Como a China se tornou a principal potência nuclear mundial

A disputa entre China e Estados Unidos pela hegemonia mundial permeia todos os campos. E a energia nuclear não poderia ficar de fora. Nos últimos anos, os chineses investiram pesadamente no setor e já despontam como a nova potência mundial. Já os americanos têm um plano para não perder o domínio global na área nuclear.

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Construção de novos reatores nucleares

Atualmente, a China está construindo 21 novos reatores nucleares que terão capacidade para gerar mais de 21 gigawatts de eletricidade, de acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Número duas vezes e meio maior do que o da Índia, que tem o segundo maior investimento no setor, com oito reatores em construção que serão capazes de gerar mais de seis gigawatts de eletricidade.Já os Estados Unidos estão construindo um reator nuclear neste momento que será capaz de gerar pouco mais de 1 gigawatt. Para efeitos de comparação, um gigawatt é o suficiente para abastecer uma cidade de médio porte.

China já é considerada a líder mundial do setor

Os esforços de Pequim tornaram a China a principal potência nuclear mundial, segundo especialistas ouvidos pela CNBC.“A China é o líder mundial de fato em tecnologia nuclear no momento”, aponta Jacopo Buongiorno, professor de ciência e engenharia nuclear do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos EUA.Kenneth Luongo, presidente e fundador da Parceria para a Segurança Global, organização sem fins lucrativos de segurança nuclear e transnacional e política energética, concorda.“A China é a líder determinada e dinâmica na ambição nuclear global no momento. Está liderando, mesmo correndo à frente”, disse ele.

EUA foram ultrapassados

O investimento chinês dos últimos anos desbancou o antigo líder do setor: os Estados Unidos.Atualmente, existem 93 reatores nucleares operando em território norte-americano com capacidade para gerar mais de 95 gigawatts de eletricidade, de acordo com a AIEA.O segundo país com mais reatores nucleares em operação é a França, com 56, seguida pela China, com 55.Isso significa que o potencial de geração dos EUA ainda é o maior do mundo, mas deve ser ultrapassado pelos chineses em pouco tempo.“É geralmente aceito que os EUA perderam seu domínio global na energia nuclear. A tendência começou em meados da década de 1980. A China começou a construir seu primeiro reator em 1985, assim que a construção nuclear dos EUA começou um declínio acentuado”, observa Luongo.

Aquecendo a economia chinesa

Novos reatores nucleares tendem a ser construídos por economias em rápido desenvolvimento e que precisam de energia para alimentar esse crescimento.Embora mais de 70% da capacidade nuclear existente esteja localizada em países que fazem parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, quase 75% dos reatores nucleares atualmente em construção estão em países não membros da OCDE, e metade deles está na China, de acordo com o recente relatório da cadeia de suprimentos da Associação Nuclear Mundial.À medida que a economia chinesa cresceu, a produção de energia também cresceu. A produção total de energia do país atingiu 7.600 terawatts-hora em 2020, um aumento considerável em relação aos 1.280 terawatts-hora em 2000.“O principal imperativo é atender ao que tem sido um crescimento impressionante na demanda nos últimos vinte anos. Então, eles não estão apenas construindo muitos reatores nucleares, eles têm construído muito de tudo”, destaca John F. Kotek, vice-presidente sênior de desenvolvimento de políticas e assuntos públicos do Instituto de Energia Nuclear.

Usina nuclear localizada em Dezhou, província de Shandong, na China (Imagem: Chuyuss/Shutterstock)

Questão ambiental

Atualmente, a energia nuclear responde por apenas 5% do total de eletricidade produzido no país, enquanto o carvão representa cerca de dois terços, de acordo com a Agência Internacional de Energia.E é aqui que entra outra justificativa para os movimentos de Pequim: a questão ambiental.“Com o enorme crescimento no uso de carvão, juntamente com um aumento dramático na propriedade de veículos particulares, veio uma necessidade extrema de mais geração de eletricidade limpa”, afirma Kotek.A geração de energia nuclear não libera nenhum dos gases de efeito estufa que contribuem para o aquecimento global.“Os chineses são pró-nucleares há muito tempo, mas agora parecem ter se comprometido com uma escala verdadeiramente massiva de até 150 gigawatts em 15 anos. E eles parecem estar no caminho certo para atingir esse objetivo. Esta será a maior expansão de capacidade nuclear da história, de longe”, destaca Buongiorno.

Preocupações com o avanço chinês

Uma das razões para o domínio da China no setor é o forte controle do governo sobre o setor de energia e a maior parte da economia.“Eles construíram uma indústria financiada pelo Estado que lhes permite construir várias unidades nucleares a um custo mais baixo. Eles não têm nenhum molho secreto além de financiamento estatal, cadeia de suprimentos apoiada pelo Estado e um compromisso estatal para construir a tecnologia”, lembra Luongo.Mas todo esse avanço de Pequim gera preocupações do Ocidente.“A proeza e o compromisso da China com o nuclear são bons para a tecnologia, para a segurança energética, a estabilidade da rede, a economia e a poluição do ar da China, bem como para a mitigação das mudanças climáticas globais. Se eles começarem a exportar tecnologia nuclear para outros países, a preocupação é a dependência geopolítica-econômica da China que esses projetos vão criar para esses países. A mesma lógica se aplica à Rússia”, aponta Kenneth Luongo.

O plano dos EUA

Apesar do avanço chinês, os Estados Unidos ainda podem recuperar parte de seu antigo domínio no espaço nuclear, dizem os especialistas.Os EUA e a Europa começaram lentamente a investir em energia nuclear novamente nos últimos anos.“Esses países recomeçaram a construir usinas nucleares há apenas 10 ou 15 anos. A cadeia de suprimentos e a mão de obra especializada praticamente desapareceram, o que resultou em sérios estouros de custos e atrasos de cronograma”, disse Buongiorno.Os movimentos americanos no setor são motivados por acordos entre partidos políticos, mas também pelo anseio da população.Uma pesquisa recente do Pew Research Center apontou que o apoio à energia nuclear está em alta no país: 57% dos americanos dizem ser favoráveis a construção de mais reatores nucleares para gerar eletricidade, contra 43% em 2020.A Casa Branca está fornecendo subsídios para manter algumas usinas nucleares existentes abertas, vendendo alguns grandes reatores nucleares para a Europa Oriental. Mas a grande aposta é ampliar o mercado de tecnologia de pequenos reatores modulares e avançados e construir a capacidade de enriquecimento de combustível associada.“Os EUA podem recuperar o atraso se as novas tecnologias que estão sendo desenvolvidas aqui – pequenos reatores modulares e microrreatores acima de tudo – provarem ser técnica e comercialmente bem-sucedidas, o que atualmente é incerto”, explica Buongiorno.

Reator nuclear Vogtle 3 (Imagem: divulgação/Georgia Power)

O futuro da energia nuclear

Reatores nucleares menores são mais baratos porque são menores, mas também porque o design modular permite que as peças componentes sejam feitas em uma fábrica e montadas no local. Esse processo é mais rápido e barato do que construir cada reator de forma separada.“O governo dos EUA está despejando bilhões de dólares em seu desenvolvimento e demonstração na expectativa de que eles funcionarão, serão mais baratos do que grandes reatores e fornecerão aos EUA um mercado maior para sua exportação. Vamos ver onde estamos até 2027, quando o Congresso determinou a fase de manifestação”, afirma Luongo.Além de serem menores e mais baratos de construir, pequenos reatores modulares são adequados para fornecer calor para processos industriais, segundo Kotek, do Instituto de Energia Nuclear.Parte da tentativa dos Estados Unidos de reacender sua indústria nuclear é também seu desejo de ser um exportador de tecnologia de reatores nucleares.“Os EUA decidiram que estão em desvantagem na área de exportação nuclear e estão tentando se reposicionar para ser um grande concorrente nos próximos 15 anos. Isso começou com o governo Trump e Biden ampliou isso”, observa Luongo.Aqui, mais uma vez, americanos e chineses vão disputar o mercado internacional.A “briga” pela liderança global no setor da indústria nuclear vai ficar mais intensa à medida que a demanda por energia limpa continua a subir.

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