Categoria: Ciência e Saúde

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Falta de cuidado é violência que compromete a velhice negra

Estudos mostram que uma vida sob os efeitos negativos do racismo torna a Doença de Alzheimer prevalente entre afrodescendentes As desigualdades sociais se encarregam de forjar velhices bem diferentes e a data de hoje – Dia Mundial de Conscientização sobre a Violência contra a Pessoa Idosa – é uma boa oportunidade para falar da violência contra a população negra que, desde cedo, coleciona investidas contra seu bem-estar. Estudo apresentado em 2021 por Roudom Ferreira Moura, doutor em epidemiologia pela USP, mostrava que os idosos negros na cidade de São Paulo tinham piores condições de renda, escolaridade, hipertensão e acesso a serviços privados que os brancos. Também avaliavam sua saúde negativamente: 47.2% dos pretos e 45.5% dos pardos descreveram seu quadro como regular, ruim ou muito ruim, enquanto, entre os brancos, foram 33%.
População negra: falta de cuidado compromete a velhice e aumenta risco de morte prematura
Ace Spencer para Pixabay
Reportagem impecável dos jornalistas da Associated Press, que coletaram dados ao longo de 2022, constatou que os afrodescendentes norte-americanos têm piores índices em todos os quesitos relacionados à saúde: de mortalidade materna e infantil a dificuldades para conseguir tratamento para distúrbios mentais. Alguns dos dados:
14.8% dos bebês negros nasceram prematuramente em 2021, um percentual acima de qualquer outra etnia.
18% dos jovens negros relatam serem expostos a um trauma racial com frequência, sendo que 50% enfrentam sintomas de depressão de moderados a severos. Uma vida sob os efeitos negativos do racismo torna a Doença de Alzheimer prevalente no grupo.
14% dos negros americanos acima dos 65 anos têm Alzheimer, em comparação com 10% dos brancos. A expectativa é de que o número de casos quadruplique até 2060.
75% dos afrodescendentes norte-americanos têm chances de desenvolver um quadro de hipertensão aos 55 anos.
O racismo estrutural afeta o paciente negro. James Sims era um cirurgião norte-americano do século XIX que chegou a ser conhecido como o pai da moderna ginecologia. Numa época em que era tabu examinar os órgãos femininos, desenvolveu uma técnica para corrigir a fístula vesicovaginal (uma comunicação anormal entre a bexiga e a vagina) realizando cirurgias sem anestesia em mulheres escravizadas. Só depois passou a operar mulheres brancas, essas devidamente sedadas. A crença de Sims de que negros conseguiam suportar melhor a dor persiste até hoje entre alguns profissionais de saúde.
Estudo da Tulane University sustenta que os negros que vivem nos EUA têm um risco de morte prematura 59% maior que os brancos. A desigualdade pode ser explicada pelas disparidades em oito áreas críticas: renda, emprego, segurança alimentar, escolaridade, acesso à saúde, qualidade do seguro saúde, casa própria e estado civil. São conhecidas como determinantes sociais de saúde (SDOH na sigla em inglês). Os pesquisadores utilizaram as informações de um levantamento nacional para determinar a prevalência e o risco de doenças no país. Quando aplicavam filtros nos quais os determinantes desfavoráveis deixavam de existir, a disparidade era reduzida a zero.
Ter apenas um determinante social desfavorável dobra as chances de uma pessoa ter morte prematura. Com seis ou mais, o risco é multiplicado por oito.
“Não há diferença entre a morte prematura de brancos e negros depois de excluirmos os determinantes. Simplesmente desapareceu”, afirmou Josh Bundy, epidemiologista e principal autor do trabalho, acrescentando: “isso sugere que sejam os alvos primários para eliminar as disparidades na saúde”.

Quais são os sintomas da febre maculosa? Entenda 0

Quais são os sintomas da febre maculosa? Entenda

Três pessoas que estiveram em uma festa em uma fazenda de Campinas morreram após contrair a doença, transmitida por um carrapato. Febre maculosa: entenda o que é e quais os sintomas da doença
A morte de três pessoas por febre maculosa nos últimos dias chamou a atenção para os riscos da doença, transmitida por um carrapato.
A dentista Mariana Giordano (36 anos), o namorado dela, Douglas Costa (42), e uma jovem de 28 anos ficaram doentes após irem a uma mesma festa, que reuniu 3,5 mil pessoas em uma fazenda em Campinas. A morte de uma adolescente de 16 anos que também esteve no evento e teve os mesmos sintomas está sob investigação.
Mas, afinal, quais são os sintomas da doença? Entenda este e os tópicos abaixo ao longo da reportagem:
Como ocorre a transmissão?
Como se prevenir?
Quantas pessoas morreram da doença no Brasil?
Sintomas

Conforme o Ministério da Saúde, os principais sintomas da doença são:
Febre
Dor de cabeça intensa
Náuseas e vômitos
Diarreia e dor abdominal
Dor muscular constante
Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés
Gangrena nos dedos e orelhas
Paralisia dos membros que inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões, causando paragem respiratória
O ministério ressalta que, além dos sintomas acima, com a evolução da febre maculosa, é comum o aparecimento de manchas vermelhas nos pulsos e tornozelos, que não coçam, mas que podem aumentar em direção às palmas das mãos, braços ou solas dos pés.
Como ocorre a transmissão?
A febre maculosa é transmitida principalmente pelo carrapato-estrela, segundo o infectologista Marco Aurélio Cunha de Freitas, entrevistado pelo g1. No entanto, a transmissão também pode ocorrer por meio de outro carrapato, desde que esteja infectado com uma bactéria chamada de Rickettsia Rickettsii e em uma região endêmica de febre maculosa.
A doença não é contagiosa, o que significa que ela não pode ser transmitida de uma pessoa para outra.
O médico diz que a transmissão ocorre geralmente entre 6 a 12 horas depois que o carrapato está na pessoa. Marco Aurélio ressalta que, além de tentar se proteger do parasita, deve se ter atenção redobrada ao chegar em casa e na hora do banho.
“Procurar o carrapato para tirar o mais rápido possível. Se tirar ele muito rápido, não tem perigo. Também tirar o carrapato da maneira correta, não puxar ele de uma forma que você vai fazer ele depositar todo material sanguíneo que ele chupou da gente, se não vai mais bactéria. Pegar ele pelo aparelho bucal dele com uma pinça, tirar e não ficar mexendo. Matar ele no álcool, jogar fora na privada e só.”
Como se prevenir?
O infectologista explica que a pessoa pode seguir algumas orientações para evitar o contato com o carrapato quando estiver em um local de contágio, como fazer o uso de calças compridas.
“De preferência passar um elástico na calça para que o carrapato não entre. Usar roupa clara porque, se ele começar a subir em você, você identifica rápido. Depois que passou por aquela área, fazer a procura em você. Se tem carrapato, tirar ele logo. Quanto mais rápido tirar, menores são as chances da doença.”
Como prevenir a febre maculosa
Quantas pessoas morreram da doença no Brasil?
753 pessoas morreram por febre maculosa no Brasil entre os anos de 2012 e 2022. Os dados do Ministério da Saúde apontam que o país teve 2.157 casos confirmados ao longo de 10 anos, 36% deles registrados em São Paulo. Considerando apenas as mortes, municípios paulistas concentraram 62% do total (467 óbitos).

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Militantes anti-envelhecimento querem criar seu próprio Estado

Grupo pretende se estabelecer num local com legislação favorável para acelerar a aprovação de drogas que detenham a velhice Mês passado, reportagem de Jessica Hamzelou, publicada na revista “MIT Technolgy Review”, descrevei evento num resort luxuoso em Tivat, cidadezinha de Montenegro banhada pelo Mar Adriático. Ali se realizava um encontro de militantes do anti-envelhecimento, cujo principal interesse é aumentar a expectativa de vida. Trata-se de um grupo que discorda totalmente da decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) de não classificar a velhice como doença.
Militantes anti-envelhecimento defendem a ideia de que caberia aos cidadãos decidir o quanto se arriscariam como cobaias de tratamentos
Gerd Altman para Pixabay
É uma turma com planos ambiciosos, o que inclui a criação de um Estado independente onde obstáculos regulatórios para pesquisas e medicamentos sejam removidos. E que defende a ideia de que caberia aos cidadãos decidir o quanto se arriscariam como cobaias de tratamentos anti-envelhecimento e biohacking – que é alterar a biologia do próprio organismo para torná-lo mais produtivo.
Cerca de 780 participantes se empenhavam em estudar a viabilidade de criar esse Shangri-la. Boa parte já estava há dois meses em Montenegro, numa comunidade batizada de Zuzalu – o nome não tem qualquer significado, é produto da ferramenta de inteligência artificial ChatGPT. Além de palestras, as atividades iam de mergulhos nas águas geladas do Adriático a cafés da manhã comunitários, passando por sessões de meditação.
O objetivo é desenvolver uma rede que não se limite a fóruns de ciência e se transforme num Estado independente, como defendeu Max Unfried, aluno de doutorado da Universidade de Singapura que espera descobrir a cura da velhice: “queremos ganhar reconhecimento diplomático”. De acordo com Nathan Cheng, responsável pela comunidade on-line Longevity Biotech Fellowship, “a morte é moralmente ruim, é preciso fazer algo a respeito”.
Em termos práticos, a organização teria como base uma cidade que acolhesse empresas de biotecnologia com incentivos fiscais e afrouxasse as regras dos ensaios clínicos, embora ninguém saiba explicar como o FDA, o equivalente à Anvisa, seria convencido de abrir mão das exigências para lançar uma droga nova no mercado.
Os “zuzalenses” tiveram algumas conversas com políticos de Montenegro para instalar sua comunidade, mas as preferências recaem sobre Rhode Island, perto de Boston e uma referência em biotecnologia. O problema é que não há um só rincão nos EUA que esteja livre das leis federais, por isso uma ala dos participantes é favorável a buscar um país da América Latina. Aliás, o Rio Grande do Sul tem um pequeno município batizado de Xangri-lá, com pouco mais de 15 mil habitantes. Fica a sugestão…

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Como deixar de beber aos 60: oito erros e oito dicas para ter sucesso

Janet Gourant tem 70 anos e abandonou o álcool já sexagenária. Sua experiência a levou a criar um método para ajudar as pessoas a lutar contra a dependência Parar de beber aos 60: estratégia é focar no progresso
Free-Photo para Pixabay
Em maio de 2015, aos 63 anos, Janet Gourant parou de beber, depois de décadas de consumo pesado. “Eu era uma alcóolatra funcional, que trabalhava e cuidava da família, e não reconhecia que tinha um vício”, conta. No entanto, em três episódios se deu conta de que não tinha o controle da situação. No primeiro, por volta dos 25 anos, perdeu os sentidos no banheiro e, ao acordar no hospital, não recordava o que havia ocorrido. Aos 50, ao enfrentar um câncer de mama, descobriu que o álcool tinha aumentado substancialmente o risco da doença. Finalmente, já na casa dos 60, viveu sua experiência mais chocante:
Janet Gourant, criadora do Tribe Sober, ensina a parar de beber depois dos 60
Divulgação
“Foi numa viagem de fim de semana com amigos que também bebiam muito, do tipo começar com champanhe no café da manhã e só encerrar a jornada etílica à noite. No domingo, sugeri de irmos a um vilarejo que, na verdade, tínhamos visitado no sábado. Ou seja, apesar de estar falando e andando, eu experimentara um blecaute, havia perdido oito horas do dia anterior”.
Morando na África do Sul, não se identificou com nenhuma rede de apoio no país, mas encontrou ajuda num grupo na Inglaterra e acabou criando seu próprio método: o Tribe Sober, que pode ser conferido neste link. Aos 70, afirma que estar sóbrio “é um superpoder” e que parar de beber é para os rebeldes que não querem ser ovelhas do rebanho (“don´t be a sheep, be a rebel”, é seu lema). Aqui estão os oito erros que afirma ter cometido e que devem ser evitados:
Esperar chegar ao fundo do poço. Janet diz: “eu sabia que tinha um problema, mas vivia em negação, porque conseguia desempenhar as tarefas do dia a dia. Para mim, alcoólatra era a pessoa que havia perdido tudo e morava na rua – o que não era o meu caso. Mas estava errada”.
Acreditar na moderação. “Perdi uma década na armadilha da moderação, achando que poderia estabelecer um limite de drinques por semana. Tentei, falhei e constatei como tinha me tornado uma dependente”, ensina.
Medo do fracasso. “Eu não dava o primeiro passo porque acreditava que ia falhar, que seria impossível largar a bebida. Será que seria tão mais difícil parar do que tentar controlar as doses que tomava?”, provoca.
Preocupar-se com os outros. “A pressão do grupo pode desestabilizar. Meu temperamento é introvertido e gosto de agradar às pessoas, por isso não conseguia me imaginar fora do ‘rebanho’”.
Ser influenciado pelo marketing. “Quando era uma adolescente, achava que tomar uns drinques era o máximo. Depois o vinho ganhou o status de bebida para se curtir com colegas de trabalho, amigos e a família. Ao me aposentar, passei a ter mais tempo para beber!”.
Esperar que a felicidade caia sobre sua cabeça. “Contei com o álcool para me sentir bem durante tanto tempo que o organismo se ressentiu quando parei. Nos meus primeiros meses de sobriedade, fiquei na expectativa de me sentir feliz só porque estava sóbria, mas na realidade não havia mudado nada na minha vida”.
Ficar deprimido com a ideia de uma vida abstêmia. “Minha saúde exigia uma decisão, mas eu relutava diante do cenário sem álcool. Não conseguia imaginar como socializaria ou me divertiria sem a bebida”.
Tentar parar sem ajuda. “Tinha vergonha e queria resolver o problema sozinha, sem pedir ajuda ou me juntar a uma comunidade”.
Oito conselhos para seguir em frente e não desistir:
Comece agora! A dependência do álcool é como um elevador que só desce. Quanto mais o tempo passa, pior.
Esqueça a moderação. Se você tivesse controle, já teria parado.
A estratégia é focar no progresso. Para muita gente, há diversos “primeiros dias”, o importante é continuar tentando: uma semana, duas semanas, 30 dias, seis meses, um ano sem beber.
Tenha seus motivos na ponta da língua. Quanto perguntarem, responda sem titubear: “estou sem beber porque não durmo bem/estou com minhas taxas alteradas/está afetando meu treino”. Tenha em mente que, além de não ter que dar satisfações, não é sua responsabilidade fazer os outros se sentirem confortáveis.
Mude a forma como encara a bebida. Suas crenças sobre o álcool têm que ser “zeradas”. Você realmente precisa de um drinque para se divertir, relaxar, ou achar consolo no fim de um dia difícil? Que outras atividades poderiam substituir essa necessidade?
Reconfigure sua vida. Quando se deixa de beber, não dá para manter tudo como era antes. Você precisa mudar rotinas, ter novos interesses, participar de grupos que não sejam dependentes de álcool.
Anime-se com a oportunidade de mudar! Sua aparência vai ganhar viço, você vai se sentir e dormir melhor, com muito mais energia.
Ache sua tribo. Conectar-se com outras pessoas nessa jornada fará você ter consciência de que não está sozinho. Cerca de 20% dos bebedores sociais se tornam dependentes ao longo dos anos. Não se trata apenas de alívio, é bem mais que isso: prepare-se para descobrir seu superpoder!

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Centro que abriga o Sirius abre as portas ao público para apresentar curiosidades e atrações da ciência; veja como participar

Aberto a crianças e adultos, “Ciência Aberta” será realizado no próximo sábado (17), a partir das 9h; serão 85 atividades interativas nas mais variadas áreas do conhecimento, que incluem visita ao acelerador de partículas e aos laboratórios de nanotecnologia, biociências e biorrenováveis. Acelerador de partículas Sirius, instalado em Campinas (SP).
CNPEM/Sirius/Divulgação
Um dos maiores centros de produção científica do Brasil, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), abre as portas à população no próximo sábado (17), a partir das 9h, para apresentar o Sirius, um dos aceleradores de partículas mais avançados do mundo, e outros superlaboratórios com trabalhos nas áreas de biociências, nanotecnologia e biorrenováveis.
O “Ciência Aberta” é direcionado às crianças e adultos e promove um contato direto entre público e cientistas. O evento que deixou de ser realizado nos últimos anos em virtude da pandemia dispensa inscrição, e para entrada é solicitada a contribuição voluntária de 1 kg de alimento não perecível.
Estão programadas 85 atividades interativas, que incluem experiências práticas nos laboratórios, demonstrações tecnológicas, além de palestras e oficinas. O CNPEM também oferece praça de alimentação e estacionamento gratuito.
CLIQUE AQUI E VEJA TODAS AS ATIVIDADES DO CIÊNCIA ABERTA 2023
Sirius, laboratório de luz síncrotron de 4ª geração, reforça a ciência no enfrentamento do novo coronavírus
Nelson Kon
O que é o Sirius?
Principal projeto científico brasileiro, o Sirius é um laboratório de luz síncrotron de 4ª geração, que atua como uma espécie de “raio X superpotente” que analisa diversos tipos de materiais em escalas de átomos e moléculas.
Para observar as estruturas, os cientistas aceleram os elétrons quase na velocidade da luz, fazendo com que percorram o túnel de 500 metros de comprimento 600 mil vezes por segundo. Depois, os elétrons são desviados para uma das estações de pesquisa, ou linhas de luz, para os experimentos.
Esse desvio é realizado com a ajuda de ímãs superpotentes, e eles são responsáveis por gerar a luz síncrotron. Apesar de extremamente brilhante, ela é invisível a olho nu. Segundo os cientistas, o feixe é 30 vezes mais fino que o diâmetro de um fio de cabelo.
“Ciência Aberta” abre as portas do CNPEM ao público
Arquivo CNPEM
Ciência Aberta – CNPEM
Dia: sábado, 17 de junho
Horário: Portões abertos das 9h às 15h; encerramento às 17h
Entrada: gratuito com a doação de 1 kg de alimento não perecível
Local: Rua Giuseppe Máximo Scolfaro, 10.000, Polo II de Alta Tecnologia de Campinas, Campinas
Estacionamento: vagas gratuitas limitadas em área vizinha ao CNPEM
VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região
Veja mais notícias da região no g1 Campinas.

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Idosos são sub-representados em estudos com wearables

Pesquisas deixam de lado justamente os que mais se beneficiariam com o uso de dispositivos amparados pela inteligência artificial Sou uma defensora da tecnologia a serviço do cidadão (nunca o contrário) e, com frequência, escrevo sobre como ela pode ser útil para dar qualidade de vida aos idosos. No entanto, o pervasivo preconceito contra os mais velhos também se infiltra nas pesquisas nessa área.
Relógio inteligente com dados sobre a saúde do usuário
Peter Charlton para Wikimedia Commons
Trabalho recém-publicado no “The Lancet Digital Health” mostra que tem havido um esforço para incluir minorias, indivíduos de baixa renda e comunidades rurais nos testes com wearables, os dispositivos e sensores que coletam informações sobre a nossa saúde. Entretanto, pessoas com declínio cognitivo e demência têm sido deixado deixadas de lado nos estudos – justamente aqueles que mais beneficiariam!
Wearables e aplicativos de smartphones podem ser grandes aliados para os profissionais de saúde terem acesso a informações valiosas sobre todo o espectro que envolve as demências. A inteligência artificial é capaz de transformar dispositivos em ferramentas que monitorem mudanças de comportamento; previnam quedas; determinem trajetórias cognitivas e funcionais; e diminuam a carga dos cuidadores.
Há um mito de que idosos são incapazes de participar de estudos com wearables devido à sua baixa competência digital, mas há ampla evidência de que tal situação mudou muito depois da pandemia, com uma adesão maciça dos mais velhos à tecnologia.
Os números saltam aos olhos: o número de pessoas vivendo com algum tipo de demência deve ultrapassar 150 milhões em 2050. Mesmo diante do potencial de uso, idosos estão sub-representados em trabalhos como o Apple Heart Study. A idade média dos participantes é de 41 anos e apenas 6% têm mais de 65. A alegação inicial era de que a sensibilidade do dispositivo para detectar fibrilação atrial caía significativamente acima dos 75. A sub-representação dessa faixa etária se soma ao volume menos consistente de dados nos casos de demência, já que o paciente provavelmente tem menor aceitação da tecnologia.
Dispositivo acoplado a câmera com diversos tipos de sensores
Katarzyna Sila-Nowicka para Wikimedia Commons
Uma revisão sistemática (que reúne pesquisas relevantes sobre uma determinada questão), realizada em 2022, constatou que havia poucos trabalhos sobre o uso de wearables e sensores, ou qualquer outro tipo de tecnologia alimentada por inteligência artificial, em idosos que recebiam cuidados de longo prazo. Há desafios para quem apresenta perda de memória, como se lembrar de carregar a bateria ou apertar um botão num horário específico. O que fica claro é que será preciso construir soluções customizadas para estimular a adesão à tecnologia e garantir a continuidade da sua utilização.

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‘É fundamental que o paciente conheça sua doença’, ensina apresentador com esclerose múltipla

Montel Williams foi diagnosticado em 1999 e se dedica a compartilhar o que aprendeu sobre a enfermidade A data foi instituída nos Estados Unidos, mas merecia ter um espaço em nosso calendário: 11 de maio é Dia da Consciência sobre a Saúde Mental dos Idosos. Foi quando assisti a um simpósio on-line cujo principal palestrante era o apresentador Montel Williams, titular de um popular talk show durante quase duas décadas. Em 1999, aos 43 anos, foi diagnosticado com esclerose múltipla, doença que veio acompanhada de uma depressão severa e dores lancinantes. Sua jornada para vencer as limitações o transformou e hoje ele se dedica a compartilhar o que aprendeu:
Montel Williams: apresentador compartilha o que aprendeu ao lidar com a esclerose múltipla
Divulgação
“É preciso que acreditemos em nossa força interna, em nosso próprio poder, porque boa parte do tratamento depende de nós. É fundamental que o paciente conheça sua doença, busque o máximo de informação, porque médicos não são deuses, nem sabem tudo. Se nos guiarmos apenas pelo diagnóstico, estaremos restritos à expectativa deles. Na época, ouvi coisas como: ‘em cinco anos, você estará numa cadeira de rodas’; ou que podia esperar mais dez anos de vida. Como alguém pode dizer tal coisa sem me conhecer?”.
O objetivo de Williams foi se tornar “íntimo” de sua enfermidade. “Ainda não havia internet e mergulhei nos livros para aprender o máximo que pude. Não me dei por vencido”, lembrou. O primeiro passo foi mudar seu estilo de vida, privilegiando a atividade física e uma alimentação de qualidade:
“Exercício é bom, não importa a idade, e o que ingerimos tem impacto direto no nível de inflamação do organismo. Eu tenho esclerose múltipla, mas ela não me tem. As pessoas devem acreditar no seu poder interior”.
Em 2013, o apresentador criou um programa de saúde e fitness. Tornou-se um defensor do uso da maconha para fins medicinais, já que a droga foi valiosa para o controle da dor. “Quero estar ocupando vivendo, e não morrendo, por isso estou atento a todos os novos protocolos e tratamentos que surgem. Vale para a esclerose múltipla, mas também para câncer, lúpus ou fibromialgia”, afirmou, acrescentando que é preciso demonstrar nossa gratidão por todos que nos dão apoio:
“Escreva uma carta ou um bilhete para quem esteve ao seu lado, dizendo que espera que essa pessoa saiba o quanto é importante para você”.
A esclerose múltipla é uma doença neurológica autoimune crônica, provocada por mecanismos inflamatórios e degenerativos que comprometem a bainha de mielina que reveste os neurônios das substâncias branca e cinzenta do sistema nervoso central. No Brasil, estima-se que existam 40 mil casos da doença, que atinge predominantemente mulheres e indivíduos na faixa entre os 20 e 40 anos. O quadro inflamatório afeta as funções coordenadas pelo cérebro, cerebelo, tronco encefálico e medula espinhal, produzindo sintomas como fraqueza, perda da força muscular, falta de coordenação, dor ou queimação na face, alterações na visão, alterações de humor, depressão e ansiedade.

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Como proteger os joelhos e quando a cirurgia é necessária

Hoje já há próteses fabricadas especificamente para o paciente que não demandam ajustes nos ossos ou ligamentos Há alguns meses, escrevi sobre cinco partes do corpo que não podemos ignorar depois dos 50. Nossos sobrecarregados joelhos estão nessa lista e são o assunto desta coluna. Estima-se que, na próxima década, haverá um aumento de 673% nas próteses de joelhos em todo o mundo. Para falar dos problemas mais frequentes, dos exercícios mais indicados e de quando é necessário se submeter a uma cirurgia, conversei com o médico Marco Demange, que fez mestrado e doutorado na Faculdade de Medicina da USP, onde é professor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia, e pós-doutorado no Hospital for Special Surgery, associado à Universidade de Cornell.
O médico Marco Demange, professor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da USP
Divulgação
Quais os problemas de joelhos mais frequentes com o envelhecimento?
Uma das questões mais frequentes são as lesões dos meniscos e da cartilagem. A artrose surge como consequência desses desgastes.
Há uma “receita” para protegê-los?
Há alguns cuidados importantes, como evitar o excesso de carga frequente. Nesta situação, encontram-se o excesso de peso ou de impacto nos esportes. O trauma eventual intenso, ou seja, torcer ou bater com força os joelhos, também deve ser evitado. Em algumas atividades físicas, como tênis de praia, futebol e vôlei, entre outras, isso pode acontecer. Outra medida é manter uma boa força muscular, com destaque para a musculatura da coxa e para a musculatura sustentadora do tronco, composta por quadril, abdômen e lombar.
Para quem já passou dos 50 ou 60, que exercícios são eficazes para preservar a estrutura do joelho? E quais seriam os menos indicados?
Os mais indicados são os exercícios resistidos, ou seja, a musculação, e os com baixo impacto. Quando a pessoa optar por exercícios aeróbicos, deve dar preferência para os de menor impacto, como natação, caminhada leve, remo ou os elípticos (como esteira e bicicleta ergométricas, ou simulador de subida de escada). Evitar os exercícios com impacto frequente intenso, como pular e saltar, assim como os com trauma eventual importante: esportes de quadra nos quais há contato físico, como o futebol.
É sempre possível optar por tratamentos não cirúrgicos ou há casos em que eles não trazem alívio?
Nos casos mais avançados de artrose, em que há instabilidade, quando o joelho falha ao andar, ocorre dor contínua, limitação da mobilidade ou desvios significativos do formato (ele entorta de forma relevante), os tratamentos sem cirurgia geralmente não têm efeito suficiente para devolver uma boa qualidade de vida ao paciente.
Qual é a cirurgia mais comum a partir dos 50 anos?
Apesar de a cirurgia mais comum ser a artroscopia do joelho, principalmente para as lesões meniscais, atualmente se entende que, para os casos de artrose mais severa, ela tem uma efetividade baixa. Neste caso, a cirurgia mais indicada, e com melhor resultado, é a de prótese do joelho.
No mundo todo, incluindo o Brasil, a cirurgia de prótese de joelho vem se tornando cada vez mais frequente. Em termos percentuais, o maior número de procedimentos ocorreu na faixa de pacientes entre 50 e 65 anos.
O que são as próteses de joelho customizáveis e por que são superiores?
São próteses fabricadas especificamente para cada pessoa e, por esse motivo, são mais caras. O formato da prótese é igual ao ideal para o paciente, não demandando ajustes nos ossos ou ligamentos para adequar a sua colocação. O resultado é uma sensação de “joelho normal”. Assim, considera-se que pacientes têm um potencial de fazer uma gama maior de exercícios e atividades esportivas recreacionais.
Qual é a importância do exercício após a cirurgia?
Em todas as cirurgias de prótese de joelho, o paciente deve fazer exercícios físicos para recuperar a perda muscular que ocorreu nos anos em que houve uma menor utilização da musculatura, decorrente da dor e da artrose.
Qual é o potencial do tratamento com células-tronco?
Especificamente para a artrose, o tratamento com ortobiológicos, como produtos que contenham alguma porcentagem de células-tronco mesenquimais, pode modular a dor e, eventualmente, permitir uma redução na velocidade de evolução da artrose. Como todos os tratamentos mais recentes em medicina, temos estudado o potencial de sua utilização e, nos próximos anos, saberemos mais sobre as melhores indicações.

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Um em cada três adultos com diabetes pode ter doença cardiovascular assintomática

Concentrações levemente elevadas de duas proteínas na corrente sanguínea são um sinal de mudanças na estrutura e no funcionamento do coração Níveis elevados de duas proteínas que indicam doença cardiovascular foram detectados em pacientes assintomáticos, mas que eram portadores de diabetes tipo 2. A pesquisa foi publicada ontem no “Journal of the American Heart Association” e reforça a importância do monitoramento cardíaco de diabéticos.
Diabetes: concentrações levemente elevadas de duas proteínas na corrente sanguínea são um sinal de mudanças na estrutura e no funcionamento do coração
Wikimedia
Testes para medir a troponina cardíaca de alta sensibilidade e um peptídeo natriurético de nome comprido (N-terminal pro-B-type natriuretic peptide) já são utilizados na detecção de insuficiência cardíaca. No entanto, concentrações levemente elevadas dessas proteínas na corrente sanguínea podem ser um sinal de mudanças na estrutura e no funcionamento do coração.
“O que constatamos é que pessoas com diabetes tipo 2 sem história de doença cardiovascular ou infarto têm maior risco de complicações cardíacas. Normalmente nosso principal alvo é combater o colesterol, mas talvez o diabetes tenha um efeito no coração, não relacionado aos níveis de colesterol, que cause danos aos pequenos vasos. Nossa pesquisa sugere a necessidade de outras terapias para diminuir esse risco”, afirmou Elizabeth Salvin, professora de epidemiologia da Universidade Johns Hopkins e coautora do trabalho.
Os pesquisadores analisaram as informações de amostras de sangue de mais de 10 mil adultos, coletadas entre 1999 e 2004, com o objetivo de determinar se doenças cardiovasculares em pacientes assintomáticos poderiam ser diagnosticas através do nível de proteínas cardíacas que servem como biomarcadores. Entre os participantes havia indivíduos com e sem diabetes tipo 2, mas nenhum tinha histórico de enfermidade cardiovascular quando o estudo foi iniciado. Quais foram as conclusões:
Entre os adultos com diabetes tipo 2, 33.4% tinham sinais de doença coronariana; no grupo sem, eram 16.1%.
Para os pacientes diabéticos, os níveis elevados de troponina e N-terminal pro-B-type estavam associados a um risco aumentado de morte em geral e por problemas cardíacos.
A prevalência de troponina elevada era significativamente maior em pessoas portadoras da doença há mais tempo e que não controlavam as taxas de glicose.
Outra pesquisa, também divulgada mês passado, mostra que a atividade física realizada no período da tarde traz mais benefícios para o controle dos níveis de glicose de pacientes com diabetes. O estudo se estendeu por quatro anos e envolveu 2.400 participantes, que usavam um dispositivo para medir a atividade física. No fim do primeiro ano, foi constatado que aqueles engajados em exercícios de moderados a vigorosos na parte da tarde tinham a maior redução dos níveis de glicose. Esse grupo manteve tal condição no quarto ano do trabalho e foi o com mais chances de suspender a medicação.

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Entenda a diferença entre cura do câncer e remissão da doença

Segundo os médicos ouvidos pelo g1, cura é quando o câncer é totalmente erradicado, mas só se consegue saber isso depois de ao menos 5 anos sem sinal da doença. Antes disso, o termo correto é ‘remissão’. Exames mostram antes e depois de câncer de paciente; à direita, imagem mostra remissão da doença
Arquivo pessoal
Quando falamos sobre resultados de tratamentos em pacientes com câncer, dois termos costumam ser usados: “remissão” e “cura”. O g1 ouviu especialistas para explicar a diferença entre esses conceitos.
Segundo Rodrigo Calado, professor titular de hematologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, a cura é quando o câncer é totalmente erradicado, mas só se consegue saber isso depois de ao menos cinco anos sem sinal da doença. Antes disso, o termo correto é “remissão”.
Paulo Peregrino, que lutava contra a doença havia 13 anos e foi submetido a uma terapia considerada revolucionária no combate à doença, por exemplo, teve a remissão completa em um mês (entenda abaixo o CAR-T Cell).
“Remissão é quando o câncer não é mais detectado por nenhum exame. Pode ser que tenha sido curado, porém, pode ser que tenha reduzido muito e os métodos disponíveis não conseguem detectá-lo, mas não tenha desaparecido completamente. Apenas não conseguimos detectar o câncer. Por isso que o paciente precisa continuar acompanhando, fazendo exames para verificar se há algum sinal, por menor que seja, do tumor.”
Vanderson Rocha, professor de hematologia, hemoterapia e terapia celular da Faculdade de Medicina da USP e coordenador nacional de terapia celular da rede D’Or, diz que o paciente em remissão deve, inicialmente, passar por exames a cada três meses, quatro meses, seis meses e, depois, uma vez ao ano.
“Logo depois, tem que ter cuidado com infecção. Depende muito do tipo de tratamento, mas, geralmente, três meses depois de remissão é vida normal. Um transplante de medula óssea, dependendo o tipo de transplante, é cerca de seis meses. É vida normal, fazer tudo o que quer, com moderação”, pontua.
CAR-T Cell
Médico Vanderson Rocha (à esq.) e médico Rodrigo Calado (à dir.)
Arquivo pessoal
Até agora, 14 pacientes foram tratados com o CAR-T Cell no estudo que usa verbas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A recuperação foi no Sistema Único de Saúde (SUS). A terapia combate a doença com as próprias células de defesa do paciente modificadas em laboratório.
A versão brasileira da técnica é aplicada no Brasil pela USP, em parceria com o Instituto Butantan e o Hemocentro de Ribeirão Preto, de forma compassiva, quando o estudo aceita o paciente em estágio avançado da doença, e os médicos conseguem com a Anvisa a autorização para a aplicação do método.
Nenhum dos pacientes brasileiros é considerado curado, mas em remissão. O primeiro foi em 2019, há menos de 5 anos. Ele, no entanto, morreu semanas depois em um acidente doméstico em casa.
“Nos pacientes usamos alguns exames para rastrear o câncer, como o PET-CT (tomografia com contraste) ou exames de sangue para detectar o DNA do câncer”, conta Rodrigo Calado, professor titular de hematologia da USP.
“Dos casos americanos, que começaram há 10 anos, muitos estão curados, mais de 50%. E são pacientes que não responderam a vários tratamentos anteriores, que a doença voltou várias vezes. Então, é muito significativo, mesmo que 50%”, completa.
Todos os pacientes tratados no estudo tiveram remissão de ao menos 60% dos tumores. A recuperação foi no Sistema Único de Saúde (SUS).
O método CAR-T Cell tem como alvo três tipos de cânceres: leucemia linfoblástica B, linfoma não Hodgkin de células B e mieloma múltiplo, que atinge a medula óssea. O tratamento contra o mieloma múltiplo ainda não está disponível no país. 
A técnica é utilizada em poucos países. No Brasil, no segundo semestre, 75 pacientes devem ser tratados com o CAR-T Cell com verba pública após autorização da Anvisa para o estudo clínico (leia mais abaixo). Atualmente, o tratamento só existe na rede privada brasileira, ao custo de ao menos R$ 2 milhões por pessoa.
Paulo Peregrino
Médico Vanderson Rocha (à esq.) e Paulo Peregrino (à dir.)
Arquivo pessoal
O publicitário de 61 anos é o caso mais recente de remissão completa em curto período de tempo do grupo de estudos com os 14 pacientes do Centro de Terapia Celular.
Paulo teve alta no domingo (28) depois de ficar sob cuidados médicos no Hospital das Clínicas da cidade de São Paulo.
“A vitória não é só minha. É da fé, da ciência e da energia positiva das pessoas. Cada uma delas ajudou a colocar um paralelepípedo nesse caminho. A imagem prova com muita clareza para qualquer pessoa a gravidade do meu linfoma, e eu não tinha ideia de que era assim”, contou o paciente.
Vanderson Rocha está à frente do caso de Paulo, e ficou surpreso com a resposta do tratamento.
“Foi uma resposta muito rápida e com tanto tumor. Fico até emocionado [ao ver as duas ressonâncias de Paulo]. Quando a gente viu, todo mundo vibrou. Coloquei no grupo de professores titulares da USP e todo mundo ficou impressionado de ver a resposta que ele teve”, comemorou o especialista.
Antes e depois
As duas imagens do Pet Scan (tomografia feita com um contraste especial) (veja no alto) representam “dois Paulos”: a da esquerda, o paciente que tinha como caminho único os cuidados paliativos, quando a alternativa é dar conforto, mas já sem expectativa de cura, e a da direita, um paciente com um organismo já sem tumores após o tratamento com CAR-T Cell.
Car-T Cell: entenda terapia celular contra câncer aplicada de forma experimental
Quando o médico teve contato com Paulo, o publicitário já havia passado por procedimentos cirúrgicos, dezenas de exames e quimioterapia.
Saiba o que é a terapia celular contra o câncer aplicada em estudo na rede pública
13 anos ‘tocando em frente’
Uma linha do tempo ajuda a nortear as idas e vindas dos tumores de Paulo. A trajetória será contada em uma autobiografia ainda em produção intitulada “A Vida pelo Copo D’água”, em que ele cita seu remédio: “fé e ciência para viver a metade cheia da vida”.
Pesquisas na internet levaram a família ao tratamento CAR-T Cell e ao médico Vanderson Rocha.
“Comecei a acompanhá-lo quando já tinha feito uma grande parte do tratamento. A doença voltou, então, a última opção dele realmente era o CAR-T Cell. Tive que pedir autorização da Anvisa pra gente poder fazer esse tipo de tratamento. Muitos pacientes não têm essa oportunidade”, explicou o especialista.
timeline-cancer
Paciente com câncer há 13 anos tem remissão completa em SP em um mês após terapia celular em estudo na rede pública
‘Objeto de estudo”
O educador físico Bruno Marques Giovanni é outro dos pacientes do grupo de estudos de que Paulo participa. Há um ano e meio, o educador físico retomou a rotina, depois de sair do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Foram três anos de luta contra uma leucemia agressiva, que teimava em voltar.
Só depois de cinco anos do desaparecimento dos tumores eles e os demais pacientes oncológicos podem ser considerados curados. Até lá, o Bruno volta ao hospital a cada três meses para fazer exames.
“Por ser um tratamento inovador, um negócio que está ainda em estudo, em evolução, vou lá com o maior prazer para passar por esses exames, para eles conseguirem enxergar tudo o que está acontecendo. Porque eu sei que eu sou um objeto de estudo, entre aspas, mas uma pessoa que está superbem. Só agradeço a toda a equipe sempre.”
Paciente Bruno Marques Giovanni mora em Piracicaba
Reprodução/TV Globo
CAR-T Cell no SUS
Em 2021, o grupo fez uma parceria com o Instituto Butantan e foram instaladas duas fábricas no estado, uma na Cidade Universitária, em São Paulo, e outra no campus universitário de Ribeirão Preto com a capacidade de produção inicial de 300 tratamentos por ano.
“Para disponibilizar para a população brasileira, é necessário obter financiamento para realizar o tratamento para 75 pacientes com linfoma e leucemia e gerar os dados clínicos que permitam o registro do produto na Anvisa”, explicou Dimas.
“Este estudo clínico custará R$ 60 milhões, mas economizará R$ 140 milhões em relação aos preços praticados pelas empresas privadas. Recentemente, apresentamos o projeto ao Ministério da Saúde e a expectativa é de apoio e financiamento para avançar essa importante tecnologia no país, que poderá iniciar uma nova indústria de biotecnologia”, completou.
A previsão é a de que o estudo comece em agosto deste ano.
“Já tem uma fila de pacientes, porque os médicos que já sabem que nós estamos nesse processo mandam constantemente nomes de pessoas, e esses nomes estão sendo colocados numa fila por requisitos.”
O que diz a Anvisa
A Agência afirmou ao g1 que tem dado prioridade às análises do estudo.
“A Anvisa recebeu proposta de ensaio clínico conduzida pelo CEPID-FAPESP-USP e este pedido está em análise pela Anvisa. O pedido faz parte de um projeto-piloto em que a Anvisa, selecionou o Centro de Terapia Celular (CEPID-FAPESP-USP) de Ribeirão Preto para colaboração no desenvolvimento de produtos de terapia avançada no Brasil. Assim, a Agência tem feito interlocução com a equipe de desenvolvimento do CEPID-FAPESP-USP para aprimorar o desenho do estudo. O CEPID-FAPESP-USP também estabeleceu um cronograma com a Anvisa para enviar informações sobre a possível fabricação do produto e os controles aplicáveis nos próximos meses. A Anvisa, por sua vez, tem dado prioridade a estas análises, proporcionando retorno rápido ao desenvolvedor, com o objetivo de priorizar a execução desse estudo no Brasil.”
Como funciona a técnica
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