Explosões de supernovas próximas podem ameaçar a vida na Terra?

A atmosfera da Terra tem sido um escudo protetor do planeta por bilhões de anos, abrigando uma rica biodiversidade e permitindo a evolução de formas de vida complexas. Nesse processo, a camada de ozônio desempenha um papel crucial, bloqueando 99% da radiação ultravioleta (UV) mortal emitida pelo Sol. Além disso, a magnetosfera da Terra protege o planeta de partículas solares e cósmicas. 

Mas, fica o questionamento: o quanto essas proteções são eficazes contra as poderosas explosões de supernovas?

Remanescentes de uma supernova. Créditos: Wasim Raja/CSIRO; Pascal Elah/Pawsey

A cada milhão de anos, uma estrela massiva explode dentro a 326 anos-luz da Terra. Sabemos disso porque nosso Sistema Solar está localizado dentro de uma região chamada Bolha Local, onde a densidade de hidrogênio é significativamente menor devido a uma série de explosões de supernovas que ocorreram entre 10 a 20 milhões de anos atrás. Essas explosões são extremamente perigosas e, quanto mais próximas da Terra, mais severos são seus efeitos.

Supernovas e o risco de extinções em massa na Terra

Os cientistas há muito especulam sobre os impactos dessas supernovas na Terra, incluindo a possibilidade de extinções em massa. A radiação gama e os raios cósmicos de uma supernova podem esgotar a camada de ozônio, permitindo que a radiação UV atinja a superfície do planeta. Além disso, a formação de aerossóis na atmosfera pode aumentar a cobertura de nuvens e causar um resfriamento global significativo.

Um estudo recente, publicado na revista Nature Communications Earth and Environment, investigou os efeitos das supernovas na Terra. Liderado por Theodoros Christoudias, do Instituto de Chipre, sugere que a camada de ozônio é mais resiliente do que se pensava anteriormente.

Evidências de supernovas próximas incluem a presença do isótopo radioativo ferro-60 (60Fe) em sedimentos oceânicos, indicando explosões há cerca de 2 e 8 milhões de anos. Pesquisadores também correlacionaram uma supernova com a extinção do Devoniano Tardio, há aproximadamente 370 milhões de anos. Eles encontraram esporos de plantas queimados pela luz UV, sugerindo um esgotamento significativo da camada de ozônio durante esse período.

Gráfico do artigo de pesquisa mostra os potenciais impactos atmosféricos e climáticos de uma supernova próxima. Crédito de imagem: Christoudias et al., 2024

A camada de ozônio da Terra está em constante fluxo, regenerando-se continuamente após ser quebrada pela radiação UV. No entanto, uma supernova próxima poderia sobrecarregar esse ciclo, diminuindo a densidade do ozônio e permitindo que mais radiação UV chegasse à superfície.

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Sem ameaça significativa

Usando um modelo de Sistemas Terrestres com Química Atmosférica (EMAC), os pesquisadores simularam os efeitos de uma supernova a 326 anos-luz de distância. Eles descobriram que o esgotamento máximo de ozônio sobre os polos seria menor do que o buraco de ozônio atualmente observado sobre a Antártida, resultando em uma perda de 60% a 70% da coluna de ozônio. Apesar disso, a depleção média global seria de cerca de 10%, similar ao impacto da poluição antropogênica atual, e não representaria uma ameaça significativa à biosfera.

Para períodos anteriores, como o pré-Cambriano, quando a atmosfera tinha apenas 2% de oxigênio, a perda de ozônio seria maior, mas ainda assim não teria um impacto catastrófico na biosfera emergente.

O estudo também avaliou o impacto no resfriamento global. A formação aumentada de núcleos de condensação de nuvens (CCN) sobre os oceanos Pacífico e Sul poderia resfriar a atmosfera, mas não de forma perigosa. Essas mudanças seriam comparáveis à diferença entre a atmosfera pré-industrial e a atmosfera poluída atual.

De acordo com o UniverseToday, os pesquisadores ressaltam que, apesar de a radiação ionizante elevada representar riscos à saúde humana e animal, a biosfera como um todo continuaria a prosperar. “Descobrimos que é improvável que supernovas próximas tenham causado extinções em massa na Terra”, concluíram os autores, indicando que a atmosfera e o campo geomagnético do nosso planeta fornecem proteção suficiente para permitir a evolução contínua da vida.

Este estudo reafirma a resistência da biosfera da Terra contra explosões de supernovas, desde que estas mantenham uma distância segura. Nossa atmosfera e magnetosfera são mais do que capazes de lidar com a radiação adicional, garantindo que a vida na Terra possa continuar a evoluir e prosperar apesar das ameaças cósmicas.

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