Região brasileira pode virar deserto; saiba qual

A agricultora Ana Lucia da Silva, que vive na zona rural de Juazeiro (BA) há quase 25 anos, relata que o clima e a paisagem da região têm mudado ao longo do tempo. Ela já não consegue mais plantar mandioca e mamona, assim como seus pais e avós faziam. As chuvas diminuíram e se tornaram mais raras, tornando o clima cada vez mais quente. Ana Lucia e outros moradores fazem o trabalho no campo sofrendo com o calor intenso, em área que tem potencial de virar deserto no futuro.

Pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) identificaram cinco municípios do nordeste da Bahia que formam a primeira região de clima árido observada no Brasil: Rodelas (BA), Juazeiro (BA), Abaré (BA), Chorrochó (BA) e Macururé (BA). Essa região ocupa área de 5,7 mil km².

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Em novembro do ano passado, o Cemaden divulgou nota técnica que revelou essa descoberta. Conforme o Climatempo, a pesquisa analisou dados climáticos do país ao longo de 60 anos e comparou as mudanças nas condições climáticas em blocos de tempo de 30 anos. Com base na análise das alterações na radiação solar, precipitações, ventos e evaporação, os pesquisadores concluíram que o clima nessa região havia mudado.

Mudanças climáticas transformando região brasileira em deserto

Essa mudança do padrão de clima semiárido para árido tem impacto significativo, pois ocorre diminuição no índice de chuvas – de 800 mm por ano, em média, para 500 mm por ano;Essa redução nas chuvas é insuficiente para suprir a perda de água pela evapotranspiração, combinação de evaporação da água no solo e transpiração das plantas e corpos d’água;A pesquisadora do Cemaden, Ana Paula Cunha, afirma que o resultado da pesquisa foi inesperado, pois os pesquisadores esperavam apenas avanços do semiárido para outras regiões além do Nordeste e partes de Minas Gerais;Ela destaca que essa região apresenta aumento acentuado de temperatura desde a década de 60, e esse aumento tem sido ainda mais acelerado nos últimos anos;A pesquisa do Cemaden também demonstrou a relação entre o aquecimento global e a mudança no padrão climático no Brasil;O aumento das temperaturas acelera a evaporação, levando a déficit hídrico e a secas mais intensas;Dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indicam que a temperatura na superfície da Terra aumentou 1,1 °C entre 2011 e 2020 em comparação com o período de 1850 a 1900;No Brasil, esse aumento foi ainda mais intenso, chegando a 1,5 °C em média e até 3 °C em algumas regiões.

A redução na oferta de água devido à aridização já afeta a produção agrícola, a pecuária e a geração de energia no País. Atualmente, 49,8% da água disponível no Brasil é utilizada para atividades de irrigação. Além disso, 24,3% são usados para consumo humano, 9,7% pela indústria e 8,4% na agropecuária.

A desertificação é outro problema enfrentado na região. Apesar de não ser classificada como deserto, cerca de 85% do semiárido brasileiro sofre com processo de desertificação, o que leva à perda de fertilidade do solo, perda de biodiversidade e êxodo rural.

A agricultora Ana Lucia está buscando soluções para enfrentar as altas temperaturas e a escassez de chuvas, como o cultivo de espécies de plantas resistentes ao clima árido, como hortaliças e espécies da Caatinga. O pesquisador Javier Tomasella enfatiza que as soluções para a adaptação climática já existem e é necessário adotá-las quanto antes.

Diante desses desafios, o Ministério do Meio Ambiente encomendou o estudo do Cemaden e planeja lançar novo plano de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca ainda este ano.

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