Descoberta sobre o clima de Marte pode ajudar na busca por vida

Um artigo publicado nesta quarta-feira (9) na revista Nature descreve uma pesquisa feita por cientistas da França, EUA e Canadá, por meio da qual eles descobriram que Marte nem sempre teve o clima predominantemente árido de hoje em dia. Mais do que isso: segundo o estudo, as condições climáticas oscilavam no planeta, talvez sazonalmente, de uma maneira que pode ter sido propícia ao surgimento de vida.

Um padrão de hexágonos identificado pela equipe na cratera Gale (local de investigação do rover Curiosity, da NASA) sugere uma história de alternância entre fases úmidas e secas no clima. 

“Observamos cristas poligonais centimétricas exumadas com enriquecimentos de sulfato, unidas em junções em Y, que registram rachaduras formadas na lama fresca devido a repetidos ciclos úmido-secos de intensidade regular”,diz a apresentação do artigo, de autoria principal do geoquímico William Rapin, da Universidade Paul Sabatier, na França. “Em vez de atividade hidrológica esporádica induzida por impactos ou vulcões, nossas descobertas apontam para um clima sustentado, cíclico, possivelmente sazonal, no início de Marte”.

Padrões hexagonais identificados na cratera Gale são interpretados pelos cientistas como evidência de rachaduras de lama à medida que seca. Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS/IRAP/Rapin et al./Nature

Essas evidências demonstram que Marte já teve um clima mais parecido com o da Terra, além de adicionar mais peso à pilha de evidências de que as condições nos primeiros milhões de anos no Planeta Vermelho foram propícias ao surgimento da bioquímica – os fundamentos moleculares da vida.

Como a oscilação climática do passado de Marte foi descoberta

Como a superfície de Marte não é atormentada por atividade tectônica, ela mantém um registro geológico bastante abrangente da história do planeta, que remonta a 4,3 bilhões de anos. Neste registro, encontramos variados indícios de uma superfície encharcada – coberta de lagos, rios e oceanos – que existiu eras atrás.

Segundo Rapin, a série de padrões hexagonais bem preservados em rochas sedimentares encontradas por sua equipe no chão da cratera Gale, que são ricas em sais de cálcio e magnésio, datam de cerca de 3,6 a 3,8 bilhões de anos atrás, abrangendo dois períodos de tempo conhecidos como Noachiano e Hesperiano.

Com base no que acontece aqui na Terra, os cientistas sabem os tipos de processos que podem produzir esses padrões em uma bacia seca. Depois de analisar as possibilidades, eles concluíram que a explicação mais provável é uma sequência de secagens da lama úmida.

Um padrão poligonal de rachaduras identificado na cratera Gale, em Marte. Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS/IRAP/Rapin et al./Nature

Quando a lama úmida seca, ela racha em cruzamentos em forma de T. É a maturação ao longo de ciclos repetidos de secagem que produz as interseções de fissuras em forma de Y, resultando em um padrão hexagonal.

A equipe detectou que os sais na rocha padronizada estão em uma concentração muito maior do que no leito rochoso hospedeiro, sugerindo que esses sais foram depositados lá – provavelmente pela água salina permeando a lama, evaporando e deixando esses resíduos.

Por fim, a espessura da rocha padronizada sugere que as condições regulares de seco e úmido persistiram em Marte por milhares ou talvez milhões de anos.

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Embora ainda não haja qualquer evidência de vida microbiana em Marte, essas condições cíclicas recém-descobertas podem ter sido favoráveis para a organização de moléculas orgânicas em compostos complexos. 

“A adição de evidências diretas para uma série de ciclos úmido-secos repetidos apresentados aqui apoia a conclusão de que as condições na antiga cratera Gale eram propícias a processos de polimerização prebiótica”, diz o artigo. “Nossas descobertas sugerem que o período de transição Noachiano-Hesperiano poderia ter sido favorável para o surgimento de vida – possivelmente mais do que a era Noachiana anterior, com seu potencial para ambiente de superfície perenemente úmido”.

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