Asteroide 5 vezes mais destrutivo que o de Chelyabinsk se aproxima da Terra

Imagine a tranquilidade de uma manhã de trabalho sendo quebrada por uma imensa bola de fogo cruzando o céu, gerando um clarão capaz de ofuscar até mesmo a luz do Sol. Instantaneamente um vento quente te faz sentir a pele arder sob as roupas. Seu instinto de sobrevivência te leva a correr, mas é em vão. Você não consegue escapar da avassaladora onda de choque que chega alguns minutos depois, derrubando árvores e abalando as estruturas dos edifícios. Esta visão apocalíptica poderia ser um cenário possível caso nosso planeta fosse atingido pelo asteroide 2021 EU que se aproxima da Terra no final deste mês. Mas isso não vai acontecer. 

Embora um impacto seja uma possibilidade extremamente improvável, a aproximação desse asteroide pode ser uma excelente oportunidade para uma maior compreensão sobre a importância do trabalho de monitoramento desses objetos próximos à Terra, para que possamos estar preparados para eventos cósmicos potencialmente perigosos. Ao entendermos como a ciência detecta e rastreia essas rochas espaciais, calculando os riscos de impacto com nosso planeta, veremos que não há razões para comemorar o fim do mundo nem motivos para correr em pânico pelas ruas anunciando o apocalipse por conta da aproximação do asteroide 2021 EU.

O 2021 EU

[ Órbita do asteroide 2021 EU – Imagem: Reprodução ssd.jpl.nasa.gov ]

O 2021 EU é um asteroide, com cerca de 28 metros, descoberto em março de 2021 pelo Pan-STARRS no Observatório de Haleakala no Hawaii. Por ser relativamente pequeno, mesmo através de grandes telescópios, ele aparece apenas como um pálido ponto luminoso. Por isso, ele foi observado por apenas 16 noites, durante uma aproximação da Terra, e depois desapareceu na vasta escuridão do espaço. 

À primeira vista pode parecer frustrante descobrir uma rocha espacial de 30 metros numa noite e perdê-la de vista duas semanas depois. No entanto, esse é um dos desafios inerentes ao trabalho de monitoramento de objetos próximos à Terra. A grande maioria dos asteroides em nossa vizinhança cósmica foi descoberta desta forma.

Rochas desse tamanho, apesar do estrago potencial que podem causar aqui na Terra, são praticamente imperceptíveis na vastidão do espaço. Só conseguimos enxergá-las quando se aproximam o suficiente para serem percebidas nos espelhos dos nossos grandes telescópios. E só é possível distinguir o asteroide entre os milhares de pontos luminosos de estrelas distantes porque o asteroide se move. 

Como um asteroide é detectado no espaço

Embora tudo no Universo esteja em constante movimento, inclusive as estrelas distantes, quanto mais próximo o objeto está, mais rapidamente ele se moverá no campo de visão do telescópio. Dessa forma, estrelas praticamente não se movem, mesmo quando observadas por anos. Já nos planetas do Sistema Solar, podemos ver claramente sua mudança de posição a cada noite. E por isso, o processo de busca de asteroides próximos à Terra consiste no registro de pelo menos 3 imagens da mesma região do céu, feitas com o intervalo de alguns minutos. Sistemas automatizados varrem as imagens em busca de objetos que se movem e caso identifiquem algo que não esteja no catálogo de asteroides ou objetos artificiais conhecidos, um alerta é disparado. 

Sempre que um objeto é detectado, o astrônomo ou a equipe responsável envia uma notificação ao Minor Planet Center (ou MPC), órgão que centraliza as informações sobre os corpos menores do Sistema Solar. Quando o objeto é um NEO, sigla em inglês para Objeto Próximo à Terra, o MPC emite um alerta para os astrônomos de todo o mundo, para que eles possam fazer novas observações, coletando dados essenciais para a determinação da órbita do asteroide e para a avaliação das possibilidades de um eventual impacto com a Terra. 

Avaliação de Risco de Impacto

O risco de impacto de um asteroide com a Terra é geralmente calculado de forma automática a partir da determinação dos parâmetros orbitais do asteroide. Resumidamente, esses softwares utilizam os dados da órbita para calcular a posição futura do objeto, considerando inclusive a influência gravitacional de outros corpos do Sistema Solar. 

A possibilidade de impacto é dada pela posição do asteroide no momento de sua maior aproximação com a Terra. Devido às incertezas das medições, essa posição não é pontual, e sim uma área, chamada de elipse de incerteza, que indica onde o asteroide pode estar naquele determinado momento. Se essa zona de incerteza estiver totalmente dentro do nosso planeta, o impacto é certo. Se as incertezas forem maiores e a Terra estiver dentro da elipse, a possibilidade de impacto é calculada em função do tamanho da elipse de incerteza e da posição da Terra dentro dessa área. Obviamente, se nosso planeta estiver fora da elipse de incerteza, significa que não há risco de impacto e podemos seguir a vida…

Algo que ocorre com certa frequência com os asteroides mais próximos à Terra é que, em uma avaliação inicial, com uma incerteza ainda muito grande, nosso planeta pode aparecer dentro da elipse de incerteza, onde matematicamente existe um pequeno risco de impacto. Algumas vezes, é possível que as chances aumentem, caso novas medições diminuam a elipse mas mantenham a Terra dentro dela. Mas com o maior refinamento dos dados orbitais e uma maior redução da elipse de incerteza, na grande maioria dos casos, a Terra acaba ficando fora dessa elipse e livre de qualquer possibilidade de impacto com aquele asteroide.

Um dos sistemas que fazem automaticamente o cálculo dos riscos de impacto é o Sentry, da NASA. E no ranking do Sentry dos asteroides mais perigosos, o 2021 EU atualmente ocupa a terceira posição, com uma chance de 0,0024% de atingir a Terra no próximo dia 27 de fevereiro. É uma chance tão pequena que seria o equivalente a jogar um dado por 6 vezes e tirar 6 em todas as jogadas. 

Incerteza e imprecisão

No entanto, não podemos afirmar categoricamente que o asteroide errará a Terra, porque existe uma grande incerteza nos cálculos. Cada medição realizada pelos astrônomos possui uma margem de erro, e essa margem se propaga nos cálculos orbitais. Em alguns casos, como no do 2021 EU, essa margem pode significar a diferença entre uma passagem segura a 6 milhões de quilômetros de distância e um impacto catastrófico com a Terra. 

Para facilitar esse entendimento, podemos utilizar a analogia de traçar um círculo com base em três pontos da sua circunferência. As imprecisões das medições astronômicas poderiam ser representadas como um “alargamento” desses pontos e com isso, vários círculos semelhantes seriam possíveis passando dentro da margem de erro dos 3 pontos.  

Essa imprecisão é ampliada quando o asteroide é observado por um curto período de tempo, como é o caso do 2021 EU. Sua órbita, que tem um período de cerca de 3 anos, foi calculada com apenas 16 dias de observação. Isso equivale a traçar um círculo com base em três pontos que representam menos de 6° da circunferência total, resultando em dados orbitais de qualidade inferior. Se considerarmos a órbita central dentro da margem de erro, o 2021 EU deve passar a cerca de 6 milhões de quilômetros da Terra, o que é aproximadamente 15 vezes mais distante que a Lua.

Essa imprecisão só deve ser reduzida quando o asteroide for “recuperado”, ou seja, quando ele voltar a ser observado pelos programas de busca depois de completar uma órbita em torno do Sol. Se isso acontecer nos próximos dias, certamente irá afastar de vez a possibilidade de impacto, mas como esse asteroide se aproxima do nosso planeta vindo da direção do Sol, as melhores condições de observação dele devem ocorrer durante a sua passagem próxima ou depois dela. 

Efeitos de um improvável impacto

[ Rastro de fumaça deixado pelo meteoro de Chelyabinsk visto sobre os Montes Urais, na Rússia – Créditos: Alex Alishevskikh ]

Se você ainda assim estiver preocupado com o 2021 EU, acho importante lembrar que ele sequer é considerado um asteroide potencialmente perigoso. Isso não por conta das incertezas da sua órbita, mas sim porque ele é pequeno demais para causar danos significativos. 

Devido à sua massa estimada em 28 mil toneladas e a sua velocidade de 87 mil km/h, se atingisse a Terra teria um potencial destrutivo 5 vezes maior que o asteroide que atingiu Chelyabinsk em 2013. Mas isso teria apenas efeitos locais e só seria realmente catastrófico se ocorresse sobre uma cidade. E como as cidades ocupam apenas 2% da superfície do planeta, as chances de que isso realmente aconteça são ainda mais remotas. 

Podemos ficar tranquilos em relação ao 2021 EU, mas é importante destacar que esse mesmo asteroide já fez aproximações mais perigosas que essa, em 2021 e 2018, sem ser percebido. Isso nos mostra que devemos investir cada vez mais nos programas de busca que encontram e rastreiam esses objetos perigosos para o nosso planeta. Porque provavelmente, o asteroide mais perigoso para a Terra, ainda não foi descoberto. 

O post Asteroide 5 vezes mais destrutivo que o de Chelyabinsk se aproxima da Terra apareceu primeiro em Olhar Digital.

 

Você pode gostar...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *