar com o que as pessoas pensam, de forma que isso não me aborrece”, afirma ela. “Mas mostra a pouca compreensão das pessoas sobre o espectro completo da condição.”
A exceção, para ela, são os vídeos que discutem se as pessoas com psicopatia são mais propensas a maltratar os animais. “Muitos de nós preferimos animais aos seres humanos”, afirma ela, secamente.
Sociopata ou psicopata?
O que Victoria indica como “nós” é uma comunidade online de mulheres como ela. Ela está concentrada principalmente no blog da escritora M. E. Thomas, talvez uma das mais conhecidas mulheres com psicopatia. A avaliação de psicopatia de Thomas, realizada pelo psicólogo forense John Edens, da Universidade A&M do Texas, nos Estados Unidos, foi de 99%.
O blog de Thomas, intitulado Sociopath World, detalha como é a vida com psicopatia. Ela afirma que usava a palavra sociopata em vez de psicopata porque achava que era um termo que seria compreendido por mais pessoas.
Sociopatia não é um termo clínico amplamente aceito, e psicólogos como Abigail Marsh afirmam que, às vezes, ele é usado por indivíduos que podem sentir o estigma relacionado à palavra “psicopata”.
Um agente literário descobriu o blog de Thomas e ofereceu um contrato para um livro. Confessions of a Sociopath: A Life Spent Hiding in Plain Sight (“Confissões de uma sociopata: uma vida passada escondendo-se à vista de todos”, em tradução livre) foi publicado em 2012 e traduzido para mais de 10 idiomas. Um filme baseado no livro, estrelado pela atriz norte-americana Lisa Edelstein, está atualmente em produção.
“Vejo-me como uma fórmula, não como uma pessoa”, afirma Thomas. “É como ser uma planilha do Excel, onde examino o que faço e digo calculando o possível resultado.”
Um exemplo pode ser dizer a alguém que ela o ama quando quer algo dele, afirma Thomas. Ela conta que já fez isso algumas vezes e gerou o rompimento de vários relacionamentos.
Um estudo de 2012 da Universidade de Zurique, na Suíça, também descobriu que a risada é frequentemente usada pelas pessoas psicopatas como instrumento intencionalmente manipulador. Ela as ajuda, por exemplo, a controlar a conversa. Ou, às vezes, a rir da pessoa com quem estão falando – e não com ela.
Thomas afirma que seu agente a instrui a não usar a palavra “manipuladora” quando falar sobre si mesma, mas sim dizer que sabia como influenciar as pessoas desde a infância. Mas “manipuladora” é a palavra que ela usa. Ela afirma que essa qualidade a ajudou a tornar-se uma boa advogada, que ainda é a sua profissão.
Quando ela fala, as pessoas não conseguem identificar seu sotaque. Elas acham que Thomas pode ser de Israel ou da Europa oriental, embora ela tenha vivido toda a sua vida na Califórnia.
“Você tem sotaque quando se socializa para ter identidade. Eu nunca tive identidade”, ela conta. “Tenho um sentido muito fraco de mim mesma.”
Possíveis benefícios?
No seu blog, M.E. Thomas compartilha seus pensamentos diários e entrevista outras pessoas que vivem com características psicopatas. Ela conta que muitos dos seus leitores encontram refúgio nas suas postagens e vídeos, pois é um lugar onde elas reconhecem seus próprios padrões e compartilham experiências sem que sejam julgadas por isso.
Observar a psicopatia como um espectro pode significar que as características que a definem são muito mais comuns entre a população em geral do que o indicado pela maioria dos estudos
SOMSARA RIELLY
Uma de suas leitoras é Alice, uma mulher alemã de 27 anos de idade. Ela afirma que é frustrante ler artigos ou assistir a ilustrações de pessoas com psicopatia como indivíduos maldosos que precisam ser evitados. “Nós existimos em uma escala, como todos os demais”, afirma ela.
Como Thomas, Alice é agradável à primeira vista, talvez porque ela sorri muito. Ela admite desde o início que está imitando o que ela sabe ser socialmente adequado.
Alice vem fazendo isso por toda a vida. Quando sua avó morreu, ela observou o luto da sua irmã e copiou seu comportamento.
Ela afirma que também finge ser sarcástica, pois isso permite que ela diga impunemente o que tem na mente, sem causar alarme.
Alice aprendeu isso já aos 12 anos de idade, quando estava de férias em um navio e se perguntou em voz alta como seria observar as pessoas afundarem em caso de acidente. A reação dos seus pais e amigos a ensinou que era importante enquadrar esse tipo de pensamento como humor ácido e não como um pensamento obscuro.
Embora Thomas descreva sua característica psicopata dominante como manipulação e Victoria afirme que sua marca é a indiferença, Alice aponta sua falta de empatia como sua característica mais evidente.
“Não tenho nenhuma empatia emocional, mas tenho muita empatia cognitiva”, afirma ela, com sorriso inabalável. “Se alguém se machucar, por exemplo, ferir o joelho ou quebrar um braço, posso não sentir nada por eles emocionalmente, mas sei que preciso conseguir ajuda e assim o faço.”
E isso, segundo ela, faz com que ela seja uma boa pessoa para ter por perto em situações de emergência.
“As pessoas me contam seus problemas e não fico ofuscada pelas emoções, de forma que aquilo não me afeta e posso ouvi-las e oferecer conselhos racionais”, ela conta. “Outras pessoas podem querer se distanciar porque aquilo aciona suas próprias emoções, mas isso não acontece comigo.”
Alice não é a única que acredita que suas características podem ser benéficas para a sociedade. Os traços “positivos” da psicopatia são explorados pelo psicólogo Kevin Dutton, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, no seu livro A Sabedoria dos Psicopatas: O que Santos, Espiões e Serial Killers Podem nos Ensinar sobre o Sucesso (Ed. Record, 2018).
Em 2011, Dutton conduziu uma pesquisa no Reino Unido intitulada “A Grande Pesquisa sobre os Psicopatas Britânicos”. As profissões onde as pessoas mais exibiam características psicopatas foram os altos executivos, jornalistas, policiais, militares, cirurgiões e advogados.
Dutton argumenta que certas características de personalidade do espectro psicopata – incluindo a frieza sob pressão e reações menos empáticas às interações interpessoais – podem ajudar as pessoas a realizar seu trabalho sem que sejam, como diria Alice, “ofuscadas”.
É preciso apoio e desmistificação
“Todos conhecemos alguém com características psicopatas”, afirma Marsh, que é uma das fundadoras da organização Psycopathy Is. Ela oferece uma das poucas plataformas online que fornecem apoio para psicopatas e pessoas próximas.
Marsh afirma que seu objetivo é desmistificar a psicopatia e fornecer ferramentas de seleção para que as próprias pessoas possam se avaliar, com instrumentos confiáveis, e conseguir boas informações sobre o que fazer em seguida.
“A psicopatia não é uma categoria, é um espectro”, afirma ela. “Ela é distribuída entre a população em graus variáveis. Algumas pessoas causam destruição contínua e outras precisam apenas administrar os seus sintomas.”
“Quando não discutimos isso abertamente, as pessoas se lembram de Ted Bundy e Hannibal Lecter [assassinos em série – o primeiro, real, e o segundo, da ficção]”, afirma ele. “E então vemos tendências do TikTok preenchendo a lacuna de informações de especialistas.”
Muitos especialistas, incluindo Marsh, acreditam que está na hora de desfazer os mitos e o estigma que envolvem a psicopatia.
As causas subjacentes da psicopatia ainda são mal compreendidas, embora cada vez mais pesquisas de imagens neurológicas venham ajudando a indicar algumas das possíveis anormalidades do cérebro que podem explicar os sintomas.
Pesquisas indicam, por exemplo, que homens com psicopatia possuem reação reduzida em regiões do cérebro relacionadas ao processamento do medo e que existem indicações de que efeitos similares podem ser encontrados nas mulheres.
Alguns pesquisadores também indicaram diferenças no circuito neural das amígdalas cerebelosas, uma estrutura importante do cérebro responsável pelo processamento das emoções. Mas, como a maior parte das pesquisas sobre psicopatia, essas conclusões estão longe de ser consistentes e ainda precisam ser mais estudadas.
A genética e o ambiente das pessoas também são peças importantes do quebra-cabeça. Mas Marsh acredita que conseguir essas respostas exigirá que a sociedade como um todo desenvolva uma relação mais madura com a psicopatia.
“Eu realmente admiro o que a comunidade de pesquisa sobre o autismo fez nos anos 1990”, afirma ela. “Eles decidiram se libertar do estigma, dizendo às pessoas a verdade sobre a condição. Que é um distúrbio de espectro.”
“Nós, como pesquisadores de psicopatia, precisamos definir uma abordagem para realmente nos atirarmos ao desenvolvimento de melhores intervenções que possam ajudar as pessoas com psicopatia a viver vidas produtivas e prósperas”, defende Marsh.
Mas ela acrescenta que, até que isso aconteça, estamos fracassando com as pessoas com psicopatia.
“Isso significa que as pessoas – pessoas com o distúrbio, seus amigos e sua família – não estão conseguindo o apoio de que precisam”, afirma ela. “E isso prejudica a todos.”
Victoria, Alice e M. E. Thomas usam a meditação, terapia psicológica e apoio de colegas da sua comunidade online para ajudar a controlar o seu distúrbio.
“Não estar nas sombras ajuda”, afirma Thomas. “Mas ainda existe um estigma para a palavra ‘psicopata’. Ainda há muito trabalho a fazer e é preciso ter muitas conversas mais abertas. A realidade é que nós existimos.”
Características da psicopatia
Segundo o site PsychopathyIs.org (que teve como uma de suas criadoras a psicóloga e neurocientista Abigail Marsh, da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos), estas são algumas das principais características que se manifestam em casos extremos de psicopatia:
Abordagem egoísta e indiferente aos relacionamentos interpessoais.
Falta de empatia sobre o sofrimento ou angústias dos demais.
Falta de demonstração de remorso depois de machucar os outros ou desobedecer regras.
Pouco sentido de identidade consigo próprio.
Manipulação das pessoas para conseguir as coisas.
Dedicação a atividades perigosas ou arriscadas.
Charme superficial.
* Megha Mohan é jornalista especializada em gênero e identidade da BBC.
Essa reportagem foi originalmente publicada em http://news.bbc.co.uk/1/hi/63732969.stm

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42% dos profissionais de startups não têm plano de cargos e salários, mostra pesquisa

Levantamento aponta que as remunerações ficam concentradas ao redor de R$ 4.500. Aproximadamente 40% dos salários tinham média de valor de até 3,5 salários mínimos. Startups
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Em meio ao cenário de crise global, as startups têm se ajustado para crescer de forma sustentável. Os anúncios de demissões no ano passado, após um boom de contratações em anos anteriores, principalmente no auge da pandemia para atender à demanda por tecnologia em meio ao cenário de isolamento social, mostraram a estratégia adotada para sobreviver à queda na demanda e à cautela de investidores com as incertezas econômicas.
Uma pesquisa da Convenia, HRTech de soluções para automatização e digitalização de recursos humanos e departamento pessoal, mapeou a realidade das startups em relação aos cargos e salários em 2022.
O levantamento, que contou com apoio de empresas como Endeavor, StarSe e Abler, mostrou que 42% dos profissionais do setor não têm plano de cargos e salários, contra 57,32% que têm uma política salarial estruturada. Ao todo, foram entrevistados 606 profissionais de diversas regiões do Brasil.
“Os dados condizem com a realidade do mercado. Startups mais consolidadas trabalham com uma faixa salarial mais competitiva e próximas de empresas tradicionais, enquanto startups menores ainda possuem mais desafios para reter talentos”, explica Marcelo Furtado, CEO e cofundador da Convenia.
O estudo aponta ainda que 53,93% dos entrevistados entendem que sua empresa trabalha com uma política de cargos e salários, implementando internamente uma boa comunicação aos colaboradores. Porém, 14,23% não souberam responder, o que indica divulgação falha da política dentro da empresa ou falta de uma política robusta.
Salário e cargo
O relatório aponta ainda que as remunerações em startups ficam concentradas ao redor de R$ 4.500.
Aproximadamente 40% dos salários tinham uma média de valor de até 3,5 salários mínimos.
Já para 26,62%, o valor inicial é de até R$ 7,5 mil.
Os outros 32,83% ficam distribuídos nas faixas acima desse valor.
Para aproximadamente 44% dos analistas de startups – maior grupo de cargos da pesquisa – o salário varia entre R$ 2.501 e R$ 4.500.
Aqueles com nível júnior puxam a média para baixo e têm uma variação menor de faixas em comparação aos níveis pleno e sênior.
É possível notar uma discrepância entre os valores ofertados para as diferentes senioridades, mas que se mantém dentro da expectativa do mercado, aponta Furtado.
“As diferenças ocorrem também por conta dos setores. Por exemplo, um profissional de comunicação que trabalha como analista de marketing receberá um salário diferente do oferecido a um analista de RH”, explica.
Os cargos de coordenação apresentam faixas salariais mais altas em comparação às anteriores. Para 77% dos coordenadores, a renda mensal é acima de R$ 6.500. Seguindo essa tendência, o nível de supervisão tem 50% dos respondentes ganhando mais de R$ 6.500.
“A diminuição da proporção, em comparação à coordenação, pode indicar que o plano de carreira nas startups varia na classificação. Em algumas pode ser que as posições estejam no mesmo nível, enquanto em outras a supervisão pode estar abaixo da coordenação”, explica o executivo.
Para a gerência, a faixa salarial é mais elevada que a coordenação. Os valores mais altos também começam a aparecer, com salários acima de R$ 30.000. Apenas para 12,8% dos entrevistados a renda mensal se encontra abaixo de R$ 7.500.
No entanto, como startups em estágio inicial ou pequenas não seguem faixas de salário elevadas, isso pode ter influenciado a amostragem.
Para cerca de 85% dos cargos de diretoria, o salário é acima de R$ 10.500, valor mínimo encontrado na pesquisa. As rendas mais comuns são entre R$ 19.500 e R$ 20.500. Apenas 14,8% dos diretores e diretoras ganham acima de R$ 30.000.
Salário e senioridade
Para os profissionais júnior (recém-formados com até 5 anos de função):
A média salarial para 36,8% é entre R$ 2.501 e R$ 3.500.
A faixa abaixo desse valor – entre R$ 1.500 e R$ 2.500 – representa 19,3%.
Já a faixa de R$ 3.500 a R$ 4.500 representa 18,4%.
No nível pleno, a pesquisa aponta faixas mais variadas.
Para 27% dos entrevistados, o salário é de R$ 3.501 a R$ 4.500.
Os salários entre R$ 2.501 e R$ 3.500, e
R$ 4.501 e R$ 5.500 aparecem empatados, com 12,3% cada.
Juntas, as três faixas totalizam 51,6% da amostragem.
No nível sênior de carreira há uma maior diversidade de faixas distribuídas na amostra.
Empatadas em primeiro lugar, com 11,4% cada, estão as faixas de R$ 5.501 a R$ 6.500 e de R$ 6.501 a R$ 7.500.
Em seguida, aparece a de R$ 4.501 a R$ 5.500, com 9,8%.
Juntas, essas três faixas totalizam 32,6% das respostas.
Aumento salarial e benefícios
De acordo com o estudo, 80,89% dos entrevistados tiveram aumento salarial nos últimos três anos, e 65,61% disseram que não pretendem sair das startups em que estão empregados nos próximos seis meses caso não recebam aumento.
“Uma explicação para essa porcentagem pode decorrer dos benefícios corporativos, já que 90,9% recebem vales, auxílios ou outras vantagens”, explica Furtado.
Do total, 89,17% recebem algum tipo de benefício e 83,44% consideram um diferencial para sua permanência na startup. Já 3,82% dizem não receber benefícios, mas entendem que isso pode ser um motivo para trocar de emprego.

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Inteligência artificial para detectar demências em seus estágios iniciais

Programa pode identificar pistas que indicam o começo da doença com 80% de acurácia Na última coluna de 2022, falei do ChatGPT, criado pela OpenAI, capaz de responder a todo tipo de pergunta e manter um diálogo como se fosse uma pessoa. Os pesquisadores agora querem testar se os algoritmos que estão por trás da mais nova sensação do mundo digital são capazes de ajudar os médicos a detectar a Doença de Alzheimer em suas fases iniciais. Estudo da Drexel University (EUA), publicado no fim do ano, demonstrou que o GPT-3 pode identificar pistas que indicam o começo de uma demência com 80% de acurácia, a partir do discurso espontâneo de quem interage com o equipamento de inteligência artificial.
Idosa em janela: inteligência artificial é capaz de ajudar os médicos a detectar a Doença de Alzheimer
iphotoklick para Pixabay
Não é tarefa simples fechar um diagnóstico de Alzheimer: além do histórico da pessoa, são necessários exames físicos e neurológicos. Embora não haja cura para a doença, mapeá-la em seus primeiros estágios dá ao paciente mais opções de apoio e tratamentos paliativos.
Como o declínio da linguagem é um sintoma que se manifesta na maioria dos portadores de demência, os cientistas têm buscado programas de inteligência artificial que captem problemas como o excesso de hesitações, esquecimento sobre o significado de palavras, ou erros de gramática e pronúncia.
O GPT-3 é a terceira geração do GPT (Generative Pre-trained Transformer) e usa algoritmos de aprendizagem profunda, do inglês “deep learning”. Eles processam, em tempo real, uma enorme quantidade de informações da internet, com ênfase em como as palavras são usadas e a linguagem é construída. O resultado é que a interação da máquina com o ser humano se assemelha muito a uma conversa natural.
Para comprovar sua teoria, os pesquisadores usaram transcrições de falas de portadores de Alzheimer compiladas pelo Instituto Nacional de Saúde (NIH). O conteúdo serviu para treinar o algoritmo a distinguir o discurso de um indivíduo normal daqueles com a enfermidade. Numa segunda etapa, o desempenho do GPT-3 foi comparado com o de um teste utilizado para identificar demência, o mini-exame do estado mental (MMSE). O GPT-3 se mostrou 20% mais eficiente que o MMSE.
“A análise que o GPT-3 faz da linguagem o torna um candidato promissor para reconhecer alterações sutis no discurso que podem indicar o princípio de um quadro de demência”, afirmou Felix Agbavor, principal autor da pesquisa. “Queremos alimentar o GPT-3 com uma quantidade maciça de conversas, inclusive de pacientes já diagnosticados com Alzheimer, para aprimorar sua capacidade de identificar padrões, o que nos auxiliaria em novos diagnósticos”, completou. O trabalho foi publicado no “PLOS Digital Health”.