Categoria: Ciência e Saúde

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Mayaro e o que mais? Unicamp aponta possível transmissão urbana do vírus em Roraima e vê indícios de novas ameaças

Pesquisa de mestrado confirmou a circulação do vírus em humanos, mas também jogou luz sobre o surgimento de novos patógenos em uma região que tem sofrido com o desequilíbrio ambiental. Imagem de imunofluorescência do vírus mayaro em amostra de paciente de Roraima (RR) analisada por pesquisadores da Unicamp
Reprodução/Unicamp
Uma estudo desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp confirmou a circulação do vírus mayaro entre humanos no estado de Roraima (RR). Mais do que isso, apontou uma possível transmissão urbana da doença, que provoca sintomas semelhantes aos da chikungunya, sendo identificada em moradores que não relataram qualquer atividade em áreas de mata.
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Das 822 amostras de pacientes em estado febril coletadas pelo Laboratório Central de Saúde Pública de Roraima (Lacen), entre 2018 e 2021, foram identificadas a presença do mayaro em 3,4% delas, mas em 60% dos casos, as pessoas testaram negativo para os oito vírus analisados, o que pode ser indício de circulação de novos patógenos.
“Havia o indicativo de que aquelas pessoas estavam doentes. Alguma coisa elas tiveram, a gente que não conseguiu achar”, explica José Luiz Proença Módena, coordenador do Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes (LEVE) da Unicamp.
Impacto ambiental
Vista aérea de Boa Vista, em Roraima, no dia 27 de janeiro de 2024.
Rede Amazônica
Tanto a descoberta da circulação do mayaro entre humanos em Roraima, fruto do mestrado da bióloga Julia Forato, divulgado pela revista Emerging Infectious Diseases, publicação do Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (ou CDC, na sigla em inglês), quanto a hipótese de novas ameaças virais jogam luz sobre o mesmo problema: o desequilíbrio ambiental.
“Tudo está relacionado com o impacto ambiental. Onde tem vírus? Onde tem vida. Então falamos de uma diversidade enorme, que ainda não conhecemos. A partir do momento que o homem impacta e entra em contato com essas áreas, derruba, queima, tem um gargalo de seleção em que um desses vírus passa a infectar quem está entrando naquele ambiente”, explica Módena, que complementa:
“A gente está se pondo lá. Alguns serão extintos, mas os vírus têm uma capacidade enorme de adaptação, alta taxa de mutação, e ocorre uma seleção de um que seja capaz de infectar e transmitir entre pessoas”.
Em Roraima, a combinação entre áreas que sofrem com desmatamento, queimadas e exploração ilegal, como os garimpos, aliado a fluxos migratórios intensos nos últimos anos, potencializa a disseminação de vírus ou surgimento de novas ameaças.
De acordo com os pesquisadores, os dados obtidos no estudo mostram, ainda que poucos casos foram confirmados, que há um indício importante do ciclo urbano do mayaro, mas esse processo ainda precisa ser estabelecido.
Febre do Mayaro é transmitida pelo mosquito do gênero Haemagogus, mas já houve comprovação em laboratório da possiblidade de infecção do Aedes aegypti pelo MAYV
Pixabay/Divulgação
O mayaro tem como vetor o Haemagogus janthinomys, mosquito silvestre que é conhecido por disseminar a febre amarela. Em laboratório, já houve a comprovação de que é possível que outro mosquito, bem conhecido nos meios urbanos, transmitir o vírus.
Por isso mesmo, há o temor de que seja possível estabelecer uma cadeia de transmissão pelo Aedes aegypti, em evidência pelos casos de dengue, mas que também já foi um vetor da febre amarela, por exemplo.
“Essa é a principal preocupação, se o Aedes, que é mosquito urbano, é capaz de disseminar. A partir do momento que sabermos que isso acontece, não se sabe o impacto diante de uma população que nunca teve contato com esse vírus”, destaca Júlia Forato.
O que se sabe sobre a doença
Mayaro: veja o que se sabe sobre o vírus que circula no Brasil
O mayaro é uma espécie de ‘primo’ da chikungunya e provoca as mesmas reações nos pacientes, como as febres e intensas dores musculares e articulares que podem se prolongar por meses. Há registros de complicações sérias, como hemorragia, problemas neurológicos e até a morte. Ainda não há imunização ou tratamento específico para a doença.
“Aquela doença que classicamente é leve, febril, em que uma parte das pessoas vai ter artrite, isso ocorre no contexto de poucos infectados. Com muitos infectados, começam a aparecer as complicações, os quadro neurológicos. Os problemas graves aparecerem”, alerta Módena.
O vírus mayaro foi isolado pela primeira vez na década de 1950 a partir de amostras de sangue de pacientes infectados em Trinidad e Tobago, na América Central.
Mayaro, dengue, zika e chikungunya: veja semelhanças e diferenças entre os vírus transmitidos por mosquitos
Casos no Brasil foram registrados já em 1955, em um surto em Belém (PA), e posteriormente em outras partes da Amazônia e do Centro-Oeste. Houve registro de casos no Rio de Janeiro, em 2019, e um estudo da USP apontou a circulação do mayaro no interior de São Paulo.
No caso do mayaro, mamíferos – incluindo os humanos – e até aves já foram descritos como hospedeiros para o vírus, ou seja, são “reservatórios” cujo material infectado é transmitido pelos mosquitos – os insetos do gênero Haemagogus são o principal vetor.
Importância da ciência
Imagem da estrutura do vírus Mayaro. Na imagem, a partícula viral está em parte aberta para possibilitar a visualização de todas suas proteínas. Cada uma das proteínas que forma a partícula viral está representada por uma cor (verde, cinza e vermelho). Os açúcares que são ligados as proteínas estão em cor laranja.
CNPEM/MCTI
Os pesquisadores da Unicamp reforçam que o trabalho, desenvolvido com apoio de outras instituições do Brasil e do exterior, reforça a necessidade de investimento na ciência para monitoramento e conhecimento sobre os vírus emergentes.
O coordenador do LEVE ressalta que o Brasil, em virtude da sua enorme biodiversidade, é considerado pelos grandes órgãos internacionais, incluindo a Organização Mundial de Saúde (OMS), um dos hotspots, ou zona quente, para o surgimento de novos vírus.
“Por exemplo, nas amostras desse estudo, muitas foram negativas. Eram pacientes com sintomas, mas que não houve confirmação de nenhum dos oito vírus que a gente testou. A gente não sabe o que está circulando ali. Não sabemos se pode ter um vírus com potencial para provocar alguma coisa maior”, alerta Módena.
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‘Ciência Aberta’: centro que abriga o Sirius terá dia exclusivo para receber escolas e grupos de alunos; saiba como se inscrever

Pela 1ª vez, evento que apresenta curiosidades e atrações da ciência terá data reservada para instituições de ensino. No sábado, 10 de agosto, CNPEM abre as portas ao público em geral. Sirius, laboratório de luz síncrotron de 4ª geração, reforça a ciência no enfrentamento do novo coronavírus
Nelson Kon
Um dos maiores centros de produção científica do Brasil, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que abriga o superlaboratório Sirius, em Campinas (SP), promove em agosto a 6ª edição do “Ciência Aberta”, evento gratuito que oferece contato direto entre público e cientistas.
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A novidade deste ano é que o evento que apresenta curiosidades e atrações da ciência será realizado em dois dias, sendo que um deles, a sexta-feira, 9 de agosto, será excluviso para receber excursões de instituições de ensino e grupos de alunos de todo o Brasil.
As escolas e grupos interessados devem preencher o formulário na página do evento.
No sábado, dia 10 de agosto, o evento seguirá o mesmo molde das outras edições, sendo aberto ao público geral, sem necessidade de cadastramento prévio. Em 2023, o CNPEM recebeu 16 mil vistantes, que percorreram 85 atrações.
Além de atividades no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), que abriga o Sirius, acelerador de partículas brasileiro, o evento apresenta atrações nas áreas de biociências, nanotecnologia e biorrenováveis.
“Tem sido muito gratificante acompanhar o crescente interesse de crianças, jovens e adultos por ciência e constatar o encantamento que toda a estrutura e o trabalho desenvolvido no CNPEM provoca nas pessoas”, comentou, em nota, Antonio José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM.
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Arquivo CNPEM
O que é o Sirius?
Principal projeto científico brasileiro, o Sirius é um laboratório de luz síncrotron de 4ª geração, que atua como uma espécie de “raio X superpotente” que analisa diversos tipos de materiais em escalas de átomos e moléculas.
Para observar as estruturas, os cientistas aceleram os elétrons quase na velocidade da luz, fazendo com que percorram o túnel de 500 metros de comprimento 600 mil vezes por segundo. Depois, os elétrons são desviados para uma das estações de pesquisa, ou linhas de luz, para os experimentos.
Esse desvio é realizado com a ajuda de ímãs superpotentes, e eles são responsáveis por gerar a luz síncrotron. Apesar de extremamente brilhante, ela é invisível a olho nu. Segundo os cientistas, o feixe é 30 vezes mais fino que o diâmetro de um fio de cabelo.
Ciência Aberta – CNPEM
Dias: 9 e 10 de agosto
Local: Rua Giuseppe Máximo Scolfaro, 10.000, Polo II de Alta Tecnologia de Campinas, Campinas
Horário: no sábado, 10 de agosto, a partir das 9h, e com último horário de admissão às 15h.
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MC Marcinho usa terapia conhecida como ECMO, espécie de pulmão artificial; entenda como funciona

Cantor está internado na UTI e com o pulmão incapaz de absorver o oxigênio. Por isso, foi preciso ‘substituir’ o órgão. A ECMO age como um pulmão artificial e oxigena o sangue fora do corpo. ECMO: entenda como funciona a terapia usada em MC Marcinho
Um dos maiores nomes da história do funk carioca, Marcio André Nepomuceno Garcia, o MC Marcinho, está desde segunda-feira (10) na UTI do Hospital Copa D’Or após uma parada cardiorrespiratória.
De acordo com o boletim médico divulgado nesta terça (11), foi necessário o uso de uma terapia conhecida como ECMO – Oxigenação por Membrana Extracorpórea, na tradução. Ou seja, a oxigenação do paciente será feita por uma membrana fora do corpo.
A ECMO foi muito utilizada por pacientes da Covid, como o ator Paulo Gustavo, morto em 2021. Apesar de o artista não ter resistido à longa internação, a terapia salvou dezenas de outros pacientes (veja relatos).
Como funciona a Ecmo
A ECMO retira e filtra o sangue
Reprodução/TV Globo
Em alguns pacientes, o pulmão se torna incapaz de absorver o oxigênio. Por isso, é preciso “substituir” o órgão. É nessa hora que a ECMO entra. O equipamento age como um pulmão artificial e oxigena o sangue fora do corpo.
Segundo médicos, a ECMO possibilita que pulmão debilitado repouse enquanto o aparelho devolve o sangue oxigenado artificialmente para o corpo. A terapia funciona como uma ponte para a recuperação.
Quando o paciente está na máquina, ele precisa estar sedado. “O pulmão passa a ser a membrana. Controlamos o gás carbônico e o oxigênio por essa membrana. Deixamos o pulmão parado para desinflamar”, explicou o fisioterapeuta cardiorrespiratório e de Terapia Intensiva Fábio Rodrigues.
Veja depoimentos de recuperados da Covid que fizeram mesma terapia que Paulo Gustavo: ECMO
Diferente do ventilador mecânico
Apesar de semelhantes, a ventilação mecânica não é igual a ECMO. O ventilador dá oxigênio, promove as trocas gasosas e dá pressão para o pulmão ficar aberto. Ele não substitui o pulmão. Ele vai favorecer a fisioterapia e a recuperação do pulmão.
No entanto, o suporte tem um limite e, quando o ventilador não consegue fazer o pulmão lesado funcionar bem, e não há mais troca de oxigênio, a ECMO é indicada.
Tipos de terapia
A terapia já existe há muitos anos e pode ser de dois tipos:
Veno-venosa: utilizada em pacientes com insuficiência respiratória. O sangue é retirado de uma veia central, passa pela membrana extracorpórea onde é realizada a troca gasosa e retorna por uma veia central. Essa é a terapia usada nos casos de Covid-19 e também no ator Paulo Gustavo.
Veno-arterial: utilizada em casos de insuficiência cardíaca. Fornece tanto suporte respiratório como circulatório. O sangue retorna para o sistema arterial e fornece suporte hemodinâmico, além do suporte ventilatório.
Para todas as idades e sem prazo
O equipamento pode ser usado em pessoas de todas as idades, desde recém-nascidos até idosos, e está disponível tanto na rede privada quanto pública, em hospitais de referência.
Os especialistas explicam que não existe prazo para o paciente ficar na ECMO. A retirada é feita se houver excesso de coágulo no circuito, sangramento excessivo ou se o pulmão melhorar.
Veja quando o uso é contraindicado:
Falência múltipla de órgãos
Doenças pulmonares ou cardiovasculares irreversíveis
Pacientes que passaram muito tempo em ventilação e já têm danos pulmonares
Coagulopatia grave e/ou hemorragia
Outras anomalias congênitas

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Cuidar bem dos dentes é bom para o cérebro

Comprometimento da saúde oral está relacionado à diminuição do volume do hipocampo, cujas células são as primeiras a serem danificadas pelo Alzheimer Não é a primeira vez que trato do tema, mas sempre é bom voltar ao assunto até que não somente as pessoas, mas também os gestores públicos se deem conta da sua relevância. Estudo publicado semana passada na revista científica “Neurology” afirma que a periodontite (doença das gengivas) e a perda de dentes estão associadas ao encolhimento do hipocampo, região do cérebro que desempenha papel crucial na memória e cujas células são as primeiras a serem danificadas pelo Alzheimer. Os cientistas enfatizam que não é possível garantir que o achado representa uma prova cabal de que tal quadro leva à demência, mas sugerem uma relação entre as condições.
Comprometimento da saúde oral está relacionado à diminuição do volume do hipocampo
Joseph Shohmelian para Pixabay
“Na velhice, a periodontite provoca a retração da gengiva e a perda dos dentes, por isso é tão importante avaliar a potencial relação entre esse problema e o desenvolvimento de demência. Nosso estudo aponta que tal condição pode afetar a parte do cérebro que controla a memória e o raciocínio”, disse Satoshi Yamaguchi, professor da Universidade Tohoku (Japão) e coautor do trabalho.
Uma boca doente é uma espécie de berçário de agentes inflamatórios que podem se espalhar pela corrente sanguínea e chegar ao cérebro, contribuindo para a sucessão de eventos que levam à demência. Israel, por exemplo, tem um projeto ambicioso para oferecer atendimento odontológico para todos os idosos acima de 65 anos, recuperando a saúde oral dos cidadãos, o que inclui limpeza, tratamento de canal e realização de implantes.
No começo do levantamento, os participantes tinham, em média, 67 anos e não apresentavam distúrbios de memória. Todos foram submetidos a exames odontológicos e ressonância magnética do cérebro, para medir o volume do hipocampo. A nova rodada de check-up ocorreu quatro anos depois e os pesquisadores notaram que a presença de periodontite, de moderada a severa, e a perda de dentes estavam associadas a alterações no hipocampo.
Em outro estudo, sobre os malefícios do sedentarismo, pesquisadores da Universidade de Cambridge mapearam como pessoas acima dos 60 que diminuem a atividade física pioram sua qualidade de vida. Exercícios de moderados a intensos, que elevam a frequência cardíaca, reduzem o risco de diversas enfermidades, como doença coronariana, acidente vascular cerebral, diabetes e câncer. Embora o ideal preconizado seja de 150 minutos por semana, idosos se beneficiam se interromperem os longos períodos em que permanecem sentados – pelo menos ficando de pé.
Foram monitorados cerca de 1.400 participantes que usavam acelerômetros, dispositivos que medem o nível de atividade física. Paralelamente, o grupo respondeu a questões sobre seu bem-estar que incluíam perguntas sobre a capacidade de cuidar de si mesmo, desconforto com dores e ansiedade. Cada indivíduo recebia uma nota de zero a um: quanto mais próximo de zero, pior a qualidade de vida. Índices baixos estavam relacionados ao aumento de risco de hospitalização e morte precoce.
Os idosos foram acompanhados por seis anos e, na média, tanto homens quanto mulheres passaram a se exercitar 24 minutos menos por dia: o sedentarismo aumentou 33 minutos diários para os homens e 38 minutos para as mulheres. Uma hora de atividade física por dia significava a elevação de 0.02 na pontuação de qualidade de vida. Já cada minuto a menos de exercício fazia o placar cair 0.03 – resumindo, quem reduzisse em 15 minutos o tempo dedicado a algum tipo de “malhação” ficaria com a “nota” de 0.45.

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Cuidado para não sabotar o seu futuro eu

Livro mostra como relutamos em valorizar nossas necessidades a longo prazo Hal Hershfield é professor de marketing, decisão comportamental e psicologia da Universidade da Califórnia, Los Angeles. Mês passado, lançou “Your future self: how to make tomorrow better today” (“Seu futuro eu: como tornar o amanhã melhor hoje”), onde aborda a dificuldade de planejamento a longo prazo e como trabalhar para reverter essa “inaptidão” que embute sérias consequências. O livro é resultado de uma década de pesquisas e explora a importância de nos conectarmos com nosso eu, como explicou em palestra on-line que pode ser acessada aqui:
Hal Hershfield, professor de marketing, decisão comportamental e psicologia da Universidade da Califórnia e autor de “Your future self: how to make tomorrow better today”
Reprodução
“Gosto de usar uma imagem do dia a dia para mostrar como nossa mente funciona. Imagine a situação: um colega de trabalho, de quem você não é próximo, pede ajuda para fazer a mudança no próximo sábado. É claro que você tem uma lista de cem coisas mais importantes para resolver e vai arranjar uma boa desculpa para se livrar do chato. O incrível é que agimos da mesma forma com nosso futuro. A tendência é nos imaginarmos como uma outra pessoa, com a qual não temos qualquer proximidade e que, portanto, não é prioridade. Quando alimentamos essa conexão, fica mais fácil tomar decisões melhores”.
Hershfield afirma que devemos imaginar diferentes “futuros eus”: daqui a cinco, dez ou 30 anos. “O exercício nos incentiva a pesar a consequências de nossos atos e vale até para controlar os níveis de colesterol e a circunferência da cintura. Os danos não acontecerão com um estranho!”, enfatiza, acrescentando que, para ele, ter filhos pequenos se transformou numa ferramenta poderosa para pensar no longo prazo:
“Estamos prontos para nos sacrificar por várias pessoas: nossos pais, filhos, amigos. Por que é tão difícil nos sacrificarmos por nós mesmos? E o mais interessante é que agir assim acaba impactando negativamente as pessoas que prezamos tanto, porque poderemos não estar em condições de ajudá-las”.
O professor sugere uma “visualização do eu” para criar a conexão e facilitar o controle de impulsos negativos. Comece escolhendo um determinado campo – pode ser saúde, relacionamentos ou aposentadoria – e pense na versão de si que gostaria de ter daqui a um determinado tempo. Faça um esforço para criar um quadro bem detalhado, para recorrer a essa idealização quando estiver prestes a fraquejar. O arsenal de Hershfield inclui o que chama de “incentivos”, como uma bem bolada “punição” que vai depender do auxílio de um amigo:
“Imagine que você belisca alimentos pouco saudáveis toda noite e estabelece que só fará isso uma vez por semana. Chame alguém de confiança, para quem você não mente, para ser seu ‘auditor’. Se reconhecer que não cumpriu a meta, ele vai usar seu cartão de crédito (na versão brasileira, um Pix) para fazer uma doação para uma causa com a qual você, definitivamente, não concorda. Parece estranho, mas é bem eficiente quando adotamos essa intervenção punitiva”.
O autor sugere que cada um escreva uma carta para si mesmo no futuro, fazendo depois o caminho oposto: uma mensagem do seu eu maduro para o eu presente ainda não convencido sobre o caminho a trilhar. Tudo vale a pena para criar bons hábitos que se perpetuem.

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Por que nossos órgãos envelhecem de forma diferente

Em nível celular, a idade biológica pode estar indo mais rápido que a cronológica Quando pensamos em nossa idade, o que vem à mente é o número que nos acompanha o ano inteiro, até o aniversário seguinte. No entanto, em nosso organismo, há nuances: os órgãos apresentam diferentes graus de envelhecimento. De acordo com os especialistas, os ovários, por exemplo, já se encontram numa fase “geriátrica” quando a mulher está na casa dos 30! É possível comparar com um carro: a pintura pode durar décadas e o motor continuar funcionando (se a manutenção for de qualidade), mas algumas peças precisam ser trocadas…
Mulheres correndo: padrão de envelhecimento dos órgãos varia
Milachalpadmashanti para Pixaba
Muitos cientistas vêm se dedicando a estudar as características do relógio biológico e um dos primeiros a brilhar nesse campo foi Steve Horvath, da Universidade da Califórnia Los Angeles (UCLA). Em 2013, ele apresentou seu “relógio Horvath”, capaz de medir alterações do DNA que vão ocorrendo ao longo do tempo.
Os biomarcadores indicam se a idade biológica está indo mais rápido que a cronológica e hoje está claro que, em nível celular, o envelhecimento é desigual no corpo humano.
O neurocientista Andrew Zalesky, professor da Universidade de Melbourne e criador do DunedinPace, um outro “relógio epigenético”, mostrou em estudo publicado na “Nature Medicine” que o envelhecimento de um sistema do corpo humano pode afetar profundamente os demais sistemas e órgãos. A degradação do sistema pulmonar tem efeito no coração que, por sua vez, provoca o declínio de outros sistemas – cada ano de envelhecimento biológico do coração representa uma “taxa extra” de mais 27 dias na idade do cérebro.
O objetivo é, no futuro, transformar em alvos os órgãos que estão se desgastando mais rapidamente para tentar deter os danos sofridos e seus efeitos sobre o resto do organismo.
Por enquanto, a ciência avança com uma grande parceira dos pesquisadores: a drosófila, ou mosca-da-fruta. Cerca de 75% dos genes associados a doenças que acometem os seres humanos têm um correspondente no inseto. Um time composto por profissionais de diversas instituições criou um atlas no qual mapeou o processo de envelhecimento de 163 tipos de células da mosca-da-fruta, cada uma com seu próprio padrão: enquanto as do cérebro envelhecem lentamente, as dos músculos e fígado se deterioram mais velozmente. As conclusões foram publicadas na revista “Science”.

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Obesidade, ansiedade e inflamações: entenda como suplemento de óleo de coco pode se tornar ‘vilão’ na dieta

Alimento é rico em gordura saturada. Estudo realizado na Unicamp identificou alterações no sistema nervoso central após experimento em camundongos. Suplementação com óleo de coco pode causar danos à saúde, diz pesquisa da Unicamp
Pixabay/Divulgação
Ganho de peso, comportamento ansioso e aumento de marcadores inflamatórios são algumas das consequências do uso prolongado do óleo de coco como suplemento alimentar. É o que aponta um estudo realizado pelo Laboratório de Distúrbios do Metabolismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Segundo o professor e doutor em biologia funcional e molecular Márcio Alberto Torsoni, os pesquisadores ofereceram a um grupo de camundongos saudáveis, durante oito semanas, uma dose diária de óleo de coco equivalente ao consumo de uma colher de sopa.
“A primeira coisa é que o animal ganhou mais peso. Ele aumentou a quantidade de tecido adiposo e um efeito importante relacionado a esse ganho de peso é que o animal ativou processos inflamatórios. Esses processos levam ele, por exemplo, a não perceber alguns sinais hormonais”, explica Torsoni.
Os impactos negativos foram percebidos na leptina e insulina, dois hormônios centrais para o metabolismo e que são responsáveis por sinalizar ao sistema nervoso, por exemplo, a sensação de saciedade e o controle dos níveis de açúcar no sangue.
“Quando a gente perde essa capacidade [de sinalização], você vai diminuindo o sinal de saciedade, então você vai tendo mais fome, vai aumentando a deposição de gordura e ganhando peso. […] Além disso, a gente também viu alguma alteração de comportamento do animal, de ansiedade e aprendizado”, afirma.
Processos silenciosos
O pesquisador ressalta que, diferentemente de outros óleos utilizados no dia a dia, o óleo de coco é rico em ácido graxo saturado, popularmente conhecido como gordura saturada. Esse tipo de gordura é comum em produtos animais, como banha de porco, e tem grande poder inflamatório.
“Consumindo de maneira crônica, isso causa problemas. E foi o que a gente viu: a ativação de processos inflamatórios no animal. A maior parte da gordura que eu tenho nesse óleo [de coco] é o que nós chamamos de gordura saturada”, detalha Torsoni.
O cérebro dos camundongos também foi afetado pela suplementação. De acordo com os pesquisadores, os efeitos foram percebidos no hipocampo, a região do órgão que está ligada à ansiedade e a distúrbios de comportamento.
“Esses processos inflamatórios, que são silenciosos, chegam no sistema nervoso central. São moléculas produzidas pelo corpo e que são importantes, mas quando são produzidas em maior quantidade, começam a causar danos em estruturas, como os neurônios do hipocampo”, diz.
Imagem microscópica do tecido adiposo branco dos camundongos controle (CV) e os suplementados com óleo de coco em duas doses diferentes (CO100 e CO300). m azul a marcação identificando núcleo celular (TROPO), em verde a marcação da perilipina marcando a célula adiposa e em vermelho a marcação (F4/80) que indica o aumento da presença de macrófagos no tecido adiposo.
Marcio Alberto Torsoni
Dose segura
Torsoni frisa que o consumo seguro do óleo de coco é possível desde que seja feito em pequenas quantidades, conforme prevê o Guia Alimentar para a População Brasileira, desenvolvido pelo Ministério da Saúde. O importante, diz o pesquisador, é manter uma dieta balanceada e sem exageros.
“Uma coisa que eu chamo atenção é que tem muita coisa na moda na internet. O que levou a gente foi exatamente isso. Há uns anos aumentou muito o número de pessoas que passou a fazer uso do óleo de coco e não tinha fundamentação científica nenhuma”, destaca.
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Crianças e adolescentes que sobrevivem ao câncer têm risco aumentado para distúrbios psicológicos

O diagnóstico e o tratamento são traumatizantes em todas as faixas etárias, mas estudos mostram que o impacto é especialmente duro para pacientes jovens Anualmente, cerca de 300 mil crianças e adolescentes, entre zero e 19 anos, são diagnosticados com câncer, sendo que os tipos mais comuns são leucemias, linfomas e tumores do sistema nervoso central. Nos países ricos, graças aos avanços no tratamento, mais de 80% dos jovens pacientes sobrevivem cinco ou mais anos, um aumento considerável em comparação com a década de 1970, quando essa taxa era de apenas 58%. Entretanto, no Brasil, embora o percentual varie regionalmente, a média de cura está em 65%.
Crianças que sobrevivem ao câncer têm um risco aumentado para desenvolver problemas psicológicos
Vitor Garcia para Pixabay
Com prognósticos melhores para a doença, as complicações enfrentadas pelos sobreviventes vêm ganhando maior destaque. O diagnóstico e o tratamento são traumatizantes em todas as faixas etárias, mas estudos têm mostrado como o impacto é especialmente duro para os jovens. Eles sugerem que crianças e adolescentes que superam o câncer têm mais chances de problemas, não somente aqueles relacionados à enfermidade, mas também distúrbios psicológicos, como explica a psicóloga Jeanelle Folbrecht, diretora de um programa para adolescentes no centro médico City of Hope, em Los Angeles:
“Esses jovens pacientes lidam com um enorme volume de tristeza. Não se trata apenas do peso de ter a vida abreviada, porque muitos sobrevivem, mas de uma sensação de luto sobre como suas vidas seriam sem o câncer. É um luto relativo a limitações físicas, à impossibilidade de se engajar em determinadas atividades ou esportes, e até de seguir uma carreira”.
De acordo com uma meta-análise baseada em 52 estudos clínicos que somavam 20 mil participantes, os sobreviventes apresentam mais possibilidades de transtornos depois da remissão, se comparados com seus irmãos e o grupo de controle. As crianças e os jovens tinham um risco 57% maior para desenvolver depressão; 29% para ansiedade; e 56% para um quadro psicótico. O trabalho foi publicado na revista científica “JAMA Pediatrics”. Ansiedade e depressão eram particularmente recorrentes em coortes acima de 25 e 30 anos, respectivamente. No Brasil, o câncer infantil é a primeira causa de morte por doença em crianças e a segunda causa de óbito em geral – os acidentes estão na frente. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que, no triênio 2023/2025, ocorrerão 7.930 casos na faixa entre zero e 19 anos.

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Como cor de traje de banho pode salvar vidas

As cores das roupas de banho mudam surpreendentemente debaixo d’água e podem fazer diferença em situações de emergência. As cores das roupas de banho mudam surpreendentemente debaixo d’água e podem fazer diferença em situações de emergência
Alamy via BBC
Em uma bela noite no início do verão, em vez me sentar no pátio e apreciar o céu, estou no meu computador, olhando imagens e mais imagens de trajes de banho para minha filha pequena.
Parece haver uma infinidade de opções. Branco com babados e estampa de conchas azuis e um chapéu de abas largas combinando. Azul-celeste com mangas curtas, enfeitado com uma sereia bordada. Sem alças, com um arco-íris em tons pastéis e um lacinho em cada ombro.
Os trajes de banho são encantadores. Eles parecem confortáveis. Muitos deles são até feitos de tecidos com fator de proteção solar (FPS) de mais de 50.
Só há um problema: se, Deus nos livre, minha filha tiver alguma dificuldade imprevista na água, todas essas cores e estampas irão fazer com que seja extremamente difícil encontrá-la.
Pode parecer paranoia de mãe, mas as estatísticas confirmam esta preocupação.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o afogamento é a principal causa de morte entre crianças com um a quatro anos de idade. E, para crianças de cinco a 14 anos, é a segunda maior causa de morte acidental, depois dos acidentes de trânsito.
Os acidentes não fatais envolvendo afogamento são ainda mais comuns. Para cada criança que morre afogada, outras sete recebem atendimento de emergência.
E, mesmo quando o afogamento não é fatal, ele pode causar uma série de problemas de saúde, incluindo lesões cerebrais.
É claro que a questão não afeta apenas as crianças. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), todos os anos, cerca de 236 mil pessoas morrem afogadas por acidente, o que representa cerca de 8% de todas as mortes relacionadas a lesões pessoais em todo o mundo.
Tanto a OMS quanto os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) relatam que existem fatores que reduzem a possibilidade de afogamento.
Eles incluem ter aulas de natação; instalar grades apropriadas em volta das piscinas domésticas (onde acontece a maior parte dos afogamentos de crianças pequenas); e manter supervisão constante das crianças quando estão perto da água.
Tragicamente, dois terços das mortes de bebês por afogamento ocorrem na banheira, segundo o CDC.
Mas, quando uma criança ou adulto se perde perto da água, cada segundo é importante. E especialistas indicam que existe outro fator que devemos acrescentar às medidas acima: vestir cores e tecidos que nos tornem mais visíveis na água.
Perturbações na superfície da água, mesmo que pequenas, podem fazer os nadadores desaparecerem da visão – e certos padrões de estampa nas roupas de banho podem aumentar o problema
Alamy via BBC
Os alimentos que a OMS considera cancerígenos; veja lista
Natalie Livingston já trabalhou como salva-vidas, instrutora de salva-vidas, gerente de parque aquático e inspetora de piscinas e spas. Ela é uma das fundadoras da companhia norte-americana Alive Solutions, que fornece educação, treinamento e recursos para a segurança das pessoas dentro d’água.
Durante o seu trabalho em segurança na água, ela sempre aprendeu que certas cores são mais visíveis do que outras. Mas, alguns anos atrás, ela decidiu testá-las corretamente.
“Em 2019, fiquei muito com meus filhos em volta da água e observei todas aquelas crianças em trajes de banho encantadores, mas que não tinham grandes cores – as crianças entrariam na água e simplesmente desapareceriam”, afirma ela. “Por isso, decidi testar as cores de verdade e ver quais seriam as mais visíveis nos diferentes ambientes.”
Eles colocaram diversas cores de tecido, do vermelho intenso até o verde fluorescente, sob a água a cerca de 90 cm de profundidade, em diferentes condições – contra um fundo de piscina com coloração escura, com coloração clara e em um lago, com água calma e agitada.
Quando a água era agitada – como em uma piscina repleta de pessoas, por exemplo, ou nas ondas do oceano – era extremamente difícil distinguir muitas daquelas cores.
É verdade que a câmera percebe as cores de forma diferente dos nossos olhos, mas Livingston explica que os resultados dos testes confirmam o que ela e seus colegas perceberam no seu trabalho como salva-vidas e instrutores de natação.
As cores que tiveram os piores resultados foram os tons de azul, cinza e branco. E as cores escuras também se saíram mal.
Nem todos os tons pastéis foram testados, mas eles provavelmente também oferecem pouca visibilidade – em parte, porque a água absorve e espalha a luz de forma diferente do ar, fazendo com que muitas cores percam a saturação para os nossos olhos.
A água absorve facilmente os comprimentos de onda de luz maiores, que desaparecem rapidamente à medida que aumenta a profundidade. Isso faz com que as cores do lado vermelho do espectro fiquem difíceis de distinguir muito rapidamente, mesmo quando submersas em pouca profundidade. E elas não existem no fundo do oceano.
Um experimento visual conduzido pelo canal educativo norte-americano PBS Learning demonstra como isso pode acontecer rapidamente no mar. A pouco menos de cinco metros de profundidade embaixo d’água, um objeto que, na superfície, era vermelho brilhante, assume um tom azul mesmo quando observado de perto. E, da superfície, tudo fica ainda mais difícil.
“Em uma piscina branca, as cores mais escuras parecem sombras e, no lago marrom lamacento, as cores mais claras parecem reflexos das nuvens”, explica ela.
Qualquer agitação na superfície da água também altera a percepção. “[Olhar através da] água não é como olhar através do ar ou de uma janela – pode haver grandes distorções apenas com o menor movimento na superfície”, afirma Livingston.
Isso significa que os tons claros, escuros e neutros não são as cores ideais para alguém que precise ser facilmente identificado na água. Mesmo alguns tons brilhantes primários não funcionam muito bem. Na água agitada, o vermelho parece escuro e é facilmente confundido com uma sombra, da mesma forma que o azul brilhante.
Todas estas cores parecem estar entre as mais populares para roupas de banho infantis, segundo o meu estudo (totalmente não científico) das marcas disponíveis online. E percebo ainda que as cores mais visíveis – rosa neon e laranja neon, seguidos pelo verde neon e amarelo – podem ser bastante difíceis de encontrar.
Em maio de 2023, a Alive publicou outro estudo, para descobrir se tecidos lisos ou estampados faziam diferença – o que é fundamental, já que muitos trajes de banho têm padrões e estampas engraçadas.
Eles concluíram que a melhor visibilidade vem de cores lisas, sem estampa, seguidas por padrões impressos muito pequenos. Mas as estampas maiores afetam a visibilidade, mesmo se a cor base for brilhante.
Com padrões de listras brancas, o laranja fluorescente – a cor lisa mais visível – pareceu mais um reflexo na água durante o teste. E, com listras escuras, ele simplesmente desapareceu.
‘Se beber, não nade’: a perigosa ligação entre álcool e mortes por afogamento
Esta descoberta pode não ser surpreendente se observarmos o mundo natural. Muitos peixes usam listras e padrões para camuflar-se debaixo d’água. Os padrões servem para disfarçar seus contornos e dificultar sua visualização.
Considerando os resultados dos dois testes, Livingston recomendaria cores neon, sejam elas lisas, em cores opostas ou com pequenas estampas.
Aparentemente, existem mais opções para esses trajes hoje em dia em comparação com alguns anos atrás, segundo Livingston, talvez por maior conhecimento dos fabricantes – ou porque as tendências da moda dos anos 1980 em relação às cores neon estão voltando. Mas ainda é difícil encontrar esse tipo de traje de banho para crianças ou adultos.
“Os fabricantes de trajes de banho estão demorando para adotar estas informações. Muitas pessoas contam que é muito difícil encontrar roupas de banho neon”, ela conta.
Sou uma dessas pessoas. Depois de mais de uma hora de pesquisa na internet, encontrei apenas dois trajes de banho neon lisos: um maiô laranja neon e um biquíni esportivo amarelo fluorescente.
Comprei também duas camisetas de proteção FPS 50+ em cores neon, mas precisei comprar de mangas curtas – as únicas cores disponíveis com mangas compridas eram… diferentes tons de azul.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

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Onze perfis dos consumidores maduros

Especialista afirma que a capacidade de gastos dos adultos jovens é superestimada pelo marketing e pelo varejo Na coluna de quinta-feira, abordei os 12 mitos que afastam o mercado dos consumidores maduros. A lista de estereótipos foi criada por Jeff Weiss, fundador da Age of Majority, cujo foco é estimular o varejo a corresponder às expectativas do público sênior. Hoje dou continuidade à análise que ele faz do tema, mostrando como o poder de consumo dos adultos jovens é superestimado. Weiss também apresenta 11 perfis dos 50 mais que, na sua avaliação, representam uma mina de ouro para as empresas que se dispuserem a cativá-los:
Poder de consumo das pessoas com menos de 35 anos é superestimado: os mais velhos é que têm maior capacidade de compra
Rudy Anderson para Pixabay
“O poder de consumo das pessoas com menos de 35 anos é superestimado por 82% do mercado. Pior: 26% do varejo nem sequer considera o público acima dos 35, ou seja, ignora um grupo com a carteira recheada com 2.9 trilhões de dólares (14.5 trilhões de reais)”.
O mais impressionante é como o “achismo” do mercado está distante da realidade. De acordo com levantamento da Nielsen, consultoria de análise de dados, os profissionais de marketing gastam apenas um dólar de cada dez para campanhas voltadas para o público acima dos 55 anos.
“A distância entre o que se estima em termos de consumo por faixa etária e o que efetivamente ocorre é enorme. A capacidade de consumo do grupo abaixo dos 35 anos não passa de 18% do mercado, mas, se você se basear nas campanhas de marketing, esse contingente está avaliado em 38%. Já a capacidade de consumo da faixa entre 35 e 54 anos está em 42% e, os acima de 55, respondem por 40% dos gastos. O mercado deveria saber onde o dinheiro está!”, diz Weiss.
Ele afirma que está em curso uma supervalorização da geração Z (os nascidos entre 1997 e 2010), perpetuando a distorção. Avalia que o problema é agravado por equipes de marketing muito jovens e com pouco repertório, que têm dificuldades de enxergar o público sênior:
“Some-se a isso o etarismo. As empresas falam em diversidade e inclusão, mas os idosos não estão contemplados em sua visão”.
Para entender a complexidade do envelhecimento, Weiss montou 11 perfis de consumidores maduros, que chama de “personas”, criados a partir de eixos como a filosofia de vida das pessoas, suas condições de saúde e atitude em relação à velhice. Há pontos de conexão entre eles, portanto é possível que você se identifique com mais de um:
Focados na aptidão física (fitness focused): querem aproveitar todos os benefícios da malhação e dos esportes, para terem saúde e se sentirem bem. Rejeitam limites impostos pela idade.
Em processo de adaptação (adapters): embora se deem conta de que será preciso fazer ajustes no estilo de vida para garantir uma longevidade ativa, estão no caminho entre a conscientização e a ação.
Desafiando o tempo (age challengers): grupo que investe muito na aptidão física, mas vai além. Seu mote é não diminuir o ritmo em todas as atividades e viver novas experiências.
Os exploradores (life explorers): não deixam que o envelhecimento os impeça de viver novas experiências. São os potenciais “early adopters”, consumidores que logo incorporam novos produtos e serviços.
Os perfeccionistas (peak performers): estão sempre tentando fazer o melhor, não importa em que área. Procuram ferramentas para manter sua excelência.
Os pouco ambiciosos (contented coasters): têm consciência da importância de se cuidar, mas seu foco está mais no presente do que no futuro. Não gostam de ser pressionados em questões envolvendo saúde.
Batalhando pela saúde (health battlers): convivem com doenças crônicas que podem até trazer algum tipo de incapacidade e gostariam de marcas que os ajudassem a garantir seu bem-estar.
Apreciadores da vida (life embracers): com uma visão positiva das coisas, querem viver os pequenos bons momentos: um jantar com amigos, um bom vinho, um programa cultural.
Os aprendizes (lifelong learners): querem continuar aprendendo e buscando soluções para suas vidas e a dos que os rodeiam. Perseguem produtividade, independência e autonomia.
Os fazedores (producers): sua principal motivação é se manter ativos, envolvidos em projetos. Para quem está de fora, parece que nunca conseguem relaxar. Boa parte dos empreendedores mais velhos está nessa categoria.
Guardiões de relacionamentos (relationship keepers): seu perfil é de cuidador, sua vida gira em torno da família e dos amigos. Serviços associados ao bem-estar das pessoas os interessam, porque estão sempre pensando em como ajudar os outros.