Guerra dos chips: o plano de Biden para conter a China

A disputa hegemônica entre Estados Unidos e China continua a todo vapor. E cada vez mais os dois países batalham pela liderança mundial no setor da tecnologia. Não é por acaso que a Casa Branca tem anunciado uma série de decisões para tentar minar o crescimento chinês na área, especialmente na área da produção de chips semicondutores.

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Importância dos chips semicondutores

Nos últimos anos, os chips semicondutores se tornaram uma força vital da economia moderna e o cérebro de todos os dispositivos e sistemas eletrônicos, de iPhones até torradeiras, data centers a cartões de crédito. Um carro novo, por exemplo, pode ter mais de mil chips, cada um gerenciando uma operação do veículo.Os semicondutores também são a força motriz por trás das inovações que prometem revolucionar a vida no próximo século, como a computação quântica e a inteligência artificial, como o ChatGPT, da OpenAI.Nesse cenário não é surpreendente que o governo dos Estados Unidos tenha praticamente declarado uma guerra econômica à China, seu maior rival na disputa pela hegemonia mundial.“Gastamos 662% do nosso tempo com sanções à Rússia, outros 100% com a China e os outros 100% com todo o resto”, diz Matt Borman, vice-secretário adjunto de Comércio para Administração de Exportações da Casa Branca.

O plano é frear o desenvolvimento da China

O objetivo dos Estados Unidos é claro: prejudicar a capacidade da China de produzir, ou mesmo comprar, os chips mais sofisticados, que também servem para produção de novas armas e aparelhos de vigilância. “A chave aqui é entender que os EUA queriam impactar a indústria de IA da China. O material de semicondutores é o meio para esse fim”, explica Gregory C. Allen, diretor do Wadhwani Center for A.I. and Advanced Technologies do Center for Strategic and International Studies, em Washington.Atualmente, quase todos os chips que alimentam os projetos e instituições mais avançados da China estão ligados à tecnologia dos EUA. “Toda a indústria só pode funcionar com insumos dos EUA. Em todas as instalações que estão remotamente próximas da vanguarda, há ferramentas dos EUA, software de design dos EUA e propriedade intelectual dos EUA durante todo o processo”, destaca Chris Miller, autor do livro “Chip War” (Guerra dos Chips) e professor associado de história internacional na Fletcher School da Tufts University.

Chips semicondutores são fundamentais no desenvolvimento de novas tecnologias (Imagem: mpohodzhay/Shutterstock)

China ainda depende dos produtos americanos

Apesar de décadas de esforço do governo chinês e dezenas de bilhões de dólares investidos no setor, o quadro pouco mudou.Em 2020, os produtores domésticos de chips forneceram apenas 15,9% da demanda geral do país. Em abril, a China gastou mais dinheiro importando semicondutores do que petróleo.

Restrições não são uma novidade

O plano americano de frear a China começou ainda no governo de Donald Trump.Em 2019, a Casa Branca iniciou a aplicar restrições à Huawei, maior produtora de equipamentos de telecomunicações do mundo.Sem acesso a semicondutores, software e outros suprimentos essenciais dos EUA, a gigante chinesa ficou isolada.Em 2020, de acordo com a empresa de análise de mercado Canalys, a Huawei foi a maior vendedora de smartphones do mundo, com 18% de participação de mercado, superando até mesmo Apple e Samsung.As receitas da empresa, no entanto, caíram quase um terço em 2021, e no ano seguinte sua participação caiu para 2%.

A tática agora é focar na indústria dos chips

Se governo Trump foi atrás de empresas, a gestão Biden está focada nas indústrias.As regras impostas pelo atual governo foram mais profundas na cadeia de suprimentos de semicondutores do que qualquer medida anterior. A China foi impedida não apenas de importar os chips mais avançados, mas também de adquirir os insumos para desenvolver seus próprios semicondutores e supercomputadores avançados, e até mesmo dos componentes, tecnologia e software de origem americana que poderiam ser usados para produzir equipamentos de fabricação de semicondutores para, eventualmente, construir suas próprias fábricas para fabricar seus próprios chips. Além disso, cidadãos americanos não podem mais se envolver em qualquer atividade que apoie a produção de semicondutores avançados na China, seja mantendo ou reparando equipamentos em uma fábrica chinesa, oferecendo consultoria ou mesmo autorizando entregas a um fabricante chinês de semicondutores.

Joe Biden tem apostado num ambicioso plano para impedir o acesso da China aos chips (Imagem: lev radin/Shutterstock)

Taiwan e outros aliados dos EUA

Embora os Estados Unidos controlem praticamente toda a cadeia de suprimentos global, outros países, especialmente Japão e Holanda, além da ilha de Taiwan, detêm o domínio sobre setores igualmente cruciais no processo de fabricação das tecnologias. Se eles tivessem continuado a vender para a China como antes, isso teria tornado as medidas americanas quase inúteis. Mas no final de janeiro, o governo Biden chegou a um acordo com o Japão e a Holanda para que os países também implementassem controles semelhantes sobre semicondutores ou equipamentos de fabricação de semicondutores.Já Taiwan, que produz quase dois terços dos semicondutores do mundo anualmente e mais de 90% dos mais avançados, é uma aliada histórica da Casa Branca e rival da China.No entanto, o aumento das tensões e a possibilidade de uma invasão de Pequim a ilha, considerada como rebelde pelos chineses, gera uma série de temores.Alguns especialistas chegam a defender que, em caso de um ataque chinês ao território, os EUA deveriam destruir as fábricas de chips semicondutores para impedir o controle chinês da produção.

Brechas na fiscalização

Em meio a este cenário complexo, tem aumentado o contrabando de chips para China.Mas Pequim precisa de grandes quantidades e isso torna a aquisição dos produtos excepcionalmente desafiadora. A estrutura do mercado também é um obstáculo para quem tentar burlar as regulamentações: o número de empresas capazes de produzir chips de ponta é extremamente limitado, e o número de compradores com histórico de compra também é pequeno.Mas há brechas no sistema de fiscalização. Em março, o Inspur Group, um conglomerado chinês ativo em computação em nuvem e fabricação de servidores, foi adicionado à lista de entidades. Mas, de acordo com o The Wall Street Journal, pelo menos uma das afiliadas da empresa não foi incluída na listagem, permitindo que as empresas americanas vendessem para a subsidiária sem impedimentos.

Huawei pode desempenhar papel importante para a China superar os obstáculos impostos pelos EUA (Imagem: astudio/Shutterstock)

O desafio da China

Embora prejudiquem a capacidade avançada de fabricação de chips da China no futuro próximo, todas as essas restrições podem acabar estimulando o crescimento do país a longo prazo. Se uma grande parte dos US$ 400 bilhões em importações anuais de chips da China for revertida para dentro, as empresas domésticas de chips podem finalmente ter os meios e a motivação para recuperar o atraso.A Huawei pode desempenhar um papel fundamental.A empresa continua sendo uma das maiores gastadoras do mundo em pesquisa e desenvolvimento, com um orçamento de cerca de US$ 24 bilhões no ano passado e uma equipe de pesquisa de mais de 100.000 funcionários.Sem acesso aos chips e tecnologia americanos, a Huawei foi forçada a redesenhar todos os seus produtos para garantir a independência de componentes dos Estados Unidos. Recentemente, a empresa afirmou que havia feito avanços significativos no software de design eletrônico usado para produzir semicondutores avançados. Apesar de não parar a China permanentemente, as restrições são, na melhor das hipóteses, uma tática para atrasar o desenvolvimento chinês na área, garantindo a possibilidade de manutenção e até expansão da liderança dos Estados Unidos nessa importante área.

Com informações de The New York Times.

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