Categoria: Ciência e Saúde

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O que as empresas ganham com funcionários acima dos 50 e como combater o preconceito

Por que os trabalhadores maduros são um ótimo negócio para os empregadores, graças à experiência que acumularam em suas trajetórias Na coluna de domingo, apresentei uma relação de mitos e verdades sobre a mão de obra sênior, um levantamento feito pela The Encore Network, que atua em 12 países. A organização acaba de lançar um guia para as empresas que querem valorizar o trabalhador maduro e aqui listo cinco motivos pelos quais os 50 mais são um ótimo negócio para os empregadores:
Habilidades consolidadas: graças à sua experiência, boa parte dos trabalhadores mais velhos está pronta para assumir tarefas com um mínimo de treinamento
Joseph Mucira para Pixabay
Habilidades consolidadas: graças à sua experiência, boa parte dos trabalhadores mais velhos está pronta para assumir tarefas com um mínimo de treinamento. A maioria possui atributos altamente valorizados pelo mercado: pensamento crítico, capacidade de autogestão e para resolver problemas, resiliência, liderança e traquejo social.
Memória institucional e capacidade de mentoria: a retenção de profissionais experientes preserva a cultura organizacional e uma valiosa rede de conexões e contatos para alimentar e expandir os negócios. Funcionários maduros também podem ser aproveitados como mentores e se beneficiar da mentoria reversa, aprendendo com os mais jovens.
Mão de obra estável: esses são empregados que tendem a se engajar e a se comprometer mais. Pesquisa indica que incrementar em 10% o contingente sênior reduz a rotatividade em 4%.
Desempenho e produtividade: 87% dos empregadores afirmam que os trabalhadores maduros apresentam um desempenho tão bom ou melhor que o dos jovens. A convivência intergeracional tem se mostrado efetiva para a produtividade das empresas.
Conexão com o mercado: a mão de obra sênior pode ajudar os negócios a responder às demandas do mercado da longevidade. Estimativas apontam que aproveitar esse contingente tem o potencial de aumentar a renda per capita dos países em 19% nas próximas três décadas. A contribuição econômica da população 50 mais vai triplicar até 2050.
Para completar, seguem providências básicas para combater o preconceito no recrutamento e na retenção de talentos:
Mapeamento para identificar áreas e procedimentos que podem embutir preconceito contra os mais velhos. Idade deve constar do plano de diversidade e inclusão da empresa.
Expressões como “nativo digital” (que se refere aos nascidos depois de 1980), “formado recentemente”, “em início de carreira”, “cheio de energia” são discriminatórias e não devem constar do processo de recrutamento.
Apoio aos empregados ao longo de todos os estágios de sua vida profissional, o que inclui treinamento, que não deve ficar restrito aos jovens. Isso é particularmente relevante no que se refere à tecnologia.
Conscientização dos funcionários sobre o preconceito contra os mais velhos.

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‘Vitória da fé, da ciência e da energia positiva das pessoas’, diz paciente após remissão completa de câncer

Paulo Peregrino passou por terapia que combate a doença com células de defesa do próprio paciente modificadas em laboratório e é estudada para três tipos de cânceres: leucemia linfoblástica B, linfoma não Hodgkin de células B e mieloma múltiplo. Médico Vanderson Rocha (à esq.) e Paulo Peregrino (à dir.)
Arquivo pessoal
Paulo Peregrino lutava contra o câncer havia 13 anos e estava prestes a receber cuidados paliativos quando, em abril, foi submetido a um tratamento considerado revolucionário no combate à doença e, em apenas um mês, teve remissão completa do seu linfoma.
Até agora, 14 pacientes foram tratados com o CAR-T Cell, a terapia que combate a doença com as próprias células de defesa do paciente modificadas em laboratório. O estudo usa verbas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Todos os pacientes tratados tiveram remissão de ao menos 60% dos tumores. A recuperação foi no Sistema Único de Saúde (SUS).
O método tem como alvo três tipos de cânceres: leucemia linfoblástica B, linfoma não Hodgkin de células B e mieloma múltiplo, que atinge a medula óssea. O tratamento contra mieloma múltiplo ainda não está disponível no país. 
Exames mostram antes e depois de câncer de paciente; à direita, imagem mostra remissão da doença
Arquivo pessoal
O publicitário de 61 anos é o caso mais recente de remissão completa em curto período de tempo do grupo de estudos com os 14 pacientes do Centro de Terapia Celular. O protocolo foi adotado pela Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o Instituto Butantan e o Hemocentro de Ribeirão Preto.
Paulo teve alta no domingo (28) depois de ficar sob cuidados médicos no Hospital das Clínicas da cidade de São Paulo.
“A vitória não é só minha. É da fé, da ciência e da energia positiva das pessoas. Cada uma delas ajudou a colocar um paralelepípedo nesse caminho. A imagem prova com muita clareza para qualquer pessoa a gravidade do meu linfoma, e eu não tinha ideia de que era assim”, contou o paciente.
Na segunda (29), afirmou, em seu perfil no Instagram, que, com a repercussão da história dele na mídia, “tenho certeza que pelo menos terei, modestamente, passado esperança a quem tanto precisa”. “Só quero que as informações e o conhecimento adquirido com meu caso possam servir a outros pacientes no futuro.”
Vanderson Rocha, professor de hematologia, hemoterapia e terapia celular da Faculdade de Medicina da USP e coordenador nacional de terapia celular da rede D’Or, está à frente do caso de Paulo.
“Foi uma resposta muito rápida e com tanto tumor. Fico até emocionado [ao ver as duas ressonâncias de Paulo]. Fiquei muito surpreso de ver a resposta, porque a gente tem que esperar pelo menos um mês depois da infusão da célula. Quando a gente viu, todo mundo vibrou. Coloquei no grupo de professores titulares da USP e todo mundo impressionado de ver a resposta que ele teve”, comemorou o especialista.
Entre os outros 13 pacientes tratados como Paulo, 69% tiveram remissão completa em 30 dias. O primeiro paciente tratado com a técnica na rede pública do Brasil teve resultados parecidos com os de Paulo, mas morreu por um acidente doméstico em casa.
Antes e depois
As duas imagens do Pet Scan (tomografia feita com um contraste especial ) (veja acima) representam “dois Paulos”: a da esquerda, o paciente que tinha como caminho único os cuidados paliativos, quando a alternativa é dar conforto, mas já sem expectativa de cura, e a da direita, um paciente com um organismo já sem tumores após o tratamento com CAR-T Cell.
Car-T Cell: entenda terapia celular contra câncer aplicada de forma experimental
Atualmente, o procedimento no Centro de Terapia Celular é feito de forma compassiva, quando o estudo aceita o paciente em estágio avançado da doença, e os médicos conseguem com a Anvisa a autorização para a aplicação do método.
Quando o médico teve contato com Paulo, o publicitário já havia passado por procedimentos cirúrgicos, dezenas de exames e quimioterapia.
Saiba o que é a terapia celular contra o câncer aplicada em estudo na rede pública
Custo de R$ 2 milhões por paciente
A técnica é utilizada em poucos países. No Brasil, no segundo semestre, 75 pacientes devem ser tratados com o CAR-T Cell com verba pública após autorização da Anvisa para o estudo clínico. Atualmente, o tratamento só existe na rede privada brasileira, ao custo de ao menos R$ 2 milhões por pessoa.
“Devido ao alto custo, este tratamento não é acessível em grande parte dos países do mundo. O Brasil, por outro lado, encontra-se em uma posição privilegiada e tem a rara oportunidade de introduzir este tratamento no SUS em curto período de tempo”, diz Dimas Covas, coordenador do Centro de Terapia Celular CEPID-USP e do Núcleo de Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto, que desenvolveu a versão brasileira dessa tecnologia.
Médico e paciente em tratamento em São Paulo
Arquivo pessoal
13 anos ‘tocando em frente’
timeline-cancer
Uma linha do tempo ajuda a nortear as idas e vindas dos tumores de Paulo. A trajetória será contada em uma autobiografia ainda em produção intitulada “A Vida pelo Copo D’água”, em que ele cita seu remédio: “fé e ciência para viver a metade cheia da vida”.
O publicitário mora com a mulher e o filho, de 29 anos, em Niterói, no Rio de Janeiro. A família é de Recife, mas se mudou para o Sudeste na década de 70. Ele é o caçula entre 10 irmãos. Foi o primeiro a enfrentar a doença.
Paciente com câncer há 13 anos tem remissão completa em SP em um mês após terapia celular em estudo na rede pública
Em 2018, quando começou a tratar o primeiro linfoma, os dias se dividiam entre o trabalho, a quimioterapia e as partidas de vôlei de praia. Chegou a jogar um campeonato nas areias cariocas.
“O médico me disse que eu era o primeiro paciente que fazia um esporte de alto rendimento fazendo quimioterapia. Falei: ‘O esporte é de alto rendimento, mas meu vôlei, não’”, brincou.
Paciente chegou a participar de campeonato de vôlei de praia
Arquivo pessoal
Livro no leito e cegueira temporária
Em 2020, a pandemia de Covid isolou Paulo num quarto de hospital. Ele tinha passado por um transplante de medula óssea.
Sem acompanhantes, sozinho, no entanto, não ficou. Pediu à enfermeira os contatos dos pacientes de quartos vizinhos e criou um grupo por WhatsApp, o “TMO Juntos” (trocadilho de “transplante de medula óssea” com TMJ de “tamos juntos”).
O grupo era formado por ele, um idoso com a esposa e uma adolescente de 17 anos, que dividiram histórias, se motivaram e trocaram músicas durante o isolamento.
Grupo de WhatsApp de pacientes
Arquivo
Dentro dos 30 dias, Paulo fez o pré-lançamento de “Brizola e eu”, um livro “banhado” a álcool e autógrafos. O esquema era: a esposa entregava os exemplares à enfermeira, o álcool higienizava os livros, ele assinava, e os exemplares eram levados para amigos e parentes.
O livro conta a biografia de Jecy Sarmento, um dos principais assessores e amigos do ex-governador Leonel Brizola.
O fim daquele ciclo na internação foi marcado por um bolo levado como surpresa pelas enfermeiras.
A contaminação por Covid veio em 2022, durante uma internação devido a uma queda nas plaquetas — quanto menor a contagem delas, maior o risco de sangramento intenso. A tosse forte causou uma hemorragia interna nos dois olhos e uma cegueira temporária de três meses.
“Foi a pior sensação da minha vida. Fui em três médicos e só o terceiro disse: ‘Vamos operar e retirar essa hemorragia do seu olho.”
Mudança de tratamento
Internação para transplante de medula em 2020
Arquivo pessoal
Pesquisas na internet levaram a família ao tratamento CAR-T Cell e ao médico Vanderson Rocha.
“Comecei a acompanhá-lo quando já tinha feito uma grande parte do tratamento. A doença voltou, então, a última opção dele realmente era o CAR-T Cell. Tive que pedir autorização da Anvisa pra gente poder fazer esse tipo de tratamento. Muitos pacientes não têm essa oportunidade”, explicou o especialista.
Paulo lembra que teve febre no primeiro dia em que as células modificadas foram aplicadas no corpo, e chegou a ir para a UTI para ser monitorado.
“Senti um pouco de dormência nas mãos, mas tive acompanhamento antes, durante e depois por toda a equipe multidisciplinar do HC, em São Paulo.”
Apesar da remissão da doença em um mês, entre março e abril deste ano, Paulo deixou para novembro a “festa da cura”. Por enquanto, ele ficará na capital paulista para acompanhamento.
“A gente só tem duas formas de agradecer à vida: ser resiliente, isso que me impulsionou a chegar até aqui, e fazer o bem para as pessoas”, diz ele.
Paulo com a esposa, Ana Maria, e o único filho, Gabriel
Arquivo pessoal
‘Objeto de estudo”
O educador físico Bruno Marques Giovanni é outro dos pacientes do grupo de estudos de que Paulo participa. Há um ano e meio, o educador físico retomou a rotina, depois de sair do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Foram três anos de luta contra uma leucemia agressiva, que teimava em voltar.
Só depois de cinco anos do desaparecimento dos tumores eles e os demais pacientes oncológicos podem ser considerados curados. Até lá, o Bruno volta ao hospital a cada três meses para fazer exames.
“Por ser um tratamento inovador, um negócio que está ainda em estudo, em evolução, vou lá com o maior prazer para passar por esses exames, para eles conseguirem enxergar tudo o que está acontecendo. Porque eu sei que eu sou um objeto de estudo, entre aspas, mas uma pessoa que está superbem. Só agradeço a toda a equipe sempre.”
CAR-T Cell no SUS
A produção dessas células é complexa e tem custo elevado, em torno de R$ 2 milhões por paciente, sem contar gastos como internação, segundo Dimas Covas.
O grupo de pesquisa do Centro de Terapia Celular de Ribeirão Preto desenvolveu a versão nacional dessa tecnologia, e, em 2019, foi feito o primeiro tratamento bem-sucedido. Só o Brasil utiliza a técnica em toda a América Latina.
Em 2021, o grupo fez uma parceria com o Instituto Butantan e foram instaladas duas fábricas no estado, uma na Cidade Universitária, em São Paulo, e outra no campus universitário de Ribeirão Preto com a capacidade de produção inicial de 300 tratamentos por ano.
“Para disponibilizar para a população brasileira, é necessário obter financiamento para realizar o tratamento para 75 pacientes com linfoma e leucemia e gerar os dados clínicos que permitam o registro do produto na Anvisa”, explicou Dimas.
“Este estudo clínico custará R$ 60 milhões, mas economizará R$ 140 milhões em relação aos preços praticados pelas empresas privadas. Recentemente, apresentamos o projeto ao Ministério da Saúde e a expectativa é de apoio e financiamento para avançar essa importante tecnologia no país, que poderá iniciar uma nova indústria de biotecnologia”, completou.
A previsão é a de que o estudo comece em agosto deste ano.
“Já tem uma fila de pacientes, porque os médicos que já sabem que nós estamos nesse processo mandam constantemente nomes de pessoas, e esses nomes estão sendo colocados numa fila por requisitos.”
O que diz a Anvisa
A Agência afirmou ao g1 que tem dado prioridade às análises do estudo.
“A Anvisa recebeu proposta de ensaio clínico conduzida pelo CEPID-FAPESP-USP e este pedido está em análise pela Anvisa. O pedido faz parte de um projeto-piloto em que a Anvisa, selecionou o Centro de Terapia Celular (CEPID-FAPESP-USP) de Ribeirão Preto para colaboração no desenvolvimento de produtos de terapia avançada no Brasil. Assim, a Agência tem feito interlocução com a equipe de desenvolvimento do CEPID-FAPESP-USP para aprimorar o desenho do estudo. O CEPID-FAPESP-USP também estabeleceu um cronograma com a Anvisa para enviar informações sobre a possível fabricação do produto e os controles aplicáveis nos próximos meses. A Anvisa, por sua vez, tem dado prioridade a estas análises, proporcionando retorno rápido ao desenvolvedor, com o objetivo de priorizar a execução desse estudo no Brasil.”
Como funciona a técnica
A produção da terapia tem início com a coleta dos linfócitos de defesa do tipo T do paciente, que são como “soldados” do sistema imunológico, e que são levados para o laboratório e modificados geneticamente.
Essas células são modificadas geneticamente para reconhecer o câncer, são multiplicadas em milhões e devolvidas ao paciente, onde circulam, encontram e matam o tumor sem afetar as células normais.
As próprias células do paciente são “treinadas” para combater o câncer.
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‘Vitória da fé, da ciência e da energia positiva das pessoas’, diz paciente após remissão completa de câncer

Paulo Peregrino fez tratamento com as próprias células de defesa modificadas em laboratório. Terapia é estudada para 3 tipos de cânceres: leucemia linfoblástica B, linfoma não Hodgkin de células B e mieloma múltiplo. Médico Vanderson Rocha (à esq.) e Paulo Peregrino (à dir.)
Arquivo pessoal
Paulo Peregrino lutava contra o câncer havia 13 anos e estava prestes a receber cuidados paliativos quando, em abril, foi submetido a um tratamento considerado revolucionário no combate à doença e, em apenas um mês, teve remissão completa do seu linfoma.
Até agora, 14 pacientes foram tratados com o CAR-T Cell, a terapia que combate a doença com as próprias células de defesa do paciente modificadas em laboratório. O estudo usa verbas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Todos os pacientes tratados tiveram remissão de ao menos 60% dos tumores. A recuperação foi no Sistema Único de Saúde (SUS).
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O método tem como alvo três tipos de cânceres: leucemia linfoblástica B, linfoma não Hodgkin de células B e mieloma múltiplo, que atinge a medula óssea. O tratamento contra mieloma múltiplo ainda não está disponível no país. 
Exames mostram antes e depois de câncer de paciente; à direita, imagem mostra remissão da doença
Arquivo pessoal
O publicitário de 61 anos é o caso mais recente de remissão completa em curto período de tempo do grupo de estudos com os 14 pacientes do Centro de Terapia Celular. O protocolo foi adotado pela Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o Instituto Butantan e o Hemocentro de Ribeirão Preto.
Paulo teve alta no domingo (28) depois de ficar sob cuidados médicos no Hospital das Clínicas da cidade de São Paulo.
“A vitória não é só minha. É da fé, da ciência e da energia positiva das pessoas. Cada uma delas ajudou a colocar um paralelepípedo nesse caminho. A imagem prova com muita clareza para qualquer pessoa a gravidade do meu linfoma, e eu não tinha ideia de que era assim”, contou o paciente.
Na segunda (29), afirmou, em seu perfil no Instagram, que, com a repercussão da história dele na mídia, “tenho certeza que pelo menos terei, modestamente, passado esperança a quem tanto precisa”. “Só quero que as informações e o conhecimento adquirido com meu caso possam servir a outros pacientes no futuro.”
Vanderson Rocha, professor de hematologia, hemoterapia e terapia celular da Faculdade de Medicina da USP e coordenador nacional de terapia celular da rede D’Or, está à frente do caso de Paulo.
“Foi uma resposta muito rápida e com tanto tumor. Fico até emocionado [ao ver as duas ressonâncias de Paulo]. Fiquei muito surpreso de ver a resposta, porque a gente tem que esperar pelo menos um mês depois da infusão da célula. Quando a gente viu, todo mundo vibrou. Coloquei no grupo de professores titulares da USP e todo mundo ficou impressionado de ver a resposta que ele teve”, comemorou o especialista.
Entre os outros 13 pacientes tratados como Paulo, 69% tiveram remissão completa em 30 dias. O primeiro paciente tratado com a técnica na rede pública do Brasil teve resultados parecidos com os de Paulo, mas morreu por um acidente doméstico em casa.
Antes e depois
As duas imagens do Pet Scan (tomografia feita com um contraste especial ) (veja acima) representam “dois Paulos”: a da esquerda, o paciente que tinha como caminho único os cuidados paliativos, quando a alternativa é dar conforto, mas já sem expectativa de cura, e a da direita, um paciente com um organismo já sem tumores após o tratamento com CAR-T Cell.
Car-T Cell: entenda terapia celular contra câncer aplicada de forma experimental
Atualmente, o procedimento no Centro de Terapia Celular é feito de forma compassiva, quando o estudo aceita o paciente em estágio avançado da doença, e os médicos conseguem com a Anvisa a autorização para a aplicação do método.
Quando o médico teve contato com Paulo, o publicitário já havia passado por procedimentos cirúrgicos, dezenas de exames e quimioterapia.
Saiba o que é a terapia celular contra o câncer aplicada em estudo na rede pública
Custo de R$ 2 milhões por paciente
A técnica é utilizada em poucos países. No Brasil, no segundo semestre, 75 pacientes devem ser tratados com o CAR-T Cell com verba pública após autorização da Anvisa para o estudo clínico. Atualmente, o tratamento só existe na rede privada brasileira, ao custo de ao menos R$ 2 milhões por pessoa.
“Devido ao alto custo, este tratamento não é acessível em grande parte dos países do mundo. O Brasil, por outro lado, encontra-se em uma posição privilegiada e tem a rara oportunidade de introduzir este tratamento no SUS em curto período de tempo”, diz Dimas Covas, coordenador do Centro de Terapia Celular CEPID-USP e do Núcleo de Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto, que desenvolveu a versão brasileira dessa tecnologia.
Médico e paciente em tratamento em São Paulo
Arquivo pessoal
13 anos ‘tocando em frente’
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Uma linha do tempo ajuda a nortear as idas e vindas dos tumores de Paulo. A trajetória será contada em uma autobiografia ainda em produção intitulada “A Vida pelo Copo D’água”, em que ele cita seu remédio: “fé e ciência para viver a metade cheia da vida”.
O publicitário mora com a mulher e o filho, de 29 anos, em Niterói, no Rio de Janeiro. A família é de Recife, mas se mudou para o Sudeste na década de 70. Ele é o caçula entre 10 irmãos. Foi o primeiro a enfrentar a doença.
Paciente com câncer há 13 anos tem remissão completa em SP em um mês após terapia celular em estudo na rede pública
Em 2018, quando começou a tratar o primeiro linfoma, os dias se dividiam entre o trabalho, a quimioterapia e as partidas de vôlei de praia. Chegou a jogar um campeonato nas areias cariocas.
“O médico me disse que eu era o primeiro paciente que fazia um esporte de alto rendimento fazendo quimioterapia. Falei: ‘O esporte é de alto rendimento, mas meu vôlei, não’”, brincou.
Paciente chegou a participar de campeonato de vôlei de praia
Arquivo pessoal
Livro no leito e cegueira temporária
Em 2020, a pandemia de Covid isolou Paulo num quarto de hospital. Ele tinha passado por um transplante de medula óssea.
Sem acompanhantes, sozinho, no entanto, não ficou. Pediu à enfermeira os contatos dos pacientes de quartos vizinhos e criou um grupo por WhatsApp, o “TMO Juntos” (trocadilho de “transplante de medula óssea” com TMJ de “tamos juntos”).
O grupo era formado por ele, um idoso com a esposa e uma adolescente de 17 anos, que dividiram histórias, se motivaram e trocaram músicas durante o isolamento.
Grupo de WhatsApp de pacientes
Arquivo
Dentro dos 30 dias, Paulo fez o pré-lançamento de “Brizola e eu”, um livro “banhado” a álcool e autógrafos. O esquema era: a esposa entregava os exemplares à enfermeira, o álcool higienizava os livros, ele assinava, e os exemplares eram levados para amigos e parentes.
O livro conta a biografia de Jecy Sarmento, um dos principais assessores e amigos do ex-governador Leonel Brizola.
O fim daquele ciclo na internação foi marcado por um bolo levado como surpresa pelas enfermeiras.
A contaminação por Covid veio em 2022, durante uma internação devido a uma queda nas plaquetas — quanto menor a contagem delas, maior o risco de sangramento intenso. A tosse forte causou uma hemorragia interna nos dois olhos e uma cegueira temporária de três meses.
“Foi a pior sensação da minha vida. Fui em três médicos e só o terceiro disse: ‘Vamos operar e retirar essa hemorragia do seu olho.”
Mudança de tratamento
Internação para transplante de medula em 2020
Arquivo pessoal
Pesquisas na internet levaram a família ao tratamento CAR-T Cell e ao médico Vanderson Rocha.
“Comecei a acompanhá-lo quando já tinha feito uma grande parte do tratamento. A doença voltou, então, a última opção dele realmente era o CAR-T Cell. Tive que pedir autorização da Anvisa pra gente poder fazer esse tipo de tratamento. Muitos pacientes não têm essa oportunidade”, explicou o especialista.
Paulo lembra que teve febre no primeiro dia em que as células modificadas foram aplicadas no corpo, e chegou a ir para a UTI para ser monitorado.
“Senti um pouco de dormência nas mãos, mas tive acompanhamento antes, durante e depois por toda a equipe multidisciplinar do HC, em São Paulo.”
Apesar da remissão da doença em um mês, entre março e abril deste ano, Paulo deixou para novembro a “festa da cura”. Por enquanto, ele ficará na capital paulista para acompanhamento.
“A gente só tem duas formas de agradecer à vida: ser resiliente, isso que me impulsionou a chegar até aqui, e fazer o bem para as pessoas”, diz ele.
Paulo com a esposa, Ana Maria, e o único filho, Gabriel
Arquivo pessoal
‘Objeto de estudo”
O educador físico Bruno Marques Giovanni é outro dos pacientes do grupo de estudos de que Paulo participa. Há um ano e meio, o educador físico retomou a rotina, depois de sair do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Foram três anos de luta contra uma leucemia agressiva, que teimava em voltar.
Só depois de cinco anos do desaparecimento dos tumores eles e os demais pacientes oncológicos podem ser considerados curados. Até lá, o Bruno volta ao hospital a cada três meses para fazer exames.
“Por ser um tratamento inovador, um negócio que está ainda em estudo, em evolução, vou lá com o maior prazer para passar por esses exames, para eles conseguirem enxergar tudo o que está acontecendo. Porque eu sei que eu sou um objeto de estudo, entre aspas, mas uma pessoa que está superbem. Só agradeço a toda a equipe sempre.”
CAR-T Cell no SUS
A produção dessas células é complexa e tem custo elevado, em torno de R$ 2 milhões por paciente, sem contar gastos como internação, segundo Dimas Covas.
O grupo de pesquisa do Centro de Terapia Celular de Ribeirão Preto desenvolveu a versão nacional dessa tecnologia, e, em 2019, foi feito o primeiro tratamento bem-sucedido. Só o Brasil utiliza a técnica em toda a América Latina.
Em 2021, o grupo fez uma parceria com o Instituto Butantan e foram instaladas duas fábricas no estado, uma na Cidade Universitária, em São Paulo, e outra no campus universitário de Ribeirão Preto com a capacidade de produção inicial de 300 tratamentos por ano.
“Para disponibilizar para a população brasileira, é necessário obter financiamento para realizar o tratamento para 75 pacientes com linfoma e leucemia e gerar os dados clínicos que permitam o registro do produto na Anvisa”, explicou Dimas.
“Este estudo clínico custará R$ 60 milhões, mas economizará R$ 140 milhões em relação aos preços praticados pelas empresas privadas. Recentemente, apresentamos o projeto ao Ministério da Saúde e a expectativa é de apoio e financiamento para avançar essa importante tecnologia no país, que poderá iniciar uma nova indústria de biotecnologia”, completou.
A previsão é a de que o estudo comece em agosto deste ano.
“Já tem uma fila de pacientes, porque os médicos que já sabem que nós estamos nesse processo mandam constantemente nomes de pessoas, e esses nomes estão sendo colocados numa fila por requisitos.”
O que diz a Anvisa
A Agência afirmou ao g1 que tem dado prioridade às análises do estudo.
“A Anvisa recebeu proposta de ensaio clínico conduzida pelo CEPID-FAPESP-USP e este pedido está em análise pela Anvisa. O pedido faz parte de um projeto-piloto em que a Anvisa, selecionou o Centro de Terapia Celular (CEPID-FAPESP-USP) de Ribeirão Preto para colaboração no desenvolvimento de produtos de terapia avançada no Brasil. Assim, a Agência tem feito interlocução com a equipe de desenvolvimento do CEPID-FAPESP-USP para aprimorar o desenho do estudo. O CEPID-FAPESP-USP também estabeleceu um cronograma com a Anvisa para enviar informações sobre a possível fabricação do produto e os controles aplicáveis nos próximos meses. A Anvisa, por sua vez, tem dado prioridade a estas análises, proporcionando retorno rápido ao desenvolvedor, com o objetivo de priorizar a execução desse estudo no Brasil.”
Como funciona a técnica
A produção da terapia tem início com a coleta dos linfócitos de defesa do tipo T do paciente, que são como “soldados” do sistema imunológico, e que são levados para o laboratório e modificados geneticamente.
Essas células são modificadas geneticamente para reconhecer o câncer, são multiplicadas em milhões e devolvidas ao paciente, onde circulam, encontram e matam o tumor sem afetar as células normais.
As próprias células do paciente são “treinadas” para combater o câncer.
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Paciente com câncer há 13 anos tem remissão completa em SP em um mês após terapia celular em estudo na rede pública

Paulo Peregrino, de 61 anos, passou por tratamentos convencionais por mais de uma década. Surpresa positiva veio com os resultados do CAR-T Cell, a terapia que combate a doença com as próprias células de defesa do paciente modificadas em laboratório. No segundo semestre, 75 pacientes devem ser tratados com a técnica com verba pública após autorização da Anvisa. Exames mostram antes e depois de câncer de paciente; à direita, imagem mostra remissão da doença
Arquivo pessoal
Um protocolo adotado pela USP, em parceria com o Instituto Butantan e o Hemocentro de Ribeirão Preto, está trazendo para a rede pública de saúde uma técnica considerada revolucionária no combate ao câncer, utilizada em poucos países. Até agora, 14 pacientes foram tratados com o CAR-T Cell com verbas da Fapesp e do CNPq, e todos tiveram remissão de ao menos 60% dos tumores. A recuperação foi no Sistema Único de Saúde (SUS).
Um deles é Paulo Pelegrino, de 61 anos, que lutava contra o câncer havia 13 anos e estava prestes a receber cuidados paliativos quando foi submetido ao tratamento em abril e, em apenas um mês, teve remissão completa do seu linfoma.
No segundo semestre, 75 pacientes devem ser tratados com o CAR-T Cell com verba pública após autorização da Anvisa para o estudo clínico. Atualmente, o tratamento só existe na rede privada brasileira, ao custo de ao menos R$ 2 milhões por pessoa.
O método tem como alvo três tipos de cânceres: leucemia linfoblástica B, linfoma não Hodgkin de células B e mieloma múltiplo, que atinge a medula óssea. O tratamento contra mieloma múltiplo ainda não está disponível no país. 
“Devido ao alto custo, este tratamento não é acessível em grande parte dos países do mundo. O Brasil, por outro lado, encontra-se em uma posição privilegiada e tem a rara oportunidade de introduzir este tratamento no SUS em curto período de tempo”, diz Dimas Covas, coordenador do Centro de Terapia Celular CEPID-USP e do Núcleo de Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto, que desenvolveu a versão brasileira dessa tecnologia.
Saiba o que é a terapia celular contra o câncer aplicada em estudo na rede pública
Paulo é o caso mais recente de remissão completa em curto período de tempo do grupo de estudos com os 14 pacientes do Centro de Terapia Celular.
Ele teve alta no domingo (28) depois de ficar sob cuidados médicos no Hospital das Clínicas da cidade de São Paulo.
Vanderson Rocha, professor de hematologia, hemoterapia e terapia celular da Faculdade de Medicina da USP e coordenador nacional de terapia celular da rede D’Or, está à frente do caso de Paulo.
“Foi uma resposta muito rápida e com tanto tumor. Fico até emocionado [ao ver as duas ressonâncias de Paulo]. Fiquei muito surpreso de ver a resposta, porque a gente tem que esperar pelo menos um mês depois da infusão da célula. Quando a gente viu, todo mundo vibrou. Coloquei no grupo de professores titulares da USP e todo mundo impressionado de ver a resposta que ele teve”, comemorou o especialista.
Entre os outros 13 pacientes tratados como Paulo, 69% tiveram remissão completa em 30 dias. O primeiro paciente tratado com a técnica na rede pública do Brasil teve resultados parecidos com os de Paulo, mas morreu por um acidente doméstico em casa.
Antes e depois
As duas imagens de ressonância magnética (veja acima) representam “dois Paulos”: a da esquerda, o paciente que tinha como caminho único os cuidados paliativos, quando a alternativa é dar conforto, mas já sem expectativa de cura, e a da direita, um paciente com um organismo já sem tumores após o tratamento com CAR-T Cell.
Atualmente, o procedimento no Centro de Terapia Celular é feito de forma compassiva, quando o estudo aceita o paciente em estágio avançado da doença, e os médicos conseguem com a Anvisa a autorização para a aplicação do método.
Médico Vanderson Rocha (à esq.) e Paulo Peregrino (à dir.)
Arquivo pessoal
Quando o médico teve contato com Paulo, o publicitário já havia passado por procedimentos cirúrgicos, dezenas de exames e quimioterapia.
“A vitória não é só minha. É da fé, da ciência e da energia positiva das pessoas. Cada uma delas ajudou a colocar um paralelepípedo nesse caminho. A imagem prova com muita clareza para qualquer pessoa a gravidade do meu linfoma, e eu não tinha ideia de que era assim”, contou o paciente.
Médico e paciente em tratamento em São Paulo
Arquivo pessoal
13 anos ‘tocando em frente’
Uma linha do tempo ajuda a nortear as idas e vindas dos tumores de Paulo. A trajetória será contada em uma autobiografia ainda em produção intitulada “A Vida pelo Copo D’água”, em que ele cita seu remédio: “fé e ciência para viver a metade cheia da vida”.
timeline-cancer
O publicitário mora com a mulher e o filho, de 29 anos, em Niterói, no Rio de Janeiro. A família é de Recife, mas se mudou para o Sudeste na década de 70. Ele é o caçula entre 10 irmãos. Foi o primeiro a enfrentar a doença.
Em 2018, quando começou a tratar o primeiro linfoma, os dias se dividiam entre o trabalho, a quimioterapia e as partidas de vôlei de praia. Chegou a jogar um campeonato nas areias cariocas.
“O médico me disse que eu era o primeiro paciente que fazia um esporte de alto rendimento fazendo quimioterapia. Falei: ‘O esporte é de alto rendimento, mas meu vôlei, não’”, brincou.
Paciente chegou a participar de campeonato de vôlei de praia
Arquivo pessoal
Livro no leito e cegueira temporária
Em 2020, a pandemia de Covid isolou Paulo num quarto de hospital. Ele tinha passado por um transplante de medula óssea.
Sem acompanhantes, sozinho, no entanto, não ficou. Pediu à enfermeira os contatos dos pacientes de quartos vizinhos e criou um grupo por WhatsApp, o “TMO Juntos” (trocadilho de “transplante de medula óssea” com TMJ de “tamos juntos”).
O grupo era formado por ele, um idoso com a esposa e uma adolescente de 17 anos, que dividiram histórias, se motivaram e trocaram músicas durante o isolamento.
Grupo de WhatsApp de pacientes
Arquivo
Dentro dos 30 dias, Paulo fez o pré-lançamento de “Brizola e eu”, um livro “banhado” a álcool e autógrafos. O esquema era: a esposa entregava os exemplares à enfermeira, o álcool higienizava os livros, ele assinava, e os exemplares eram levados para amigos e parentes.
O livro conta a biografia de Jecy Sarmento, um dos principais assessores e amigos do ex-governador Leonel Brizola.
O fim daquele ciclo na internação foi marcado por um bolo levado como surpresa pelas enfermeiras.
A contaminação por Covid veio em 2022, durante uma internação devido a uma queda nas plaquetas — quanto menor a contagem delas, maior o risco de sangramento intenso. A tosse forte causou uma hemorragia interna nos dois olhos e uma cegueira temporária de três meses.
“Foi a pior sensação da minha vida. Fui em três médicos e só o terceiro disse: ‘Vamos operar e retirar essa hemorragia do seu olho.”
Mudança de tratamento
Internação para transplante de medula em 2020
Arquivo pessoal
Pesquisas na internet levaram a família ao tratamento CAR-T Cell e ao médico Vanderson Rocha.
“Comecei a acompanhá-lo quando já tinha feito uma grande parte do tratamento. A doença voltou, então, a última opção dele realmente era o CAR-T Cell. Tive que pedir autorização da Anvisa pra gente poder fazer esse tipo de tratamento. Muitos pacientes não têm essa oportunidade”, explicou o especialista.
Paulo lembra que teve febre no primeiro dia em que as células modificadas foram aplicadas no corpo, e chegou a ir para a UTI para ser monitorado.
“Senti um pouco de dormência nas mãos, mas tive acompanhamento antes, durante e depois por toda a equipe multidisciplinar do HC, em São Paulo.”
Apesar da remissão da doença em um mês, entre março e abril deste ano, Paulo deixou para novembro a “festa da cura”. Por enquanto, ele ficará na capital paulista para acompanhamento.
“A gente só tem duas formas de agradecer à vida: ser resiliente, isso que me impulsionou a chegar até aqui, e fazer o bem para as pessoas”, diz ele.
Paulo com a esposa, Ana Maria, e o único filho, Gabriel
Arquivo pessoal
CAR-T Cell no SUS
A produção dessas células é complexa e tem custo elevado, em torno de R$ 2 milhões por paciente, sem contar gastos como internação, segundo Dimas Covas.
O grupo de pesquisa do Centro de Terapia Celular de Ribeirão Preto desenvolveu a versão nacional dessa tecnologia, e, em 2019, foi feito o primeiro tratamento bem-sucedido. Só o Brasil utiliza a técnica em toda a América Latina.
Em 2021, o grupo fez uma parceria com o Instituto Butantan e foram instaladas duas fábricas no estado, uma na Cidade Universitária, em São Paulo, e outra no campus universitário de Ribeirão Preto com a capacidade de produção inicial de 300 tratamentos por ano.
“Para disponibilizar para a população brasileira, é necessário obter financiamento para realizar o tratamento para 75 pacientes com linfoma e leucemia e gerar os dados clínicos que permitam o registro do produto na Anvisa”, explicou Dimas.
“Este estudo clínico custará R$ 60 milhões, mas economizará R$ 140 milhões em relação aos preços praticados pelas empresas privadas. Recentemente, apresentamos o projeto ao Ministério da Saúde e a expectativa é de apoio e financiamento para avançar essa importante tecnologia no país, que poderá iniciar uma nova indústria de biotecnologia”, completou.
A previsão é a de que o estudo comece em agosto deste ano.
“Já tem uma fila de pacientes, porque os médicos que já sabem que nós estamos nesse processo mandam constantemente nomes de pessoas, e esses nomes estão sendo colocados numa fila por requisitos.”
O que diz a Anvisa
A Agência afirmou ao g1 que tem dado prioridade às análises do estudo.
“A Anvisa recebeu proposta de ensaio clínico conduzida pelo CEPID-FAPESP-USP e este pedido está em análise pela Anvisa. O pedido faz parte de um projeto-piloto em que a Anvisa, selecionou o Centro de Terapia Celular (CEPID-FAPESP-USP) de Ribeirão Preto para colaboração no desenvolvimento de produtos de terapia avançada no Brasil. Assim, a Agência tem feito interlocução com a equipe de desenvolvimento do CEPID-FAPESP-USP para aprimorar o desenho do estudo. O CEPID-FAPESP-USP também estabeleceu um cronograma com a Anvisa para enviar informações sobre a possível fabricação do produto e os controles aplicáveis nos próximos meses. A Anvisa, por sua vez, tem dado prioridade a estas análises, proporcionando retorno rápido ao desenvolvedor, com o objetivo de priorizar a execução desse estudo no Brasil.”
Como funciona a técnica
A produção da terapia tem início com a coleta dos linfócitos de defesa do tipo T do paciente, que são como “soldados” do sistema imunológico, e que são levados para o laboratório e modificados geneticamente.
Essas células são modificadas geneticamente para reconhecer o câncer, são multiplicadas em milhões e devolvidas ao paciente, onde circulam, encontram e matam o tumor sem afetar as células normais.
As próprias células do paciente são “treinadas” para combater o câncer.
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Mitos e verdades sobre a mão de obra sênior

Organização internacional derruba crenças sobre o trabalhador acima dos 50, o grupo que mais cresce no mundo The Encore Network é uma comunidade baseada nos Estados Unidos, e presente em outros 11 países, cujo objetivo é valorizar o profissional sênior. Em seminário on-line realizado no dia 17, a entidade lançou um guia para as empresas amigas da mão de obra madura. Trata-se do contingente que mais cresce no mundo e no Brasil não é diferente: em 15 anos, o número de trabalhadores acima dos 50 anos dobrou. Em 2006, eram 4.4 milhões e, em 2021, esse número tinha pulado para 9.3 milhões. De acordo com o levantamento feito pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o estoque de emprego geral cresceu 38,6%, indicando que a expansão da presença dos mais velhos no mercado foi quase três vezes maior em comparação ao emprego geral.
Trabalhadores mais velhos têm desempenho pior que os demais: mito apontado pela The Encore Network
Joseph Mucira para Pixabay
Quem hoje tem 50 anos pode descortinar mais duas ou três décadas produtivas. O bônus da longevidade criou oportunidades e também necessidades, uma vez que poucos conseguem acumular uma reserva para fazer frente às despesas na velhice. Ao mesmo tempo, a taxa de natalidade vem caindo, o que descortina um cenário de escassez de mão de obra. Com base em informações coletadas em organismos internacionais, The Encore Network preparou uma relação de mitos e verdades sobre esse trabalhador sênior, que tem tanto a oferecer e é vítima de preconceito por causa da idade.
MITO:
Trabalhadores mais velhos têm desempenho pior que os jovens.
VERDADE:
Levantamentos realizados em diversos países mostram exatamente o oposto: os mais velhos apresentam performance melhor que os jovens porque têm mais experiência e cometem menos erros. Também tendem a ser mais conscienciosos, possuem habilidades sociais mais desenvolvidas e maior controle emocional.
MITO:
A mão de obra sênior não é capaz de aprender ou se manter atualizada.
VERDADE:
Curiosidade, interesse e capacidade de aprendizado não sofrem mudança significativa ao longo da vida, o que se aplica à habilidade de lidar com a tecnologia, que vem sendo incorporada pelos mais velhos nos últimos anos com crescente desenvoltura.
MITO:
Os mais velhos são menos engajados e é maior a chance de abandonarem o emprego.
VERDADE:
É o contrário: eles faltam menos, são mais leais e menos propensos a trocar de emprego.
MITO:
A mão de obra madura é mais cara.
VERDADE:
Atributos como maior produtividade e um leque de conexões, somado a um conhecimento institucional mais amplo, são contribuições de enorme valor para qualquer empresa, que compensam o custo de alguns benefícios.
Na terça-feira tem mais: o que os empregadores ganham com funcionários acima do 50 e como combater o preconceito

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Bem-estar mental dos idosos é melhor do que há 30 anos

Pessoas na faixa entre os 75 e 80 anos apresentam menos sinais de depressão que gerações anteriores O Centro de Pesquisa em Gerontologia e a Faculdade de Esportes e Ciências da Saúde da Universidade de Jyväskylä, na Finlândia, acabaram de divulgar estudo comparando sintomas depressivos e o nível de satisfação com a vida de dois grupos: idosos que estão entre os 75 e 80 anos e pessoas que estavam nessa mesma faixa etária na década de 1990.
Pessoas na faixa entre os 75 e 80 anos apresentam menos sinais de depressão que gerações anteriores
Mariza Tavares
O resultado é favorável aos velhos do século XXI: eles apresentam menos sinais de depressão que gerações anteriores, uma diferença que, em parte, é explicada por terem melhor saúde e nível educacional.
Os pesquisadores já haviam se debruçado anteriormente sobre outros indicadores, constatando que os velhos de hoje exibem condições físicas e cognitivas superiores como, por exemplo, força muscular, velocidade de caminhada, rapidez de reação, fluência verbal e raciocínio – é como se tivessem ficado mais jovens! O estudo foi ampliado com a inclusão de aspectos relacionados ao bem-estar mental. O interessante é que, embora os sintomas de depressão atualmente sejam menos expressivos, no quesito “satisfação com a vida”, idosos do século XX e XXI se igualam.
“Os homens nascidos em 1910 viveram numa época dura, o que pode explicar a satisfação com suas vidas em 1990. Os indivíduos se adaptam às condições que enfrentam, o que vale para os idosos de 1990 e os de hoje”, explicou a pesquisadora Tiia Kekäläinen.
É verdade que, em 2023, a Finlândia foi eleita o país mais feliz do mundo pelo sexto ano consecutivo, de acordo com um ranking da Organização das Nações Unidas (ONU). Entretanto, nas últimas décadas, inclusive em países menos desenvolvidos, foi significativa a evolução em áreas como higiene, nutrição, assistência à saúde, acesso à educação e direitos trabalhistas.
O trabalho compreendeu duas coortes – em estatística, isso significa um conjunto de pessoas que têm em comum um evento que se deu no mesmo período de tempo. Nesse caso, a primeira coorte reuniu 617 indivíduos nascidos entre 1910 e 1914 que participaram de um grande estudo entre 1989 e 1990. A segunda coorte tinha 794 nascidos entre 1938-39 e 1942-43, e o levantamento se deu entre 2017 e 2018.

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Instituto Butantan começa a desenvolver vacina contra gripe aviária

Segundo o instituto, testes estão sendo realizados com cepas vacinais que foram cedidas pela OMS. Primeiro lote já está pronto para o início dos testes pré-clínicos. Edifício Vital Brazil, no Parque da Ciência do Instituto Butantan
Reprodução/TV Globo
O Instituto Butantan começou a desenvolver uma vacina contra a gripe aviária. O processo ocorre desde janeiro deste ano.
Segundo o instituto, os testes estão sendo realizados com cepas vacinais que foram cedidas pela OMS e o primeiro lote já está pronto para o início dos testes pré-clínicos, ou seja, testes em laboratório.
No Brasil, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, no dia 15 de maio foram registrados os primeiros casos confirmados da doença em aves marinhas e silvestres.
Gripe aviária: veja perguntas e respostas sobre a doença que chegou ao Brasil
Ainda de acordo com o Butantan, a vacina começou a ser desenvolvida por conta da preocupação de que ela possa se tornar uma nova pandemia.
O Butantan atua para preparar o país no enfrentamento de potenciais pandemias, como ocorreu no desenvolvimento e disponibilização de vacinas para Covid-19 nos últimos anos.
Gripe aviária no Brasil
Uma semana depois dos primeiros casos confirmados em aves, nenhuma pessoa havia sido contaminada pela gripe aviária.
Por serem migratórias e não fazerem parte do sistema industrial brasileiro, os frangos e os ovos que são disponíveis para os consumidores nos supermercados não foram impactados. Desta forma, a produção segue normalmente.
A gripe aviária não é transmitida pelo consumo de aves ou ovos. De qualquer forma, medidas de biossegurança em aviários foram reforçadas.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o risco de contaminação entre humanos é baixo, mas as ações de prevenção são importantes porque com a circulação contínua da doença, há potencial de o vírus sofrer mutações, tornando-o mais contagioso.
As infecções podem acontecer por meio do contato com aves contaminadas, vivas ou mortas. Por isso, não é recomendado tocar e nem recolher aves doentes.

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O que as gigantes de tecnologia podem fazer com seus dados de saúde

Nos EUA, a Amazon criou uma clínica de baixo custo, mas o paciente assina uma autorização que libera o uso das informações O impacto que a inteligência artificial causará em toda a sociedade é tão acachapante que o próprio Sam Altman, CEO da OpenAI e criador da plataforma ChatGPT, capaz de elaborar qualquer tipo de conteúdo, pediu uma regulação internacional para seu uso. Entre as muitas questões éticas relativas às novas tecnologias, a privacidade dos dados dos pacientes é uma das mais urgentes, até porque seus efeitos práticos já estão em curso.
Amazon Clinic: para usar seus serviços, o paciente assina uma autorização que permite que a empresa utilize seus dados
Christian Northe para Pixabay
A Amazon criou uma clínica de baixo custo, a Amazon Clinic, que realiza consultas on-line – pagando US$ 30, você entra em contato com um médico que lhe dará uma receita sem precisar sair de casa. No entanto, para usar o serviço, o paciente assina uma autorização que permite que a empresa utilize seus dados como quiser.
A autorização padrão vigente nos EUA se chama HIPAA (Health Insurance Portability and Accountability Act) e garante que os médicos protejam as informações de saúde do paciente e só as compartilhem em circunstâncias bem específicas. Entretanto, a Amazon não quer saber de restrições: ao dar seu “ok”, a pessoa concorda que a empresa faça o que quiser com os dados, ou seja, eles deixam de estar protegidos.
Como as leis continuarão protegendo os cidadãos se as grandes empresas de tecnologia se esforçam para buscar brechas no sentido contrário?
Ninguém é forçado a aderir ao serviço, mas seu preço e o apelo de marketing são eficientes armas para conquistar o público. Além de dados pessoais, a Amazon Clinic pede para o usuário enviar fotos que detalhem sua condição. E o que pode acontecer com esse dossiê que a gigante de tecnologia vai dispor? Algumas opções: vender as informações para terceiros (a autorização foi dada!); direcionar anúncios com base em seu perfil médico; e até gerar, via inteligência artificial, modelos que prevejam o risco de os pacientes desenvolverem determinados tipos doença, que podem ser comercializados.
O analista Geoffrey Fowler escreveu longo artigo sobre o tema no jornal “The Washington Post” – curiosamente, que tem como proprietário Jeff Bezos, dono da Amazon. A respeito de seus questionamentos, a assessoria de imprensa da empresa afirmou que seu negócio não é vender dados e que não usa informações dos clientes para nenhum propósito sem a sua concordância. É pouco. E se surgir uma versão tupiniquim?

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Quem eu seria sem esse pensamento: autoconsciência para acabar com o sofrimento

Aos 80 anos, Byron Katie continua atuando para divulgar “O trabalho”, método que criou na década de 1980 Na edição 2023 do Wisdom 2.0, realizada no fim de abril, tive o prazer de conhecer a figura ao mesmo tempo frágil e poderosa de Byron Katie. Aos 80 anos, ela continua na ativa para ensinar seu método, conhecido como “O trabalho” (“The work”), cujo objetivo é grandioso: acabar com o sofrimento através da meditação e autoconsciência.
Byron Katie, autora do método, conhecido como “O trabalho”, cujo objetivo é acabar com o sofrimento através da meditação e autoconsciência
Reprodução
“Dê espaço para seus pensamentos, medite sobre suas crenças, sobre o que provoca seu sofrimento. Observe o que o ego oferece, deixe passado e presente flutuarem, irem e virem, como um pêndulo. E questione: será realmente verdadeiro o que me perturba ou foi algo que ‘colou’ na minha mente?”, indagou para a plateia.
Uma pergunta serve de guia para seu método, que já foi objeto de estudos científicos que comprovaram o aumento do bem-estar das pessoas que o adotaram: “quem eu seria sem esse pensamento?”. Assim funciona o processo de desconstrução do sofrimento, que vem atraindo adeptos há décadas. Katie conseguiu vencer uma depressão severa, que a impedia de sair do quarto. Numa manhã de 1986, teve o que descreve como um entendimento que mudou sua vida: “acordei num estado de alegria que perdura até hoje”.
Autora de inúmeros best-sellers, apresentou “O trabalho” em seu livro “Ame a realidade”. No evento, conduziu uma rápida sessão com Soren Gordhamer, criador do Wisdom.2, que contou que era ridicularizado quando criança porque a família não ia à igreja. Os outros meninos diziam que ele iria para o inferno e, além de vergonha, passou anos achando que não tinha valor.
“Visite a causa do sofrimento até ele não ser mais capaz de provocar dor. Pense em quem se transformou, em tudo que construiu, como aqueles garotos não têm qualquer poder sobre você”, ensinou.
Quem quiser, pode baixar aqui o PDF com as perguntas do método, que servem como ponto de partida para enxergar os problemas. O roteiro inclui ainda “inversões” que questionam as crenças arraigadas. Para ajudar a entender o processo, imaginemos a situação “Fulano não me compreende”. As perguntas:
Isso é verdade?
Você pode saber com absoluta certeza que isso é verdade?
O que acontece, como você reage, quando acredita nesse pensamento?
Quem você seria sem esse pensamento?
O passo seguinte é fazer a inversão do conceito que pretende questionar e encontrar três exemplos para cada uma dessas inversões. Elas serão a oportunidade de vivenciar o oposto da declaração original. Para a situação “Fulano não deveria gritar comigo”, algumas inversões possíveis seriam: “Fulano deveria gritar comigo”; “Eu não deveria gritar com Fulano”; “Eu não deveria gritar comigo”. Muitas reflexões surgem daí: na minha cabeça, não paro de repetir os gritos dele? Quem está fazendo mais mal a mim mesma: Fulano, que gritou, ou eu, repetindo isso na minha mente à exaustão? Afinal, por que nos apegamos a algo que pode não ser verdade ou não significa mais nada para nós?

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Filme mostra um Japão distópico que encoraja a eutanásia dos idosos

Chie Hayakawa, diretora de “Plano 75”, diz que seu país está cada vez mais intolerante com os cidadãos frágeis: velhos, deficientes e pessoas em situação de vulnerabilidade social Um programa governamental encoraja os cidadãos a partir dos 75 anos a se submeter à eutanásia. É dessa forma que a diretora Chie Hayakawa apresenta um Japão distópico no filme “Plan 75” (“Plano 75”). “Não se trata de algo tão impossível”, afirmou em entrevista ao jornal “The Guardian”. A obra, que já foi apresentada em mostras de cinema e recebeu um prêmio no Festival de Cannes em 2022, entrou em cartaz no Reino Unido, mas não tem data de estreia no Brasil.
Cena do filme “Plano 75”, da diretora Chie Hayakawa: idosos encorajados a se submeter a eutanásia
Divulgação
O Japão tem perto de 30% da população composta por idosos e é o país que envelhece mais rapidamente no mundo. A expectativa de vida dos 126 milhões de japoneses é de 85 anos, sendo que, para as mulheres, chega a 87.7 anos (a do homens está em 81). E também vem encolhendo: a taxa de natalidade é de 1.3 filho por casal, abaixo dos 2.1 necessários para manter a população estável. Na ficção, tal cenário leva a uma crise social e econômica que o governo pretende resolver através do extermínio consentido dos velhos.
Apesar de incensado como uma nação que respeita os idosos, a realidade não tem sido tão acolhedora. Recentemente, o primeiro-ministro, Fumio Kishida, afirmou que o envelhecimento da população representa um risco para a sociedade. No filme, os “candidatos” se preocupam em ser um fardo e recebem um bônus para pequenas auto-indulgências no fim da vida, antes de serem submetidos à eutanásia.
A diretora optou por um estilo de documentário: a trama começa com a notícia de um atirador que abriu fogo contra idosos numa instituição de longa de permanência. Na sua opinião, o Japão vem se tornando um país cada vez mais intolerante com seus cidadãos mais frágeis: os velhos, os deficientes, as pessoas em situação de vulnerabilidade social. Ela diz que a “banalidade do mal”, expressão cunhada pela filósofa Hannah Arendt para descrever a política de extermínio nazista, foi uma de suas inspirações: “a burocracia se encarrega de desumanizar tudo”.
Cartaz do filme
Reprodução