Partes do núcleo da Terra são tão quentes quanto a superfície do Sol

Assim como uma cebola, a Terra é dividida e estruturada em várias camadas. Ao analisar as ondas sísmicas do planeta, pesquisadores descobriram que partes do seu núcleo permanecem há bilhões de anos tão quentes quanto a superfície do Sol.

A Terra é composta por camadas, de forma semelhante a uma cebola. Imagem: cigdem – Shutterstock

A camada mais externa do globo terrestre é a crosta, que inclui a superfície em que pisamos. Mais abaixo, vem o manto, essencialmente uma rocha sólida. Um pouco mais profundo, está o núcleo externo, que é feito de ferro líquido. Por fim, vem o núcleo interno, feito de ferro sólido, e com um raio que é 70% do tamanho da Lua

“Quanto mais fundo você mergulha, mais quente fica – partes do núcleo são tão quentes quanto a superfície do Sol”, escreveu Shichun Huang, professor associado de Ciências da Terra e Planetárias na Universidade do Tennessee, nos EUA, em um artigo de sua autoria publicado no site The Conversation.

Segundo Huang, da mesma forma que um médico pode usar uma técnica chamada ultrassonografia para fazer imagens das estruturas internas do nosso seu corpo com ondas de ultrassom, os cientistas usam uma técnica semelhante para visualizar as estruturas internas da Terra. “Mas, em vez de ultrassom, os geocientistas usam ondas sísmicas – ondas sonoras produzidas por terremotos”.

Conheça cada camada da Terra

Com cerca de 30 km de espessura, a crosta começa na superfície da Terra, coberta por materiais diversos, como areia, grama e pavimento, por exemplo. As vibrações sísmicas revelam que abaixo disso existem rochas dos mais variados tamanhos cobrindo a camada seguinte, chamada de manto.

A parte superior do manto acompanha o movimento da crosta. Juntos, eles são chamados de litosfera, uma camada que tem cerca de 100 km de espessura em média, embora possa ser mais encorpada em alguns pontos.

Créditos: FrentaN – Shutterstock / Edição: Olhar Digital

Ela é dividida em vários grandes blocos chamados placas. “Por exemplo, a placa do Pacífico está abaixo de todo o Oceano Pacífico, e a placa norte-americana cobre a maior parte da América do Norte”, explica Huang. “As placas são como peças de quebra-cabeça que se encaixam aproximadamente juntas e cobrem a superfície da Terra”.

De acordo com o professor, as placas não são estáticas – elas se deslocam. “Às vezes, é a menor fração de centímetros ao longo de um período de anos. Outras vezes, há mais movimento, e é mais repentino. Esse tipo de movimento é o que desencadeia terremotos e erupções vulcânicas”.

Além disso, conforme o artigo de Huang, o movimento das placas é um fator crítico e provavelmente essencial que impulsiona a evolução da vida na Terra, porque as placas em movimento mudam o ambiente e forçam a vida a se adaptar a novas condições.

Para haver todo esse movimento, deve haver calor. E, de fato, à medida que se aprofunda na Terra, a temperatura do manto aumenta. Na parte inferior das placas, em cerca de 100 km de profundidade, a temperatura é de cerca de 1.300 graus Celsius.

No limite entre o manto e o núcleo externo, que fica a 2,9 mil km para baixo, a temperatura é de quase 2.700ºC.

Então, na fronteira entre os núcleos externo e interno, a temperatura dobra, chegando a quase perto de 6.000ºC. “Essa é a parte que é tão quente quanto a superfície do Sol”, revelou Huang. “A essa temperatura, praticamente tudo – metais, diamantes, seres humanos – vaporiza-se em gás. Mas como o núcleo está a uma pressão tão alta nas profundezas do planeta, o ferro de que é composto permanece líquido ou sólido”.

Huang explica que isso não pode ser resultado da ação do Sol. “Enquanto nos aquece e a todas as plantas e animais na superfície da Terra, a luz solar não pode penetrar através de quilômetros do interior do planeta”.

Créditos: Universidade De Cambridge via Scitech Daily

Então, de onde vem todo esse calor?

Segundo o professor, existem duas fontes. Uma é o calor que a Terra herdou durante sua formação há 4,5 bilhões de anos. A Terra foi feita a partir da nebulosa solar, uma gigantesca nuvem gasosa, em meio a intermináveis colisões e fusões entre pedaços de rocha e detritos chamados planetesimais. Esse processo levou dezenas de milhões de anos.

Uma enorme quantidade de calor foi produzida durante essas colisões, o suficiente para derreter todo o planeta. Embora parte desse calor tenha sido perdido no espaço, o resto foi trancado dentro da Terra, onde grande parte dele permanece até hoje.

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A outra fonte de calor é o decaimento de isótopos radioativos, distribuídos por toda parte no globo.

“Para entender isso, primeiro imagine um elemento como uma família com isótopos como seus membros”, exemplifica Huang. “Cada átomo de um dado elemento tem o mesmo número de prótons, mas diferentes primos isótopos têm números variados de nêutrons”.

Os isótopos radioativos não são estáveis. Eles liberam um fluxo constante de energia que se converte em calor. Potássio-40, tório-232, urânio-235 e urânio-238 são quatro dos isótopos radioativos que mantêm o interior da Terra quente.

Juntamente com o núcleo quente e o manto, esses isótopos liberadores de energia é que fornecem o calor para impulsionar o movimento das placas.

Huang diz que as placas em movimento continuam mudando a superfície da Terra, constantemente fazendo novas formações geológicas e novos oceanos ao longo de milhões e bilhões de anos. 

E, como dito, nada disso aconteceria se não fosse o calor interno da Terra, sem o qual as placas não estariam se movendo. “A Terra teria esfriado. Nosso mundo provavelmente teria sido inabitável”, disse Huang. “Você não estaria aqui. Pense nisso, da próxima vez que sentir a Terra sob seus pés”.

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