A Ciência da “Superlua”

Na semana passada ocorreu uma Lua Cheia no Perigeu, fenômeno popularizado em todo o mundo, só que através de um termo que muitos astrônomos torcem o nariz só de ouvir falar: superlua. O bom, é que essa atenção dada ao nosso satélite natural nesta época, é um excelente momento para a gente aprender um pouco mais sobre a Lua.

[ Superlua em Mataraca, PB – Foto: Amaro Miranda ]

Até pouco tempo atrás, o único ciclo lunar conhecido pela população em geral era o de suas fases. A cada 29,5 dias, a Lua passa pelas fases Nova, Crescente, Cheia e Minguante, devido à variação da incidência da luz solar na sua superfície visível aqui da Terra. Agora, para entender porque que durante a superlua, nosso satélite aparece um pouco maior no céu, é preciso saber que ele gira ao redor do nosso planeta em uma órbita elíptica, e por isso, ora a Lua está mais distante da Terra, ora está mais próxima. 

Quando chega no apogeu, ponto mais afastado da Terra, a Lua está a cerca de 406 mil km da Terra, e no perigeu, ponto mais próximo, a aproximadamente 363 mil km. Esses valores são médios porque na prática, variam bastante devido às influências gravitacionais do Sol e dos outros planetas do Sistema Solar. Isso faz com que a variação de distâncias entre o apogeu e o perigeu chegue a 14%, e por isso, durante o perigeu, a Lua pode parecer até 14% maior que no apogeu. E se isso acontecer durante a Lua Cheia, ela se tornará até 30% mais brilhante no céu.

[ Comparação entre o tamanho aparente da Lua Cheia no Perigeu (Superlua) e no Apogeu (Microlua) – Créditos: Catalin Paduraru ]

O tempo em que a Lua gasta para completar uma volta em torno da Terra é de aproximadamente 27,3 dias. Esse período é chamado de mês sideral, e é diferente do mês sinódico, que é o período de 29,5 dias entre duas Luas Cheias consecutivas, porque como a Terra também está girando em torno do Sol, a Lua precisa de um pouco mais de uma volta para apresentar o mesmo alinhamento com o Sol, e consequentemente, a mesma fase. O mesmo período do mês sideral, 27,3 dias, é o tempo em que nosso satélite natural leva para completar uma volta em torno de si mesmo. Isso porque ela está gravitacionalmente acoplada à Terra e, por isso, daqui sempre vemos a mesma face da Lua. Mas não é sempre exatamente a mesma face…

[ Mês sinódico e mês sideral: a Lua precisa de um pouco mais de uma volta para tornar a apresentar a mesma face iluminada – Imagem: wikimedia.org)

Isso por conta de um movimento chamado de “libração”, que é uma espécie de “rebolado” da nossa Lua que nos permite ver um pouco mais dos seus terrenos próximos ao limbo, que são as “bordas da Lua”. A libração ocorre principalmente por dois motivos: a inclinação do seu eixo de rotação e as diferenças de velocidade da Lua enquanto se aproxima e se distancia da Terra.

Existe uma inclinação de 6,7° do eixo de rotação da Lua em torno de si mesma em relação ao seu plano de revolução em torno da Terra. Então, da mesma forma como a inclinação do eixo de rotação da Terra gera as diferenças de insolação responsáveis pelas estações do ano, a inclinação do eixo de rotação da Lua faz com que, ao longo de um mês sideral, possamos observar um pouco mais de sua superfície, ora um pouco além do pólo norte, ora um pouco além do pólo sul lunar. Essa é a chamada “libração latitudinal”, pois nos permite ver diferentes latitudes da superfície lunar.

Mas também há uma “libração longitudinal”, que nos permite enxergar uma porção longitudinal maior da Lua. Devido ao acoplamento gravitacional com a Terra, os períodos de rotação e de revolução lunar são iguais. A Lua leva 27,3 dias para dar uma volta em torno de si e em torno da Terra também. Só que a velocidade de rotação é constante, enquanto a velocidade orbital da Lua varia dependendo de sua proximidade com a Terra. 

A Lua viaja ao redor da Terra numa velocidade média de 1 km/s. Mas quando está próxima do perigeu, essa velocidade aumenta entre 6% e 9%. Como a velocidade de rotação em torno de si mesma não aumenta, essa aceleração durante o perigeu nos permite enxergar um pouco mais da sua superfície leste. Já quando ela está próxima do apogeu, sua velocidade diminui cerca de 3%, permitindo enxergar um pouco mais da sua superfície oeste. 

O movimento combinado das librações latitudinal e longitudinal, e também da sua aproximação e afastamento da Terra, dá à Lua esse “balançado” que a faz parecer estar rebolando no céu. Mas isso só é perceptível quando condensamos as imagens da Lua feitas em vários dias distintos e observamos em alguns segundos. Para um observador casual, fica difícil perceber essa diferença.

Outra coisa interessante é que a Lua tem forte influência nos movimentos de marés dos nossos oceanos. Mas não só a Lua, o Sol também. Por isso, quando estão alinhados, durante a Lua Cheia ou Lua Nova, as marés são mais elevadas. São as chamadas “marés de cabeça” ou sizígias. E quando isso ocorre durante o perigeu lunar, como as forças de maré aumentam com a proximidade, temos as marés oceânicas mais elevadas ainda. Além da superlua, é claro!

A Lua Cheia é, de fato, muito mais atraente para casais apaixonados, cães e lobos, mas não para os astrônomos. Isso porque quando ela se encontra em sua máxima iluminação, praticamente não se enxerga sombras e são as sombras das crateras que nos permitem compreender um pouco mais do relevo lunar. 

Ainda assim, a iluminação mais uniforme de uma Lua Cheia nos permite enxergar com mais clareza as diferentes composições do solo lunar. Com um simples aumento na saturação das cores de uma foto da Lua, percebemos facilmente as diferenças de cores que indicam maiores concentrações de ferro e titânio na superfície lunar.

[ Superlua “mineral” registrada em Monte Horebe, PB. As cores indicam diferenças na composição do solo lunar – Créditos: Valmir Morais ]

Talvez o incômodo dos astrônomos com o termo superlua exista pelo fato da palavra ter sido cunhada na astrologia que é uma pseudociência com muito pouca credibilidade no meio astronômico. Mas independente de qualquer coisa, o fato é que esta atenção conquistada para a Lua em momentos como este, pode ser muito bem utilizada para a divulgação da ciência de verdade.

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