Empresas de tecnologia “mascaram” demissões; entenda

Ser demitido, naturalmente, não é legal. Mas, para dezenas de milhares de trabalhadores de tecnologia que perderam seus empregos nos últimos seis meses, a experiência também vem com memorando irritante que às vezes nem menciona a palavra “demissões”. Esses trabalhadores agora desempregados são repentinamente conhecidos como “entre os impactados”.

O Spotify seguiu o roteiro quando cortou 200 empregos na semana passada. “Sabemos que notícias como essa nunca são fáceis, especialmente para os afetados”, diz o memorando.

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O termo se infiltrou até nas postagens do Twitter e LinkedIn dos próprios funcionários, que compartilham que estavam “entre os impactados” pelas notícias do dia.

Líderes de tecnologia pontificam sobre inovação, mas quando se trata de dar más notícias, a situação é outra. Ler esses memorandos todos juntos chega a cansar:

“Se você estiver entre os afetados, receberá e-mail de notificação nos próximos 15 minutos” (Stripe);“Se você estiver entre os afetados, receberá convite de calendário para uma reunião 1:1 com um gerente em seu departamento nos próximos dez minutos” (Clubhouse);“Se você foi impactado, receberá convite de calendário nos próximos 30 minutos para um 1:1 com um líder de sua equipe” (Dropbox);“Os impactados por essa mudança já receberam um convite para uma conversa 1:1 hoje com um membro da nossa equipe de RH” (Spotify);Os memorandos trazem títulos, como “Uma mensagem do nosso CEO” ou “Uma atualização sobre as mudanças organizacionais”. Se um título é memorável, não é bom: “Atualização sobre o ano de eficiência da Meta”.

Isso é chamado de rotulagem eufemística, disse Sandra Sucher, professora da Harvard Business School que estuda como as empresas demitem trabalhadores. É um exemplo de “desengajamento moral”, no qual nossos cérebros tentam reestruturar ações moralmente difíceis que estamos prestes a realizar para torná-las mais palatáveis.

Em uma dispensa, esse desconforto aparece na linguagem (deve-se notar que a própria “demissão” foi introduzida como eufemismo – agora amplamente aceito – para demissões em massa).

Se você for realmente explícito, é uma rescisão involuntária que faz com que alguém não consiga pagar suas contas. Mas, é claro, não usamos essa linguagem.

Sandra Sucher, professora da Harvard Business School

Em vez disso, ela observou “imitação curiosa” acontecendo nesses memorandos. Mesmo que a frase “aqueles impactados” seja irritante e inespecífica, Sucher disse que aprecia o fato de gesticular para as emoções muitas vezes devastadoras que podem surgir com a demissão. “Pelo menos reconhece que esta ação tem efeito pessoal sobre os indivíduos”, salientou.

Sucher disse que é melhor do que falar sem parar sobre “realinhamentos estratégicos” ou “dimensionamento correto” de uma força de trabalho. Mas, para ser claro, várias empresas de tecnologia também fizeram isso.

Via Bloomberg

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