O Facebook pode moldar visões políticas?

Os debates sobre os impactos negativos das redes sociais na democracia são comuns. Mas as postagens com informações falsas ou discursos de ódio podem realmente moldar visões políticas dos usuários que as consomem? Três artigos publicados na revista Science e um na Nature tentaram responder esse questionamento a partir do uso do Facebook.

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O objetivo dos pesquisadores era entender como o conteúdo do feed de notícias do Facebook pode afetar as experiências e crenças dos usuários. Os estudos analisaram dados de setembro a dezembro de 2020, cobrindo o período durante e imediatamente após a eleição presidencial dos Estados Unidos, fortemente marcada por debates e até pelo uso da rede social para obter vantagens na disputa pela Casa Branca.

Os resultados foram reunidos em um novo artigo, divulgado na Science.

Como foram realizados os estudos?

Em um dos experimentos, os pesquisadores impediram que os usuários do Facebook vissem postagens “recompartilhadas”.Em outro, exibiam os feeds do Instagram e do Facebook para os usuários em ordem cronológica inversa, em vez de em uma ordem apresentada pelo algoritmo da Meta. Já no estudo publicado na Nature, a equipe reduziu em um terço o número de postagens contendo posições políticas apresentadas para os usuários.

Resultados

Remover postagens recompartilhadas fez com que as pessoas vissem muito menos notícias políticas e menos postagem de fontes não confiáveis. A substituição do algoritmo por um feed cronológico levou as pessoas a verem mais conteúdo não confiável, embora tenha cortado conteúdo odioso e intolerante quase pela metade. Os usuários nos experimentos também acabaram passando muito menos tempo nas plataformas, sugerindo que os conteúdos se tornaram menos atraentes.

Pesquisadores queriam entender como o conteúdo do Facebook pode afetar as crenças dos usuários (Imagem: mundissima/Shutterstock)

Conclusões dos estudos

Os pesquisadores concluíram que não é possível afirmar que as redes sociais coloca a democracia em risco, mas ressaltaram que a sugestão de que alterar o feed, discussão em andamento inclusive no Congresso dos Estados Unidos, teria um efeito positivo.“Pesquisas durante e no final dos experimentos mostraram que essas diferenças não se traduziram em efeitos mensuráveis nas atitudes dos usuários. Os participantes não diferiram de outros usuários em quão polarizados estavam seus pontos de vista sobre questões como imigração, restrições da Covid-19 ou discriminação racial, por exemplo, ou em seu conhecimento sobre as eleições, sua confiança na mídia e nas instituições políticas, ou sua crença na legitimidade da eleição. Eles também não tinham mais ou menos chances de votar na eleição de 2020”, afirmou Kai Kupferschmidt.

Debates

Os resultados das pesquisas, no entanto, geraram um série de discordâncias.A Meta afirmou que as descobertas mostram que as redes sociais têm apenas um efeito limitado na política.“Embora as questões sobre o impacto das mídias sociais nas principais atitudes, crenças e comportamentos políticos não estejam totalmente resolvidas, as descobertas experimentais se somam a um corpo crescente de pesquisas mostrando que há poucas evidências de que os principais recursos das plataformas da Meta por si só causem polarização ‘afetiva’ prejudicial ou tenham efeitos significativos nesses resultados”, disse Nick Clegg, presidente de assuntos globais da empresa. Já para Meagan Phelan, que trabalhou nos estudos da Science, os resultados das pesquisas não inocentaram a rede social. “As descobertas da pesquisa sugerem que os algoritmos Meta são uma parte importante do que está mantendo as pessoas divididas”, escreveu ela.Por outro lado, um relatório divulgado por Michael W. Wagner, professor de comunicação da Universidade de Wisconsin-Madison, que atuou como observador independente dos estudos, indica que o Facebook representa apenas uma faceta do ecossistema de mídia mais amplo que existe atualmente.Ele destaca que a rede social pode ter removido o conteúdo impróprio relacionado às eleições de 2020, mas as mentiras eleitorais ainda correram soltas em emissoras como a Fox News, Newsmax e outras fontes populares entre os conservadores. Ao mesmo tempo, a pesquisa dele afirmou que parece claro que o design do Facebook influencia o que as pessoas veem e pode mudar suas crenças ao longo do tempo. Por fim, esse estudo indicou que o mais importante é entender como as redes sociais remodelaram a política.Essas plataformas mudaram a forma como as notícias são escritas, como as manchetes são elaboradas, como as notícias são distribuídas e como as discutimos.

Novos estudos

Não há respostas claras, mas os estudos divulgados sobre o tema serão seguidos por outros 12 que abrangem o mesmo período. O objetivo é ampliar as discussões sobre o tema e, quem sabe, chegar a conclusões mais definitivas sobre os impactos das redes sociais na democracia.

Com informações de The Verge.

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